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A indústria alimentar é responsável por 33% das emissões globais de gases com efeito de estufa, além de 70% do consumo de água doce e 80% da desflorestação mundial.
A conclusão é do estudo “Global Food Systems Are Under Pressure. Innovation Hubs Can Help”, desenvolvido pelo Boston Consulting Group (BCG) em parceria com o World Economic Forum, que alerta para a urgência em repensar os sistemas alimentares globais e exponenciar a adoção de soluções inovadoras.
Investimento continua aquém do necessário
Apesar do potencial transformador da inovação alimentar, apenas 8% dos investimentos em tecnologias climáticas em 2023 foi canalizado para este sector, uma descida acentuada face aos 22% registados em 2020.
A inovação alimentar atrai ainda menos 40% de financiamento em fases avançadas do que outras tecnologias climáticas, o que compromete a sua escalabilidade.
Segundo Carlos Elavai, managing director e partner do BCG em Lisboa, “o investimento em tecnologias como a agricultura regenerativa, a digitalização das cadeias de abastecimento e as proteínas alternativas pode acelerar a transformação do sector e responder às crescentes necessidades globais”.
Sistema alimentar em tensão
O estudo identifica quatro barreiras principais à inovação alimentar: elevados custos de produção, falta de enquadramento regulatório favorável, resistência dos consumidores a pagar mais por produtos sustentáveis e infraestruturas inadequadas à escala industrial.
Enquanto isso, os sistemas alimentares continuam sob pressão: 90% dos solos agrícolas pode ficar degradado até 2050, 1% das terras aráveis perde-se anualmente, uma em cada dez pessoas sofre de fome crónica e uma em cada oito é obesa, enquanto certa de um terço dos alimentos produzidos globalmente é desperdiçado.
Agricultura regenerativa e proteínas alternativas com forte potencial de redução de emissões
O relatório demonstra como soluções tecnológicas podem gerar impacto ambiental significativo: a agricultura regenerativa até 120 mil milhões de toneladas de CO₂ armazenadas até 2050, a irrigação inteligente uma redução de até 50% no uso de água e as proteínas alternativas podem evitar mais de 100 mil milhões de toneladas de CO₂ e poupar 39 mil milhões de metros cúbicas de água até 2035.
O BCG sublinha que uma transformação sistémica exige uma abordagem integrada. Ao Governo cabe criar políticas e incentivos regulatórios; ao sector privado desenvolver e financiar soluções inovadoras, às instituições financeiras investir em polos de inovação alimentar de longo prazo, aos consumidores impulsionar a procura por produtos sustentáveis e aos agricultores adotar práticas regenerativas e tecnológicas.
Neste contexto, os Food Innovation Hubs, criados pelo World Economic Forum, surgem como plataformas cruciais de cocriação e teste de soluções, com presença já em regiões como América do Sul, Ásia, Europa e África.