Relações entre empresas são relações entre pessoas

Lídia Tarré, administradora Gelpeixe
Lídia Tarré, administradora Gelpeixe

Falar de networking é falar de colaboração, de cooperação, de comunidade de redes de apoio, de parcerias, de sinergias, de desenvolvimento conjunto e de entreajuda. Ou seja, é a criação de ecossistemas de liderança que promovem o crescimento da pessoa, tanto ao nível pessoal como profissional, como o das nossas empresas, pela partilha de boas práticas de gestão, pela possibilidade que nos dá de ver mais além da nossa própria realidade e pelas oportunidades que se criam em conjunto.

Falar de networking é promover uma visão alargada de outras realidades através de visitas a empresas, de troca de experiências, de partilha de ideias, de momentos de reflexão, mas também de capacitação e de formação, que nos dão mais confiança e nos permitem, em conjunto, chegar mais longe. É a criação de um espaço e um tempo para ganharmos perspetiva, renovarmos energias, motivação e inspiração. É também quando passamos do “eu” para o “nós”.

Falar de networking é também falar de diversidade de atividades, de sectores, de geografias, de nacionalidades, de negócios, de produtos, de gestão, de visão, de dimensão, de caminhos…, mas sempre com eixos muito comuns: a responsabilidade, o compromisso e a paixão que cada um coloca no que faz.

 

Ecossistemas

A primeira vez que ganhei maior consciência sobre a relevância destes ecossistemas, que são mais “formas de ser” do que “formas de trabalhar”, foi em 2015, quando, uma vez mais, voltei “à escola” e frequentei o GAIN, o primeiro de três programas que fiz na AESE. Na altura, já com praticamente 10 anos de Gelpeixe e a entrar para o Conselho de Administração, 15 anos de mercado de trabalho e mais de 25 a testemunhar a dedicação do meu pai a associações do nosso sector e não só. Havia trabalho a fazer e uma nova fase da minha carreira, caminho ou viagem a começar, paralelamente ao que me tinha levado até ela… Hoje, sou membro da direção da Associação de Empresas Familiares (AEF) e membro da comissão dinamizadora da Rede Mulher Líder, entre outras redes em que participo.

Em Portugal, mais de 70% das empresas são familiares e estas representam mais de 50% do emprego e mais de 65% do PIB português. Desta forma, a AEF, com mais de 20 anos e mais de 300 associados, tem um papel único para famílias empresárias como centro de competências, de networking e de suporte. Ainda dentro da AEF, constituímos um grupo de jovens, hoje já com uma juventude dos 40 (em média) mais experiente, a que chamamos NiL “next in line”, hoje já mais “on the line”, mas com pais e/ou mães ainda ativos na gestão das empresas. Um grupo de crescimento, de transformação e de muita união. Um grupo para a vida.

 

Rede Mulher Líder

Já a Rede Mulher Líder, promovida pelo IAPMEI, teve o seu “kick-off” no dia 14 de março de 2016, quando seis empresárias se juntaram em Lisboa à volta da mesma mesa com a Rita Seabra, do IAPMEI, depois no Porto, e, mais tarde, a união das duas. Esta rede promove um dos valores mais relevantes para mim, a diversidade. Neste caso, a diversidade de género na gestão das empresas. Volvidos cinco anos, somos mais de 150 empresárias e promovemos workshops quinzenais, que durante o primeiro confinamento chegaram a ser semanais, tantos eram os desafios que enfrentávamos e a resiliência que precisávamos.

Quando a tendência é ficarmos mais longe, estas redes aproximam. Quando a tendência é ficarmos mais frágeis, estas redes fortalecem. 

Durante “estes tempos”, guardo com especial atenção o Zoom do dia 20 de março de 2020, na nossa primeira semana do primeiro confinamento, quando o grupo IPLC juntou industriais europeus, principalmente do sector alimentar, para partilha de experiências com quem já estava na “crise pandémica” há mais tempo, com especial atenção para o caso italiano. Foi das chamadas mais emocionantes que tive até hoje. Havia uma missão a cumprir: garantir alimento às pessoas em cada país.

 

Associação Duarte Tarré

E porque a vida é cheia de missões, falar de cooperação também é falar da Associação Duarte Tarré, uma associação muito especial, do nosso sangue, cheia de sentido e de propósito, constituída no seio da nossa família quando o meu irmão Duarte falece, com 20 anos, em 2011. A necessidade de o mantermos vivo é honrar a essência da sua vida com a atribuição de bolsas a estudantes universitários com muito potencial, mas com reduzida capacidade financeira. Para além das bolsas, cada bolseiro tem uma madrinha ou padrinho que o apoia a todos os níveis, quer pessoal quer profissional. Até hoje, já atribuímos 277 bolsas a 149 alunos. Temos um imenso orgulho por esta iniciativa de impacto fundamental na sociedade.

Por isso, podemos chamar o que quisermos a esta “forma de vida”, mas, muito mais que relações entre empresas, são relações entre pessoas.

 

Este artigo foi publicado na edição N.º 68 da revista Grande Consumo.

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