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A transição para cadeias de abastecimento circulares está a acelerar, mas ainda longe de atingir a escala necessária. Esta é a principal conclusão do novo estudo divulgado pela Bain & Company, pelo Fórum Económico Mundial e pela Universidade de Cambridge, que analisou a forma como a indústria transformadora está a integrar princípios de circularidade nos seus modelos de negócio e operações.
Segundo o inquérito, realizado junto de cerca de 500 executivos de dez sectores industriais, 79% reconhecem que a circularidade já gera valor significativo para o negócio. Contudo, apenas 20% afirmam que as suas cadeias de abastecimento estão suficientemente preparadas para operar segundo estes modelos.
Circularidade como nova fonte de vantagem competitiva
O consenso entre os líderes industriais é claro: a circularidade não é uma tendência, é uma necessidade estratégica. 95% dos executivos acreditam que será “importante” ou “muito importante” para as suas organizações nos próximos três anos, e a maioria identifica-a como um vetor de crescimento acima da média.
Mais de 80% esperam que as receitas geradas por modelos circulares ultrapassem os níveis atuais das suas empresas, enquanto 70% antecipam margens de lucro superiores às obtidas com atividades lineares. A circularidade começa, assim, a ser vista como uma resposta concreta às pressões de recursos, às exigências de sustentabilidade e à fidelização de clientes cada vez mais atentos.
“A questão já não é saber se a circularidade é importante, mas sim como pode ser implementada em larga escala”, destaca Álvaro Pires, sócio da Bain & Company, que acrescenta que “as empresas reconhecem o potencial económico, mas escalar as operações circulares continua a ser um desafio complexo”.
Cinco barreiras que travam a escala
O estudo identifica um conjunto de obstáculos que continuam a limitar a adoção ampla da circularidade na indústria transformadora:
- Operações e logística: disponibilidade insuficiente de materiais secundários, qualidade inconsistente e custos elevados de logística inversa dificultam a operacionalização de modelos circulares.
- Rentabilidade e procura: os custos iniciais são elevados e a procura ainda pouco previsível, o que levanta dúvidas sobre o retorno.
- Tecnologia, dados e infraestruturas: sistemas de rastreabilidade digital insuficientes, redes de recolha frágeis e falta de integração de dados impedem transparência e eficiência.
- Organização: défices de competências, resistência interna e dificuldade em envolver parceiros atrasam projetos.
- Regulação: normas contraditórias, barreiras transfronteiriças e regras pouco claras para produtos recondicionados criam incerteza e custos adicionais.
O caminho para escalar: três passos estratégicos
Para acelerar a mudança, o relatório identifica três abordagens-chave já adotadas pelas empresas mais avançadas na circularidade:
- Definir prioridades claras: focar-se em produtos com elevado valor residual e cadeias de retorno previsíveis, dirigindo-se a segmentos de clientes predispostos a modelos circulares.
- Desenhar cadeias híbridas: combinar fluxos lineares e circulares, criando modelos flexíveis. Atualmente, 56% das empresas operam cadeias maioritariamente integradas, enquanto apenas 5% têm sistemas totalmente independentes.
- Ativar fatores críticos de progresso
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- Tecnologia e dados: reforço da rastreabilidade, IoT e IA para gerir fluxos variáveis.
- Pessoas e cultura: formação, incentivos e integração estratégica da circularidade.
- Financiamento: apoio aos custos iniciais e promoção de retornos a médio prazo.
- Políticas públicas: quadros regulatórios coerentes e incentivos de mercado.
Circularidade como motor de resiliência
A mensagem final do estudo é inequívoca: a circularidade não é apenas uma resposta ambiental, mas uma oportunidade económica e de resiliência. As empresas que conseguirem ultrapassar as barreiras de escala estarão melhor posicionadas para enfrentar volatilidade nos recursos, expectativas regulatórias mais exigentes e consumidores mais atentos.
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