Quando a pandemia “bateu à porta”, em 2020, paralisando o mercado dos eventos e as ativações de marcas, a faturação desta jovem empresa caiu de forma significativa, ao ponto de colocar em causa o seu próprio futuro. Mãos-à-obra na reinvenção do conceito, porque parar não era uma alternativa, foi-se buscar ao negócio anterior a perceção de que existia uma oportunidade a explorar na oferta de soluções associadas a estilos de vida saudáveis, ao torná-las deliciosas e, simultaneamente, acessíveis em termos de preço. Assim nascia a marca Swee, abraçando o desafio de criar um grande gelado sem utilizar os ingredientes que, normalmente, fazem de um gelado, efetivamente, um grande gelado, pelo seu posicionamento vegan. Orgulhosa do seu ADN nacional, a Swee está, hoje, presente em cerca de 300 pontos de venda de norte a sul do país, como o El Corte Inglés, Meu Super e Intermarché, e também nas plataformas digitais, como o Uber Eats, onde faz já parte do top na categoria de Sobremesas e Gelados. Para 2022, a ambição de Diogo Valente e de Tiago Rebelo, fundadores da Swee, é conveniência, atingindo os mil pontos de venda e continuando a construir uma marca assente em valores que façam sentido para a comunidade.
Grande Consumo – Como nasceu a Swee? Qual é a história por detrás desta marca e porquê o foco no vegan?
Diogo Valente – O nosso primeiro projeto foi no ramo dos eventos, ações de promoção e de ativação de marcas focadas no estilo de vida saudável. O nosso foco sempre foi o bem-estar e a maior aposta da empresa era a realização do Healthy Market Cascais, um mercado focado no desporto, alimentação saudável e saúde. Uma das temáticas que explorámos na edição de 2019 foi o veganismo, disponibilizando um Veggie Corner aos consumidores e foi, sem margem de dúvida, um sucesso inesperado.
Acontece que, no ano de 2020, já com o calendário cheio de iniciativas e ações, veio a pandemia e vimos uma quebra de faturação significativa, que colocou o futuro da empresa em causa.
Como jovens empreendedores que somos, decidimos que ficar parados não era uma solução e que tínhamos de nos reinventar e dar a volta à situação. Tivemos em conta muita da nossa experiência com os eventos, ações e iniciativas e percebemos que havia uma grande oportunidade na exploração do segmento do estilo de vida saudável, com reduções de gorduras e calorias, mas, ao mesmo tempo, torná-lo acessível aos consumidores em termos de preço. A somar a isso, devido ao grande impacto que o Veggie Corner do Healthy Market Cascais teve, tivemos a noção que o mercado português estava pronto e que precisava deste tipo de soluções e decidimos aventurar-nos na categoria que, inequivocamente, toda a gente gosta: os gelados.
GC – Quanto tempo demoraram a preparar este projeto? Quais foram os principais desafios que tiveram que superar?
Tiago Rebelo – Começámos a trabalhar no projeto no verão de 2020, precisamente, 12 meses antes do lançamento da marca. A inovação que conseguimos alcançar foi, sem dúvida, o maior desafio, manter o sabor, textura e cremosidade do produto, enquanto reduzimos substancialmente a quantidade de açúcar e gordura presentes.
A somar a isto, tivemos, ainda, momentos desafiantes em montar uma cadeia de abastecimento coesa e robusta, que nos permitisse obter os níveis de serviço e de satisfação muito positivos que temos recolhido por parte dos nossos clientes.
GC – A Swee foi lançada em junho de 2021, com um mercado ainda a recuperar para níveis pré-pandémicos. Este contexto afetou os planos de expansão da marca?
DV – Claro. Estamos satisfeitos com os resultados que temos tido, mas sabemos que uma das formas mais eficazes de conquistar os consumidores é através de ativações de degustação, quer no ponto de venda, como em eventos. Infelizmente, a situação pandémica não possibilitou que adotássemos uma estratégia assente neste pilar.
Para além disso, o formato de teletrabalho fez com que alguns processos fossem mais demorados, o que também atrasou, em parte, a nossa expansão.
No entanto, estamos otimistas em relação ao futuro e aguardamos pela retoma para acelerarmos o nosso crescimento.
