A inflação, a escassez de mão-de-obra e as disrupções na cadeia de abastecimento continuam a ser fatores determinantes nas operações e estratégias das empresas de bens de grande consumo (FMCG) na Europa.
Segundo o estudo “Europe’s Consumer Goods Industry Barometer 2023”, promovido pela European Brands Association (AIM) com o contributo da Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, 88% das empresas inquiridas enfrentou desafios de abastecimento, fornecimento ou produção no último ano. O inquérito abrangeu 327 fabricantes em 22 países europeus, incluindo Portugal.
Os resultados mostram que 58% das empresas reportou dificuldades no acesso a matérias-primas e componentes essenciais,e 35% reduziu ou cortou a produção para enfrentar estas restrições. Além disso, dois em cada cinco fabricantes enfrentaram escassez de mão-de-obra, agravando os desafios operacionais.
Michelle Gibbons, diretora geral da AIM, destaca que “apesar das condições económicas desafiantes e da previsão, para o próximo ano, de redução de produção por 37% das empresas inquiridas, a indústria de bens de consumo irá continuar a resistir. As nossas marcas estão presentes em quase todos os lares europeus e, considerando que o consumo doméstico representa 51% do PIB da União Europeia, é crucial compreender o nosso papel fundamental no estímulo da economia e no regresso ao crescimento”.
Pressão inflacionista e aumentos de custos
A inflação também desempenhou um papel significativo, com 94% dos fabricantes a reportar aumentos de custos, especialmente em mão-de-obra, transporte e matérias-primas. Estes custos foram, em grande parte, refletidos nos preços finais, com 73% dos fabricantes a ajustar os valores junto dos retalhistas. Contudo, 22% das empresas inquiridas observou que os retalhistas aumentaram os preços ao consumidor acima dos custos incorporados pelos fabricantes.
Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca, sublinha que “o barómetro europeu espelha algumas das dificuldades que o sector enfrenta, ainda que em Portugal comecemos a observar sinais económicos positivos que nos permitem encarar o futuro com algum ânimo. A resiliência das nossas marcas é inquestionável, mas face às disrupções na cadeia de abastecimento, à inflação e à falta de mão-de-obra qualificada, temos de continuar a investir em inovação, digitalização e qualificação profissional por forma a assegurar a competitividade das empresas portuguesas e o crescimento sustentável do sector”.
Reduções de investimento e impacto económico
As dificuldades económicas levaram 36% das empresas a reduzir investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) e 38% a cortar no investimento de capital (CAPEX). Em paralelo, 12% dos fabricantes optou por reduzir a força de trabalho como medida de contenção.
Adicionalmente, 17% das empresas reportou uma queda nas vendas, 23% registou redução dos lucros e 31% perdeu quota de mercado. Estes números refletem um ambiente económico desafiador, mas também a resiliência do sector perante adversidades.