Entre janeiro e dezembro de 2020, a fileira das frutas, legumes, plantas ornamentais e flores cresceu 4,4%, em valor, face ao mesmo período de 2019, atingindo 1.683 milhões de euros, de acordo com os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Num ano particularmente difícil para a economia nacional, a fileira observou um desempenho positivo e dinâmico, em contraciclo com a generalidade dos sectores da economia nacional, que registaram quebras significativas nas suas vendas ao exterior. “Estes são números muito positivos para este que é um sector campeão da economia nacional, mais considerando o contexto de pandemia que o mundo atravessa. O investimento que tem sido feito na fileira e a aposta dos produtores em modernizar todo o sistema de produção têm possibilitado crescer e melhorar sistematicamente, ao longo dos últimos dez anos, o que faz com que a produção de origem portuguesa seja, hoje, um fornecedor de excelência, tanto para o mercado europeu como para a América e Ásia”, comenta Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, a associação para a promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal.
No seu entender, a agricultura precisa de acelerar a sua transição para o digital para fazer face ao contexto pandémico, que irá persistir globalmente ao longo de 2021, e continuar a percorrer o caminho da diversificação de mercados e de conquista de outras geografias. “Para assegurarmos competitividade futura, precisamos de continuar a garantir investimento em inovação e tecnologia em toda a cadeia de valor, que deve ser acompanhado por investimento público estratégico em infraestruturas, designadamente os respeitantes à gestão eficiente da água, um recurso imprescindível para a agricultura e que requer uma utilização racional e sustentável”.
Exportações crescem mais de 115% em valor
Os dados mais recentes do INE revelam um desempenho interessante, mesmo no decorrer da pandemia, com a fileira das frutas, legumes e flores a manter a dinâmica de crescimento que tem marcado a última década. Desde 2010, as exportações cresceram mais de 115% em valor, passando de 780 milhões para os atuais 1.683 milhões de euros. Em 2020, além do incremento em valor das exportações, o preço por quilo também teve um desempenho positivo, subindo 5,3% face ao ano anterior, não obstante um ligeiro decréscimo das exportações em volume (-0,9%), para 1.589 mil toneladas.
Em 2020, o pódio da exportação portuguesa de frutas, legumes e flores continuou a ser liderado por Espanha, que representa 32,9% do total das vendas (553 milhões de euros), seguida de França com 12,8% (216 milhões de euros) e dos Países Baixos com 10,4% (174 milhões de euros). No top 5 dos principais clientes, seguem-se Reino Unido com 9,1% (153 milhões de euros) e Alemanha com 7,1% (119 milhões de euros). Só a União Europeia pesa 78% das vendas da fileira ao exterior. Os países terceiros representam 22% das exportações (365 milhões de euros).
Este dinamismo permitiu melhorar o equilíbrio da balança comercial da fileira, que passou de 91,8%, em 2019, para 94,7%, no final de 2020.
Frutas vale metade das exportações
O segmento das frutas é aquele que assume maior relevância na fileira, representando 47% do total das exportações da fileira, em 2020 (793 milhões de euros), mais 1% que em 2019. Segue-se o segmento dos preparados de frutas e legumes, que pesa agora 28% das vendas ao exterior (467 milhões de euros), também crescendo 1% face ao ano anterior.
Já as plantas ornamentais e flores, apesar de serem o subsector mais fustigado pelos efeitos dos “lockdowns” para travar o contágio da Covid-19, conseguiram manter, em 2020, a proporção de 6% no total de exportações (107 milhões de euros).
Os legumes observaram uma performance menos positiva: pesam, agora, 19% no total das vendas da fileira ao exterior (217 milhões de euros), menos 2% do que no ano anterior.
Em termos de subsectores, os pequenos frutos (framboesas, amoras, mirtilos, morangos e groselhas) continuam a liderar as exportações, em 2020, tendo registado um valor de 246,6 milhões de euros (mais 5,5% face a 2019), seguidos do tomate processado, que acumulou vendas de 238,3 milhões (mais 19,3%), e dos citrinos, que somaram 178,7 milhões (tendo registado um crescimento muito significativo de 52,8% em relação ao ano anterior). Só as exportações de laranja subiram 72%, valendo 127 milhões de euros.
2021
Apesar de 2020, no conjunto da fileira, ser um ano crescimento em valor e, dentro do panorama geral, muito positivo, o presidente da Portugal Fresh olha com otimismo moderado para 2021. “As principais economias continuam em confinamento e as previsões de recuperação económica têm sido, consistentemente, revistas em baixa. Pelo que este novo ano terá, certamente, muitos desafios pela frente, a começar pela previsível redução do rendimento das famílias – em Portugal, mas também nos nossos mercados de destino – que, nos próximos tempos, poderá ditar a retração do consumo e, portanto, impactar nas vendas“.
Ainda assim, pela aposta que os produtores nacionais têm feito na modernização das suas culturas e na diversificação da sua oferta, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, o responsável acredita que se manterá a tendência de crescimento. “Os consumidores podem estar, por isso, tranquilos: vão continuar a ter acesso a produtos de qualidade, frescura e de elevada segurança alimentar, permitindo-lhes uma dieta saudável e equilibrada. Assim, estaremos mais próximos de cumprir aquela que é a nossa meta para 2030: atingir 2,5 mil milhões de euros em exportações. A próxima década será, certamente ,desafiante, mas temos a resiliência e visão necessárias para manter o rumo do crescimento”, conclui.