GC – Como tem sido a recetividade do consumidor português, tendo em conta que o segmento “free from” ainda está em crescimento no país?
TR – Temos sentido o consumidor bastante curioso e intrigado positivamente com a nossa proposta de valor. O tópico do bem-estar tem sido central e isso reflete-se nos carrinhos de compras, onde já é comum encontrarem-se opções mais saudáveis. As próprias cadeias já estão cientes desta recetividade e têm experienciado uma transformação dos lineares, sendo já comum encontrar-se alternativas que promovem o bem-estar e uma alimentação mais equilibrada.
“A Swee orgulha-se de ter um ADN nacional em todas as suas vertentes. Acreditamos bastante na qualificação dos portugueses e a mesma tem-se verificado no decorrer dos meses. Desde os parceiros de logística e produção aos fornecedores de ingredientes, sempre demos preferência ao que é nacional”
GC – Como é o processo e, em geral, o que está envolvido em fazer-se gelados vegan com grandes reduções de açúcar e gordura?
DV – O grande desafio foi criar um grande gelado sem utilizar os ingredientes que fazem de um gelado um grande gelado. O facto de termos um posicionamento vegan fez com que tivéssemos que procurar alternativas que se comportassem de forma semelhante ao leite, às natas e aos ovos, assim como a componente do saudável, onde tivemos que não só identificar substitutos do açúcar para manter a doçura, mas também ter um foco na origem dos ingredientes que utilizámos para a formulação da receita.
Todavia, a nossa abordagem é a da constante melhoria e isso faz com que a formulação dos nossos produtos nunca esteja acabada. Estamos constantemente a trabalhar formas de melhorar, quer seja a nível da experiência de degustação, valores nutricionais, entre outros.
GC – A Swee utiliza ingredientes de origem local? Como são selecionados os ingredientes a serem incluídos e os fornecedores com que trabalham?
TR – A Swee orgulha-se de ter um ADN nacional em todas as suas vertentes. Acreditamos bastante na qualificação dos portugueses e a mesma tem-se verificado no decorrer dos meses. Desde os parceiros de logística e produção aos fornecedores de ingredientes, sempre demos preferência ao que é nacional. Por exemplo, a bebida de aveia, que é o ingrediente principal do nosso gelado, é 100% nacional.
GC – Têm algum novo lançamento planeado para este ano?
DV – Este ano, vamos complementar a nossa gama com dois novos sabores de gelado. Vamos lançar uma referência de fruta e uma de baunilha, mas sempre com o carácter de indulgência a que temos habituado os nossos consumidores. Procuramos inovar também nos sabores e oferecer combinações únicas.
Para além disto, iremos ainda lançar o nosso pastel de nata vegan sem açúcar: inovação e tradição numa única referência.
GC – Onde é que se pode encontrar a marca Swee em Portugal? Está disponível em lojas físicas e no online?
TR – Atualmente, a Swee está em presente em cerca de 300 pontos de venda, de norte a sul do país. Estamos em cadeias familiares dos consumidores, como o El Corte Inglés, Meu Super e Intermarché, até às plataformas digitais, como o Uber Eats, Getir e Bairro.
GC – A Swee já está no top do Uber Eats na categoria Gelados e Sobremesas. Em quantas cidades já vendem no total? Como tem evoluído a marca e qual é a sua estratégia para o mercado nacional?
DV – A nossa aposta, que se revelou vencedora, no Uber Eats começou para que pudéssemos criar um canal direto com o consumidor. Tem-se revelado bastante útil para recolher feedback através das avaliações e monitorar métricas, como a taxa de repetição ou os momentos de consumo.
Mais concretamente, fez-nos perceber, à partida, três coisas: o nosso gelado é um gelado de segunda a quinta-feira. O nosso consumidor opta pela Swee durante a semana como uma opção indulgente, que encaixa perfeitamente nas suas dietas, e o pico de vendas é claramente à noite, entre as 21 horas e a meia-noite. Acreditamos que somos o “sweet craving” que faz companhia às novelas, séries e filmes preferidos e que a nossa aposta em posicionar o produto desta forma tem vindo, também, a atenuar bastante a sazonalidade. Os nossos consumidores não olham para nós como um gelado, mas, sim, como uma sobremesa/snack e isto faz com que o facto de estar frio fora de casa não seja um impeditivo a pegar numa manta e comer um gelado no quentinho com companhia.
