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Seis tendências estão a redefinir o futuro das bebidas alcoólicas

Premiumização seletiva, moderação, tecnologia e novas formas de consumo moldam o mercado global

Foto Shutterstock

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Após um ano desafiante para a indústria mundial das bebidas alcoólicas em 2024, em que os volumes globais recuaram 1% e o valor cresceu apenas 1%, o “IWSR Global Trends Report 2025” identifica seis grandes forças que estão a remodelar o sector: da premiumização seletiva às novas dinâmicas sociais, passando pelo impacto da tecnologia, pela moderação e pelos desafios geopolíticos.

A tendência global de premiumização mantém-se, mas de forma mais fragmentada e seletiva. O crescimento concentra-se em regiões específicas, como a América do Sul, a Ásia e o Médio Oriente, e em ocasiões de consumo mais valorizadas.

Em 2024, os volumes das categorias premium e superiores (excluindo espirituosas nacionais) aumentaram 3%, impulsionados sobretudo pela cerveja. “Os consumidores estão a beber menos, mas melhor, orientados por valores pessoais e relevância da ocasião, mais do que por estatuto”, explica Emily Neill, COO de investigação da IWSR.

A cultura dos cocktails e RTD (ready to drink) é um reflexo claro dessa tendência: prevê-se que os volumes globais de cocktails prontos a beber dupliquem entre 2019 e 2029, com a América do Norte a liderar o crescimento (+400%).

 

Novos estilos de vida e consumo mais racional

A desaceleração dos grandes mercados, como os Estados Unidos e a China, está a gerar um consumidor mais racional e experimental, que procura valor, personalização e experiências imersivas.

O consumo doméstico e digital está a ganhar terreno às formas tradicionais de socialização, enquanto o turismo de experiência regressa em força: as vendas no canal de travel retail aumentaram 3% em 2024, com enfoque em produtos de valor e autenticidade.

“As marcas devem criar propostas de valor acessíveis e experiências imersivas, combinando autenticidade com entretenimento digital”, recomenda Emily Neill.

 

O papel crescente da tecnologia e do e-commerce

As vendas online de bebidas alcoólicas cresceram 2% em valor em 2024, com destaque para o desempenho dos espirituosos, cerveja e RTD.

A região da Ásia-Pacífico destacou-se como motor de expansão, com um aumento de 4%, beneficiando da digitalização e da procura por conveniência.

O e-commerce permite às marcas contornar barreiras de distribuição e estabelecer ligações diretas com o consumidor. A influência de celebridades e criadores digitais continua forte, mas tende agora para mensagens de moderação e estilo de vida saudável, abrindo caminho para novas oportunidades nas categorias de baixo teor alcoólico e sem álcool.

 

Social drinking ganha novas formas e espaços

Num contexto económico desafiante, o preço e a experiência tornaram-se fatores decisivos. Os consumidores estão a transferir ocasiões tradicionais de consumo fora de casa para o lar, onde controlam melhor os custos.

Entre 2019 e 2024, os volumes de consumo on-trade (bares e restaurantes) caíram em todas as regiões, com exceção de África e Médio Oriente (+4%).

A tendência do aperitivo e o crescimento dos cocktails de baixa graduação alcoólica estão a redefinir o consumo social. Em paralelo, surgem os chamados “terceiros espaços” — bares domésticos e zonas privadas de convívio —, que conjugam a informalidade com experiências personalizadas.

 

Saúde, ética e sustentabilidade influenciam escolhas

As razões para moderar o consumo de álcool estão a diversificar-se. O fenómeno do zebra striping — alternar entre bebidas alcoólicas e zero-álcool — está a consolidar-se, apoiado pela oferta crescente de produtos no e low alcohol, cujos volumes subiram 9% em 2024.

A cerveja mantém-se dominante neste segmento, mas as espirituosas e vinhos sem álcool estão a ganhar expressão.

O orgulho nacional e a proximidade ao território também moldam preferências: na Índia, por exemplo, os single malts nacionais já superam as vendas de scotch.

Apesar das restrições orçamentais, a sustentabilidade continua a ser um sinal de qualidade, sobretudo entre os consumidores Millennials e Gen Z.

 

Pressões externas e incerteza geopolítica

A indústria enfrenta um cenário global de instabilidade política e económica, com cadeias de abastecimento frágeis, tensões comerciais e novos enquadramentos regulatórios. Apesar da desaceleração da inflação, os consumidores continuam a canalizar o orçamento para bens essenciais, como alimentação e cuidados pessoais, em detrimento do álcool.

A IWSR alerta ainda para a necessidade de planos de contingência e diversificação de mercados, tendo em conta o impacto desigual dos acordos comerciais e tarifas. Enquanto o scotch beneficia do novo acordo de livre comércio entre o Reino Unido e a Índia, enfrenta barreiras elevadas nos Estados Unidos.

“Num ambiente global de incerteza, as marcas devem reforçar a agilidade e acompanhar as mudanças nas políticas públicas e na perceção da saúde”, conclui Emily Neill.

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Por Carina Rodrigues

Responsável pela redacção da revista e site Grande Consumo.

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