Numa altura em que o comércio eletrónico atinge o seu pico anual, Francisco Castanheira, CEO da Delivery Express, revela como a empresa se prepara para enfrentar um aumento médio de 30% a 40% no volume de encomendas através de um reforço operacional que mobiliza cerca de 300 estafetas por dia, novas tecnologias de otimização de rotas e sistemas digitais que permitem monitorizar entregas em tempo real. Com uma faturação que cresceu 57% em 2024 e metas ambiciosas para 2030, a Delivery Express aposta em mais talento, mais inovação e mais sustentabilidade, num setor em que a exigência do consumidor obriga a respostas rápidas, eficientes e ambientalmente responsáveis.
Todos os anos o comércio eletrónico dispara nesta altura. Que tipo de crescimento é que estão a registar este ano em comparação com o restante do ano?
Embora o volume varie por cliente e setor, durante o último trimestre do ano prevemos um aumento médio de 30 a 40% face aos meses anteriores.
Falamos de um aumento de 17% no número de estafetas e até de duplicação do volume de entregas em alguns clientes. Como é que se prepara uma operação logística para esse pico tão intenso?
Sim, a Delivery Express prepara, todos os anos, um plano de reforço operacional para este período, que vai além do número de operacionais na rua, que chegam a cerca de 300 operacionais ativos por dia até ao final do ano. Reforçamos igualmente as equipas de operações, planeamento e logística, de forma a garantir uma resposta ágil e eficiente ao crescimento da procura dos consumidores.
Quais são as maiores dificuldades operacionais que enfrentam neste período? É a gestão de rotas, o tempo, o tráfego, a disponibilidade de estafetas?
A gestão de rotas engloba todos os outros desafios, que vão do tempo ao tráfego, juntando ao facto de que o consumidor é hoje mais exigente, valorizando conveniência e previsibilidade. Para conseguirmos responder a este múltiplo desafio e não deixar de responder positivamente à expectativa do cliente final reforçamos a capacidade de entrega e investimos em tecnologia para otimizar a gestão de rotas e a monitorização em tempo real.
Referiram que hoje o aumento da procura é transversal a todo o país e já não se concentra apenas nas grandes cidades. Que implicações isso tem na vossa operação?
Esta é uma realidade que já antevemos com a estratégia adotada e já referida, de investimento em tecnologia para a otimização de rotas. Mas mais do que isso, implica um olhar e um investimento a longo prazo. Hoje já operamos em mais de 45 localidades em Portugal e queremos chegar aos 18 distritos de Portugal Continental dentro do prazo máximo de dois anos. Para isso, vamos criar vários locais de armazenamento e logística estrategicamente localizados, para apoiar a rede de distribuição nacional com capilaridade.
Há também um reforço de equipas em várias áreas, não apenas nas entregas. Pode detalhar onde estão a concentrar esse reforço humano?
Temos um plano ambicioso para fazer crescer o negócio de 250 para 400 colaboradores até 2026. Procuramos profissionais dedicados, com vontade de crescer e de evoluir. Investimos continuamente nas pessoas, ajudando cada colaborador a desenvolver o seu potencial e a alcançar novos patamares profissionais.
Sobre os perfis, precisamos não apenas para suportar o atual crescimento da empresa mas também para o nosso plano de expansão. Para isso estamos ativamente a contratar, entre perfis de gestão e coordenação, técnicos e operacionais. Procuramos também profissionais para a gestão financeira da empresa, para a área de Recursos Humanos, Planeamento Estratégico, área comercial, tecnológica, analítica e de sustentabilidade/ESG, além dos operacionais de distribuição.
Como é que a tecnologia vos ajuda a gerir esta complexidade, especialmente na otimização das rotas e na garantia de prazos rápidos de entrega?
A nossa operação é suportada por um departamento de tráfego dedicado, que trabalha em articulação permanente com as equipas locais e parceiros tecnológicos especializados em planeamento e monitorização de rotas. Utilizamos sistemas que cruzam dados de volume, localização e janelas horárias em tempo real, permitindo ajustar trajetos automaticamente consoante o tráfego, imprevistos ou variações de procura. Esta integração entre tecnologia e mão humana garante entregas mais rápidas, rotas mais eficientes e uma resposta imediata aos desafios do dia a dia.
Há alguma inovação recente ou ferramenta digital que estejam a utilizar para melhorar a eficiência e a experiência do cliente?