Atualmente, já temos lojas neste canal em Lisboa (Estoril, Carcavelos, Oeiras, Marquês), assim como Porto e Vila Nova de Gaia, e pretendemos chegar a cidades como Coimbra, Braga e Viseu, ainda este ano.
Este ano, a estratégia da Swee passa por tornar o produto conveniente. Estamos muito focados na capilaridade e em criar parcerias fortes, não só com cadeias de retalho e nas soluções digitais, mas também com distribuidores, para que possamos aproximar-nos do nosso objetivo.
GC – O que significou para a Swee vencer a quarta edição do From Start-to-Table?
TR – Foi o primeiro e único programa de startups em que participámos até à data e éramos os mais novos. O From Start-to-Table premeia a inovação no segmento de F&B, assim como o progresso que cada startup teve durante o mesmo. Para nós, foi uma experiência muito interessante, porque permitiu-nos identificar uma série de processos e pressupostos que tínhamos e melhorá-los, através de todo o conteúdo e rede de mentores que nos foram disponibilizados. Começámos o programa à venda em 50 pontos de venda e terminámos com 180. Ficámos muito orgulhosos de ter sido os vencedores, porque, nesta edição, sentimos que havia projetos com muito potencial e empreendedores muito capazes de materializar as suas ideias.
GC – Há intenção de levar esta marca portuguesa para o mercado externo?
DV – Temos planos para internacionalizar a marca e já estabelecemos alguns contactos, mas cada coisa a seu tempo. Neste momento, estamos focados no mercado nacional. O nosso segmento é muito competitivo, mas demonstra ter um grande potencial. Acreditamos que ainda há muito trabalho para desenvolver em Portugal e temos focado as nossas energias em estabelecer a marca Swee enquanto uma marca 100% nacional, que procura disromper o mercado com soluções inovadoras e ajustadas às necessidades dos nossos consumidores.
GC – Quais sãos os objetivos quantitativos e qualitativos da Swee para 2022?
TR – Para 2022, o grande objetivo quantitativo é garantir conveniência. Estamos, atualmente, em 300 pontos de venda e queremos atingir os mil. Para além disso, queremos estender a nossa gama de dois para quatro sabores.
Do ponto de vista qualitativo, e isto é algo que é central na Swee, e trabalhamos diariamente nesse sentido, queremos continuar a melhorar a nossa fórmula, quer ao nível do sabor, quer na escolha dos ingredientes e informações nutricionais que conseguimos alcançar.
GC – Que previsões fazem para os próximos anos, tanto a respeito da marca como do universo de gelados saudáveis? É uma categoria em crescimento?
DV – Em relação aos gelados, temos sido habituados na categoria dos gelados saudáveis a ver soluções “Rico em Proteína” ou “Baixo em calorias”.
A nossa abordagem é diferente e torna a Swee única no segmento: combinamos o saudável e o vegan num único produto, dentro do saudável posicionamo-nos enquanto um gelado baixo em açúcares, mas também pela relação que estamos a criar com os nossos “sweaters”. Somos uma marca muito próxima dos portugueses e tratamos os nossos consumidores por tu. Incentivamos a que partilhem connosco o seu feedback, selecionamos seguidores para fazer “focus groups” de novas fórmulas e até são eles que escolhem os nossos novos sabores. Acreditamos que as pessoas sentem isso e temos notado já uma fidelização à marca muito interessante para uma startup, ainda por cima numa categoria tão competitiva como a nossa.
Queremos, acima de tudo, construir uma marca assente em valores que façam sentido para a comunidade: o saudável para nós, para o ambiente e para os animais, o ser próximo de todos e fazer um bocadinho parte de todos e o de ser um exemplo de empreendedorismo jovem nacional (é possível “sweater”). Acreditamos que a aposta que temos feito tem-se revelado vencedora pelo crescimento acelerado que temos experienciado.
O bem-estar e uma alimentação equilibrada são, cada vez mais, uma preocupação do consumidor e antecipamos, para os próximos anos, que este tipo de soluções ganhe expressão no linear e a Swee pretende estar na vanguarda na inovação do segmento.