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Exportar à boleia do retalho

São vários os exemplos de exportação de produtos nacionais pela “mão” das principais cadeias nacionais ou internacionais de retalho organizado presentes em Portugal. Pera rocha, melancia, laranja do Algarve, massas, arroz, pastéis de nata, bacalhau, vinhos e azeite são, somente, alguns exemplos de produtos Made in Portugal que têm como destino alguns dos principais mercados europeus e mundiais, em operações regulares que já representam vários milhões de euros de riqueza gerada e muitos milhares de milhões de volumes transacionados. Um pouco do sabor português por esse mundo fora.

As exportações de bens nacional cresceram 9% no mês de fevereiro, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os mais recentes à data de fecho desta edição. A venda para países fora da União Europeia foi a que mais cresceu, à semelhança do que já se tinha verificado no mês anterior, registando uma variação de quase 30%. As exportações nacionais estão, de facto, a crescer e foram um dos fatores que levaram o Banco de Portugal a rever em alta as suas projeções de crescimento da economia portuguesa nos próximos três anos.

Para muitas empresas portuguesas, sobretudo as de pequena e média dimensão, o seu grau de internacionalização mede-se pelo facto de venderem ou não ao exterior. De acordo com um estudo da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa, quase dois terços das empresas viu a sua atividade internacional progredir nos últimos dois anos.

Contudo, apesar do país estar cada vez melhor preparado, a aventura internacional ainda é difícil e exigente em termos de recursos, financeiros e não só. Daí que muitas empresas o façam à boleia das grandes cadeias de distribuição com presença em Portugal.

Foi em 1996 que a Auchan Portugal começou a levar os produtos portugueses para outras geografias onde está presente. Espanha, França, Luxemburgo, Polónia, Roménia, Hungria e China são os mercados para onde, atualmente, são enviados os produtos portugueses, com especial destaque para o Luxemburgo e França, envolvendo um universo de mais de 500 lojas. “Assistimos, desde 2011, a um aumento constante no volume de negócios”, confirma Jaime Lemos, diretor de franchising, partenariado e exportação da Auchan Portugal. “Em 2011, exportámos um milhão e 600 mil produtos e, em 2016, chegámos a um milhão e 750 mil. Este ano, prevemos crescer acima de dois dígitos em vendas, resultante também de novas referências que pretendemos começar a exportar. Para além disso, contamos iniciar a exportação para mais alguns dos 16 países onde a Auchan está implantada”.

A Auchan Portugal exporta produtos típicos portugueses, como, por exemplo, bacalhau nas suas diversas formas de apresentação, seja seco, congelado ou transformado, conservas de peixe, azeite, massas, arroz, pastéis de bacalhau, pastéis de nata, queijos e vinhos, entre outros artigos, num total de aproximadamente 600 referências. “A categoria mais importante é a mercearia salgada, nomeadamente conservas de peixe e carne, azeite e óleo, temperos, massas, vegetais e arroz. Com um peso igualmente relevante temos os vinhos e os produtos congelados, fundamentalmente produtos de marca Auchan”, detalha Jaime Lemos.

Numa atividade onde não usufrui de qualquer incentivo fiscal, a empresa estima como “muito positivo” o seu contributo para as exportações nacionais, quer pela divulgação de Portugal no mundo, quer pelo crescimento das pequenas e médias empresas, que são os seus principais fornecedores de exportação. “A principal vantagem é a nossa capacidade de conseguirmos exportar para qualquer país Auchan e, desta forma, aumentar exponencialmente o número de países e lojas onde determinada empresa ou produto pode estar presente”, defende Jaime Lemos. Outra vantagem é a agilização do processo, tornando-o menos burocrático. “Todos beneficiam, mas principalmente o consumidor final, que comprará o produto mais barato, em comparação com um processo que inclua intermediários”.

Para poder ser considerado para exportação, em causa  tem que estar, normalmente, tem que estar um produto que tenha tido bons resultados em Portugal, seja em termos de vendas, seja de notoriedade, e que cumpra os devidos requisitos de qualidade. As embalagens têm de estar preparadas ou passíveis de ser modificadas para os mercados externos, de acordo com as várias legislações locais.

O produto português é cada vez mais valorizado lá fora. Os vários “stakeholders” – empresas, retalhistas, entidades oficiais e os próprios consumidores – têm contribuído para todo o trabalho de divulgação que tem sido feito nos mercados externos e que tem vindo a dar bons frutos. Hoje, o produto português é reconhecido pela sua qualidade e excelente posicionamento de preço.

O principal desafio, contudo, é conseguir demonstrá-lo a cada consumidor nos diferentes mercados. Daí que Jaime Lemos sustente que é fundamental acompanhar o produto e garantir que não é “mais um em prateleira”. “Na placa de vendas, devem ser desenvolvidas ações que permitam ao consumidor provar os produtos portugueses, assim como atividade promocional, que é algo que tem vindo a ser realizado, por exemplo, em França e Luxemburgo. A qualidade dos produtos faz o resto”.

Qualidade nacional
Qualidade esta que também motivou os alemães Aldi e Lidl a apostar na exportação de produtos portugueses para outros mercados. Desde 2010 que a Aldi Portugal tem incentivado junto dos seus fornecedores nacionais a exportação para outras empresas do Grupo Aldi Nord, designadamente para a Aldi Nord Bélgica, que também gere as lojas Aldi no Luxemburgo. “Nesse país, os produtos de vários fornecedores nacionais estão à venda em 13 lojas”, afirma Elke Muranyi, Manager Corporate Responsability da Aldi Portugal. Vinhos, queijos, enlatados de legumes e de pescado, enchidos, óleos, azeites e refrigerantes compõem o cabaz. “Trata-se, de um modo geral, de produtos tradicionais portugueses que são valorizados, nomeadamente, pela comunidade portuguesa residente no Luxemburgo, mas cada vez mais também pelos nossos clientes noutros países”.

Além das lojas no Luxemburgo, a Aldi Bélgica e a Aldi Espanha oferecem periodicamente produtos portugueses nas suas lojas. Neste momento, mais de 30 referências são exportadas regularmente para o Luxemburgo, enquanto para os outros países seguem no âmbito de semanas temáticas ou em alturas específicas do ano. 

Leia o desenvolvimento na edição 44 da Grande Consumo e saiba o que estão também a fazer o Lidl, o Intermarché e a Sonae MC para promover a exportação de produtos nacionais.

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