Sim. Desenvolvemos um projeto piloto de um chatbot de inteligência artificial que já responde de forma autónoma às dúvidas mais gerais dos motoristas, libertando a equipa para tarefas de maior valor. Paralelamente, já implementámos dashboards Power BI para alguns clientes, que partilhamos em tempo real, e lhes permitem acompanhar indicadores de desempenho, volumes e tempos de entrega de forma transparente. Temos em vista total implementação em 2026. Estas duas soluções — automação interna e visibilidade externa — melhoraram significativamente a eficiência da operação e a experiência global dos nossos parceiros.
Falou-se num plano de reforço operacional com foco em procedimentos, qualidade de serviço e segurança. Como se garante que, mesmo com mais volume, a qualidade não cai?
Precisamente através desse reforço que temos planeado. Os recursos humanos que procuramos vêm reforçar a nossa equipa com um nível de especialização em áreas cruciais para conseguirmos crescer mantendo e elevando a qualidade dos nossos serviços. Os referidos profissionais de áreas de gestão e de coordenação, técnicos e operacionais, além profissionais para a gestão financeira da empresa, para a área de Recursos Humanos, Planeamento Estratégico, área comercial, tecnológica, analítica e de sustentabilidade/ESG, e ainda os operacionais de distribuição contribuirão para um crescimento do negócio e da qualidade.
Como é que motivam e formam os novos estafetas que entram apenas nesta fase sazonal?
Logo nos primeiros dias, os novos estafetas participam em sessões de formação rápida, focadas em segurança, qualidade de serviço, utilização das ferramentas digitais e boas práticas de entrega. Cada novo elemento é depois acompanhado por um estafeta mais experiente, garantindo uma adaptação imediata ao ritmo e aos padrões da empresa.
Estamos a desenvolver também um programa de on boarding que será muito prático e intuitivo, combinando a formação operacional, acompanhamento direto e cultura da nossa equipa e respetivo cliente.
O crescimento do e-commerce parece não ter fim à vista. Que tendências têm observado nos hábitos dos consumidores portugueses?
Os portugueses gostam de confiança, de proximidade e de personalização. A procura por entregas rápidas e flexíveis, com janelas horárias ajustadas ao seu dia a dia é essencial, pois os consumidores querem controlar cada vez mais quando e como recebem as suas encomendas.
Por outro lado, uma maior valorização da proximidade, com clientes a preferirem marcas e operadores que têm presença local e impacto direto na economia das suas comunidades. Por fim os consumidores estão cada vez mais exigentes, preocupam-se mais com o impacto ambiental e sentimos uma mudança de mentalidade em torno da sustentabilidade.
O consumidor português está assim mais exigente, mais informado e mais consciente, obrigando-nos, enquanto empresa, a sermos mais ágeis, tecnológicos e sustentáveis.
O que é que esta época alta ensina às empresas de logística? Há algo que se mantenha depois da Black Friday e do Natal?
A época alta é um verdadeiro teste para qualquer empresa de logística ou distribuição, sendo de facto também o momento em que mais se aprende. Mostra-nos que a capacidade de adaptação, de planeamento e de trabalho em equipa são os verdadeiros fatores que sustentam o sucesso operacional.
Depois deste período intenso, aquilo que fica não é apenas o aumento de volume mas a experiência adquirida, a melhoria dos processos e a confiança reforçada nas equipas. Aprendemos a ser mais ágeis, a antecipar problemas e a otimizar recursos, e isso traduz-se em ganhos de eficiência que permanecem ao longo do ano. A época alta ensina-nos que a logística é, antes de tudo, resiliência e coordenação, e que cada pico de procura é também uma oportunidade de evolução e inovação contínua.
Com o aumento do número de entregas, como gerem o impacto ambiental da operação?
O maior impacto sentido será sem dúvida na nossa frota. Atualmente, 25% da nossa frota é já composta por veículos 100% elétricos e continuamos a investir para aumentar esta percentagem. A Delivery Express está a acelerar a transição energética, com o compromisso de ter 75% da sua frota elétrica até 2030, reduzindo emissões e reforçando o nosso papel na construção de um modelo logístico mais sustentável e responsável. O plano de expansão que temos delineado, com o investimento em novos hubs logísticos e operacionais permitirá uma maior proximidade dos locais finais de entrega que também contribui para a redução do impacto ambiental no last mile.
Há planos de investimento ou expansão para 2026 com base no crescimento registado nesta época alta?
O ano de 2024 fechou com uma faturação de 4,8 milhões de euros, um crescimento de 57% face ao ano anterior, e projetamos manter o ritmo de crescimento em 2025 e anos seguintes, com uma previsão de aumento de faturação anual entre 30% a 50% até 2030. Para atingirmos estes objetivos temos o já referido plano de investir na expansão da nossa presença a todos os 18 distritos de Portugal Continental, algo que esperamos que se concretize dentro de dois anos.




