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Alterações climáticas ameaçam produção de alimentos essenciais até 2100

FAO alerta para o risco crescente na viabilidade de culturas como o trigo, o café, o feijão, a mandioca e a banana-da-terra

Foto Shutterstock

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A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou um novo alerta sobre o impacto crescente das alterações climáticas na agricultura mundial.

Um estudo recente revela que, até ao final do século XXI, cinco das culturas alimentares mais críticas para a segurança alimentar global — trigo, café, feijão, mandioca e banana-da-terra (ou banana-pão) — poderão perder até metade das suas zonas atualmente consideradas ideais para cultivo.

 

Culturas em risco à escala global

Segundo o estudo, as perdas de zonas de cultivo não se restringem a regiões isoladas. A produção de trigo poderá regredir significativamente na América do Norte, Europa e Ásia Central, enquanto o café enfrenta uma forte redução na América Latina e África Oriental, zonas tradicionalmente associadas ao produto.

Já as leguminosas como o feijão poderão sofrer um forte revés nas áreas tropicais e subtropicais. A mandioca, alimento base em vários países da América do Sul e de África, e a banana-da-terra, essencial em muitas dietas africanas e latino-americanas, também estão entre as culturas que poderão ser severamente afetadas.

O relatório baseia-se em dados gerados pela atualização da ferramenta ABC-Map (Agro-climatic Biophysical Indicators Map) da FAO, que recorre a imagens de satélite e projeções climáticas fornecidas pelo Google Earth Engine. Esta plataforma integra dados históricos e cenários futuros de temperatura e precipitação, permitindo avaliar a adequação futura do solo a mais de 30 culturas.

A análise considera dois cenários principais: um com emissões moderadas e outro com emissões elevadas. Mesmo no cenário mais otimista, estima-se uma perda significativa de zonas ótimas de produção. No cenário mais grave, regiões atualmente produtivas poderão tornar-se totalmente inviáveis para estas culturas até 2100.

 

Agricultura em adaptação

Para a FAO, estes dados são um claro sinal de alerta para governos, agricultores, organizações multilaterais e sector financeiro. Segundo Martial Bernoux, oficial sénior de recursos naturais da FAO, “as alterações climáticas já estão a remodelar silenciosamente os padrões de produção agrícola. Os investimentos que hoje parecem sólidos podem tornar-se insustentáveis em poucas décadas”.

A recomendação passa por reavaliar os projetos agrícolas atuais e futuros, promovendo a diversificação de culturas, uso eficiente da água, adoção de sementes resilientes ao clima e estratégias de mitigação de risco, tanto a nível local como global.

A ferramenta ABC-Map será expandida ainda este ano com dois indicadores adicionais cruciais: stresse térmico em animais de produção e necessidades hídricas por cultura agrícola. Com isso, agricultores e governos poderão antecipar de forma mais precisa a viabilidade da produção e a necessidade de investimentos em irrigação, armazenamento ou realocação geográfica das culturas.

Num mundo com uma população a crescer e recursos naturais sob pressão, o relatório da FAO sublinha que a resiliência dos sistemas alimentares é hoje uma prioridade estratégica para o planeta. Perante as alterações climáticas, adaptar o modo como produzimos e consumimos é não só uma necessidade económica, mas também uma obrigação moral com as gerações futuras.

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Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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