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Os portugueses com mais de 55 anos são hoje um dos principais motores económicos, sociais e familiares do país. Ainda assim, esta geração sente-se desvalorizada, apesar de representar 38% da população nacional e de sustentar uma parte significativa do consumo e do investimento doméstico.
O “II Barómetro do Consumidor Sénior em Portugal”, promovido pelo Centro de Investigação Ageingnomics da Fundación MAPFRE, em colaboração com a Google, revela uma realidade paradoxal: os seniores são economicamente ativos, digitalmente integrados e socialmente participativos, mas continuam a sentir-se invisíveis para as marcas e para a sociedade. “Os dados mostram um desfasamento claro entre o peso económico da população sénior e o reconhecimento social que lhe é atribuído”, afirma Luís Anula, CEO da MAPFRE Portugal. “A chamada Economia Prateada é uma das forças mais transformadoras do nosso tempo — um motor de consumo, turismo e apoio familiar que precisa de ser reconhecido e valorizado”.
Uma geração estável e financeiramente preparada
O retrato traçado pelo barómetro é o de uma geração com estabilidade financeira e hábitos de poupança consistentes. 49% afirma conseguir poupar todos os meses, 73% é proprietário da sua habitação, e 57% já sem encargos hipotecários,
E 51% prestou apoio financeiro a familiares ou amigos no último ano.
Estes dados revelam não apenas segurança económica, mas também um papel solidário e intergeracional, uma vez que muitos seniores sustentam financeiramente filhos e netos.
Os principais gastos concentram-se em alimentação (87%), habitação (82%), saúde (42%) e lazer (31%), refletindo uma procura crescente por qualidade de vida e bem-estar.
Saúde e longevidade ativa
A geração sénior portuguesa encara a saúde de forma proativa e disciplinada: 75% realiza exames médicos preventivos, 73% cuida da alimentação e apenas 13% refere recorrer ao médico mais de uma vez por mês. Mais do que reagir à doença, os seniores procuram prevenir e manter a autonomia, associando a longevidade à vida ativa e à independência pessoal.
A longevidade é acompanhada de otimismo moderado: 69% acredita que a sua situação económica se manterá igual ou melhorará nos próximos 12 meses, revelando confiança no futuro e resiliência perante um contexto de custos de vida mais elevados.
A geração prateada é uma força crescente no turismo e na economia das experiências. O estudo mostra que 69% dos seniores planeia viajar por lazer em 2026 e 58% prefere destinos nacionais, o que representa 2,3 milhões de potenciais turistas internos.
Além disso, quase oito em cada dez continuam a conduzir semanalmente até aos 70 anos,e a maioria considera que não existe uma idade “certa” para deixar de conduzir, mas sim condições individuais e segurança pessoal.
A revolução digital também é prateada
O barómetro confirma uma forte integração digital entre os consumidores seniores portugueses. Mais de 70% utiliza a internet regularmente, sendo que 62% recorre às redes sociais, 54% faz compras online e 47% utiliza aplicações bancárias e financeiras.
Este comportamento coloca os seniores no centro da transformação digital do consumo, abrindo novas oportunidades para o comércio eletrónico, a banca digital e os serviços tecnológicos adaptados a este público.
No entanto, o relatório sublinha que a oferta digital ainda é pouco inclusiva: muitos serviços continuam excessivamente orientados para públicos jovens, ignorando as necessidades e preferências de design, linguagem e acessibilidade desta faixa etária.
Idadismo e falta de reconhecimento
Apesar do contributo económico e social, 73% dos seniores considera que a sociedade valoriza pouco ou nada as pessoas da sua idade. 52% sente que a sua experiência profissional não é reconhecida e 27% afirma já ter sido discriminado pela idade.
O estudo aponta ainda um gap de sete anos entre perceção pessoal e social do envelhecimento: enquanto os seniores acreditam que ser idoso começa aos 73 anos, percebem que a sociedade os rotula a partir dos 66.
Esta discrepância traduz um fenómeno de idadismo estrutural, com impacto direto na autoestima e na integração ativa desta geração, tanto no trabalho como no consumo.
Portugal é hoje um dos países mais envelhecidos da Europa, com uma esperança média de vida de 81,5 anos e mais de 4,1 milhões de pessoas com mais de 55 anos. Para o Centro Ageingnomics, esta realidade deve ser entendida não como um desafio demográfico, mas como uma oportunidade económica e social sem precedentes.


