O sector do retalho e distribuição quer continuar a dar passos para reduzir, ainda mais, o desperdício gerado nas suas operações e influenciar positivamente fornecedores e consumidores para a adoção de boas práticas.
Para isso, a APED e os seus associados apelam aos decisores nacionais para a necessidade de eliminar obstáculos à doação de alimentos, nomeadamente no seu enquadramento fiscal, no processo de recolha e nos procedimentos administrativos que lhe estão associados.
Num documento intitulado “Contributo da Distribuição no Combate ao Desperdício Alimentar: Boas Práticas, Desafios e Oportunidades”, a APED apresenta um enquadramento da realidade do desperdício alimentar a nível global, elenca as ações desenvolvidas pelo sector para mitigar este flagelo e apresenta propostas de alteração legislativa que podem contribuir, ainda mais, para reduzir a perda de alimentos e fazer chegar os excedentes a quem mais precisa.
Simplificação de processos
A APED considera ser necessário simplificar processos, flexibilizar restrições fiscais, fornecer orientações claras sobre a elegibilidade dos produtos alimentares e promover a capacitação das entidades recetoras. A promoção de medidas direcionadas para a eficiência na recolha dos excedentes alimentares, tais como a colaboração com entidades intermediárias para maximizar as doações outras, é outra das propostas apresentadas.
A APED considera ainda que existem algumas oportunidades para melhorar a eficácia do processo de doação de excedentes alimentares.
As doações são limitadas a instituições e entidades públicas que cumpram um conjunto de requisitos de natureza fiscal. O facto de apenas as IPSS, o Estado e as ONG sem fins lucrativos serem passíveis de isenção de IVA acaba por penalizar as empresas do ponto de vista fiscal. A revisão dos limites associados ao volume de vendas anual das empresas para a majoração em sede de IRC dos custos com donativos prevista no Regime do Mecenato é outra das propostas feitas neste documento.
Transporte dos produtos
A falta de meios e equipamentos necessários ao acondicionamento e transporte dos produtos, bem como a escassez de voluntários, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, é outra dificuldade vivida pelas instituições assinalada pela APED. Entre as propostas de solução para esta realidade estão a concessão de apoios do Estado ou das autarquias para o financiamento de equipamentos ou infraestruturas e a construção de um sistema de vantagens fiscais para voluntários e para empresas/organizações que queiram fazer as recolhas e a sua redistribuição pelas instituições beneficiárias.
Outro dos obstáculos salientados diz respeito à complexidade e pouca celeridade dos processos administrativos envolvidos nas ações de doação, incluindo a documentação e o controlo da rastreabilidade, que acabam por criar constrangimentos na disponibilidade dos produtos a serem doados.
Diariamente as empresas associadas da APED do sector alimentar colocam em prática ações que visam a prevenção e redução do desperdício alimentar, através da eficiência da logística, a formação dos colaboradores e a sensibilização do consumidor, nomeadamente através de mensagens, etiquetas ou “selos” que ajudam a interpretar e distinguir as diferentes indicações de durabilidade dos produtos, bem como conselhos para otimizar o consumo e reaproveitar alimentos e evitar desperdícios em suas casas.
Doações a instituições sociais
A doação diária de excedentes alimentares a instituições sociais, que apoiam a população mais carenciada, é outra das faces visíveis do compromisso da distribuição com a redução do desperdício alimentar. Em 2023, os associados da APED da distribuição alimentar contribuíram com a doação de mais de 24 mil toneladas de produtos alimentares de diferentes categorias. E
De acordo com estimativas, em 2023 evitou-se o desperdício de mais de 26 mil toneladas de produtos alimentares que estavam prestes a atingir a data de validade, através de um circuito para facilitar o seu consumo em condições de segurança alimentar (por exemplo, através da identificação com etiqueta específica e depreciação do preço). Este valor corresponde a um total de 2.676 lojas abrangidas com esta medida.
“O combate ao desperdício alimentar exige uma resposta concertada e articulada entre todos os elos da cadeia de abastecimento alimentar e um trabalho de sensibilização junto do consumidor. À semelhança de outros desígnios que tem assumido no âmbito da sustentabilidade, a APED e os seus associados querem continuar a dar passos firmes para acelerar, ainda mais, o seu contributo para a reduzir o desperdício e a partilha de boas práticas com fornecedores e consumidores. Cabe necessariamente aos decisores e reguladores participarem também nesta ação colaborativa, agilizando processos, metodologias e regulamentação, garantindo sempre a qualidade e segurança dos alimentos doados”, afirma Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da APED.
Ler corretamente os prazos de validade
“Saber a diferença faz a diferença” é o mote da campanha dinamizada pela APED, que tem como objetivo ajudar o consumidor a interpretar corretamente as indicações dos prazos de validade dos produtos alimentares.
Com o apoio institucional da Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar e com o apoio do Movimento Unidos Contra o Desperdício, o qual a APED integra enquanto membro fundador, a campanha aposta num tom informativo e pedagógico e explica como distinguir os diferentes prazos de validade, rentabilizando o consumo dos alimentos e evitando, assim, o seu desperdício.
Através do seu site e redes sociais, a APED esclarece as diferenças entre as indicações “consumir até”, “consumir de preferência antes de” e “consumir de preferência antes do fim de”, reunindo também um conjunto de dicas e recomendações de conservação e consumo.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que cerca de um terço dos alimentos produzidos a nível mundial é perdido ou desperdiçado nalguma fase da cadeia de abastecimento. Estudos europeus mostram ainda que o consumidor doméstico é responsável por 42% do desperdício alimentar global, sendo o desconhecimento do significado das datas de validade um dos principais fatores que contribuem para esta estatística.