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Mais de seis décadas após a célebre cisão entre os irmãos Karl e Theo Albrecht, as duas metades do império Aldi poderão finalmente voltar a unir-se.
Segundo informações avançadas pelo Handelsblatt e vários outros meios económicos alemães, as famílias Albrecht (Aldi Nord) e Heister (Aldi Süd) estão a estudar a criação de uma holding comum.
Um corte marcado por divergências estratégicas
A separação original remonta a 1961, motivada por uma disputa aparentemente banal: a venda de cigarros. Karl e Theo Albrecht — fundadores do Aldi — não chegaram a acordo e dividiram o negócio em duas entidades autónomas. O Aldi Nord ficou sob gestão de Theo Albrecht e expandiu-se para o norte da Alemanha, Benelux, França, Polónia e Península Ibérica. Já o Aldi Süd, liderado por Karl Albrecht, desenvolveu-se no sul da Alemanha e em mercados como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.
Ambos mantiveram até hoje operações separadas, marcas distintas em alguns mercados e estruturas jurídicas completamente independentes, embora sob uma imagem partilhada: o “A” minimalista de Aldi.
O que está em cima da mesa?
Segundo fontes próximas do processo citadas pelo Handelsblatt, as conversações entre as famílias envolvem a criação de uma nova estrutura de topo que agregue ambas as entidades, respeitando a paridade na distribuição de poder e representatividade. A proposta inclui a constituição de uma holding partilhada, sem impacto imediato nas subsidiárias; a integração progressiva de funções operacionais, a começar pela área de tecnologias da informação e desenvolvimento de software, para aproveitar sinergias; e a possível unificação de estratégias internacionais a médio prazo, mantendo alguma autonomia operacional no início.
A operação ainda está numa fase exploratória e uma fusão formal até ao final de 2025 é considerada pouco provável. No entanto, o simples facto de estarem em curso conversações deste nível já representa uma mudança histórica no seio do grupo Aldi.
Tentativas anteriores
Esta não é a primeira vez que se fala de reaproximação entre Nord e Süd. Contudo, os sinais nunca tinham sido tão concretos. O contexto competitivo ajuda a explicar esta mudança de postura: a pressão da concorrência (nomeadamente do Lidl), os investimentos colossais em digitalização e logística e a necessidade de reforçar a presença global do Aldi como um grupo coeso são fatores decisivos.
Recorde-se que a Ahold Delhaize terá mesmo tentado adquirir o Aldi Süd recentemente, numa operação abortada devido à resistência política e dos acionistas familiares. Essa abordagem poderá ter funcionado como catalisador para acelerar a procura de soluções internas.
Obstáculos à vista
Apesar das aparentes vantagens estratégicas, há desafios substanciais pela frente, nomeadamente, as culturas empresariais distintas. Após mais de 60 anos de separação, os estilos de gestão, estruturas operacionais e até o posicionamento em certos mercados são bastante diferentes.
Outro obstáculo é a possível resistência regulatória, sobretudo em mercados onde ambos coexistem, como Alemanha ou Dinamarca.
Há ainda questões legais ligadas às fundações familiares que detêm as participações nas duas entidades.