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O cenário de consolidação no retalho alimentar europeu voltou a ganhar força com uma possível aquisição do Casino France por parte do Carrefour.
A hipótese é avançada pela publicação especializada LSA, que refere que o grupo liderado por Alexandre Bompard poderá estar a preparar um movimento estratégico para inverter a sua trajetória bolsista e reforçar a posição no mercado francês.
De alvo a predador
Em anos recentes, o Carrefour foi alvo do interesse de várias empresas internacionais, entre as quais a canadiana Couche-Tard e, mais recentemente, a holandesa Ahold Delhaize. Nenhuma dessas tentativas se concretizou.
Agora, segundo a LSA, todas as atenções recaem sobre um possível “casamento” entre o Carrefour e o Casino. A empresa de Saint-Étienne — atualmente controlada por Daniel Kretinsky — está em plena reestruturação e enfrenta dificuldades financeiras, nomeadamente o vencimento de parte significativa da sua dívida já em setembro.
Fontes consultadas indicam que uma eventual aquisição poderia passar pela troca de ações, o que permitiria a Daniel Kretinsky tornar-se um acionista relevante do Carrefour.
Tentativas anteriores reforçam urgência
Em 2023, durante o processo de liquidação de ativos do Casino, o Carrefour apresentou uma proposta formal para adquirir a operação de proximidade. Essa abordagem não teve sucesso, mas os analistas acreditam que a urgência atual do Casino poderá criar um contexto mais favorável.
O fracasso de fusões anteriores é também visível na tentativa da Ahold Delhaize, que no final de 2024 tentou adquirir o Carrefour. A operação foi abandonada em janeiro de 2025, depois de vários encontros entre Frans Muller, CEO da Ahold, e Alexandre Bompard, travada pela interferência política do governo francês, que considera o Carrefour um ativo estratégico e bloqueia qualquer aquisição estrangeira.
Estratégia de valorização
Face à pressão financeira e à queda de mais de 25% da sua capitalização bolsista desde 2017, o Carrefour tem vindo a adotar uma estratégia dual: por um lado. O reforço de ativos estratégicos, como a recompra de ações da Atacadão (Brasil) e o aumento de 20% no investimento em França, focado na proximidade e na cadeia logística; por outro, o desinvestimento em mercados considerados periféricos, como Itália, Bélgica, Roménia e Polónia.
Segundo fontes do grupo, o objetivo continua a ser “elevar o valor da companhia a longo prazo”, sendo as fusões e aquisições uma das vias possíveis.
A possível aquisição do Casino poderá representar uma viragem de posicionamento do Carrefour, de empresa vulnerável para agente ativo no xadrez europeu do retalho. Com os ativos do Casino em desvalorização e a necessidade de liquidez iminente, os analistas veem neste momento uma janela rara de oportunidade para o grupo francês consolidar território e enfrentar o futuro com maior escala e margem de manobra.
Se avançar, a integração entre Carrefour e Casino poderá criar um gigante com presença dominante em quase todos os formatos — desde hipermercados a lojas de bairro — e com elevada capilaridade geográfica. A dúvida que permanece é se o governo francês, que tanto se opôs a compras externas, acolherá com o mesmo rigor uma operação de consolidação interna ou se facilitará o caminho para evitar um enfraquecimento estrutural do sector.