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O mercado global de fine wines, vinhos super premium, em conjunto com a restauração de luxo, alcançou os 58 mil milhões de euros em 2024, consolidando o seu papel como uma das principais categorias dentro do universo do luxo global.
A conclusão é do relatório anual da Bain & Company e da Fundação Altagamma, apresentado na Vinitaly 2025, que evidencia uma crescente valorização da experiência gastronómica como parte essencial do estilo de vida de luxo.
O crescimento verificado no sector resulta de uma transformação estrutural nas preferências dos consumidores. De acordo com a Bain, o consumidor de luxo contemporâneo valoriza cada vez mais experiências personalizadas, autenticidade e conexão cultural, aspetos que a restauração de alto nível e o consumo de vinho de excelência incorporam plenamente.
A restauração de luxo, em particular, é apontada como um “motor emocional” que ativa outras áreas do luxo, como o turismo, a moda e os vinhos de coleção. A mesma lógica aplica-se aos vinhos premium e super premium, cuja procura tem sido impulsionada tanto pelo consumo em contexto de restauração como pela perceção de investimento e sofisticação.
Premiumização continua a ganhar força
A tendência de premiumização — ou seja, a procura por produtos com maior valor acrescentado — é central para a evolução do sector. No caso específico dos vinhos, a aposta na origem controlada, em métodos de produção artesanais, em castas raras e na sustentabilidade tornam-se cada vez mais diferenciadores aos olhos dos consumidores exigentes, nomeadamente nos mercados da Europa, Estados Unidos e Ásia.
Segundo a Bain, o fenómeno da premiumização está também a ser impulsionado por um consumidor mais informado e mais jovem, que associa o vinho de qualidade a um estilo de vida consciente, exclusivo e culturalmente enraizado. A restauração de luxo acompanha esta evolução com experiências imersivas e menus de degustação que muitas vezes incluem harmonizações com vinhos raros ou edições limitadas.
Impacto das alterações climáticas e do investimento
Apesar do crescimento contínuo, o sector não está imune a riscos. As alterações climáticas representam uma ameaça real para as regiões vinícolas tradicionais, afetando a previsibilidade da produção, a qualidade das colheitas e os custos associados. A resposta do sector tem passado por inovação agronómica, novos investimentos em regiões alternativas e a aposta em práticas sustentáveis, alinhadas com a crescente exigência dos consumidores e investidores.
Por outro lado, o vinho premium está a consolidar-se como um ativo de investimento. Tal como as obras de arte ou os relógios de luxo, garrafas de edições especiais ou de colheitas históricas têm vindo a ser leiloadas por valores recorde. Este fenómeno reforça a perceção de que os vinhos de exceção têm valor simbólico e económico, tornando-se uma aposta segura para muitos colecionadores e fundos especializados.
O relatório destaca principalmente os grandes mercados globais, mas deixa pistas que podem ser lidas com atenção por produtores portugueses. A crescente procura por autenticidade e tradição coloca os vinhos portugueses, sobretudo os oriundos de pequenas quintas com métodos de produção diferenciadores, numa posição favorável no contexto internacional. Paralelamente, o segmento da restauração de luxo em Portugal tem ganho destaque, com o país a afirmar-se como destino gastronómico e enoturístico de excelência.