Oiça este artigo aqui:
A região italiana de Barolo é, agora, a mais valiosa do mundo para a produção de vinho, com o preço por hectare de vinha a atingir os 2,08 milhões de dólares, destronando Champanhe, em França, do primeiro lugar que ocupava há vários anos.
A conclusão é do “The Wealth Report 2025”, o relatório global da consultora Knight Frank, cuja edição portuguesa é representada pela Quintela e Penalva.
Este novo ranking internacional reflete um mercado em profunda transformação, marcado por alterações climáticas, mudança de padrões de consumo, volatilidade geopolítica e forte procura por ativos rurais de luxo, nomeadamente vinhas com potencial produtivo e valor emocional.
O novo mapa mundial das vinhas
A edição deste ano revela que, além de Barolo, outras regiões do top 5 mundial incluem a região francesa de Margaux, em Bordéus (1,25 milhões de dólares por hectare), a norte-americana Rutherford, em Napa Valley (1,2 milhões de dólares por hectare), e as também francesas Côte de Nuits, na Borgonha (1,09 milhões de dólares por hectare) e Champanhe (1,04 milhões de dólares por hectare).
Por contraste, o preço médio por hectare na região espanhola da Rioja ronda os 80 mil dólares, valor semelhante ao praticado em Stellenbosch, África do Sul.
Douro e Vinhos Verdes atraem interesse, mas valores continuam modestos
Em Portugal, a procura por vinhas e quintas está em alta, particularmente nas regiões do Douro e dos Vinhos Verdes, onde há um crescente apetite por projetos ligados à viticultura e à sustentabilidade. “Dependendo da localização e do património edificado associado, o valor por hectare nestas regiões varia bastante. Pode ir dos 10 mil euros aos 30 mil ou 40 mil euros por hectare”, refere Carlos Penalva, sócio fundador da Quintela e Penalva.
Apesar da valorização sentida, os valores portugueses continuam bem abaixo dos praticados nas regiões mais emblemáticas do mundo, o que, segundo a consultora, representa uma janela de oportunidade para investidores nacionais e internacionais.
Alterações climáticas estão a mudar o mapa vitivinícola
Um dos fatores mais influentes na valorização das vinhas é a mudança climática. Regiões como o Loire, o sul da Borgonha e Beaujolais, anteriormente secundárias, estão agora a beneficiar de condições mais favoráveis à produção de vinho de qualidade, levando à sua valorização.
Já no Reino Unido, condados como Kent e Essex estão a ganhar protagonismo, com um crescimento significativo da área de vinha, sobretudo para espumantes e rosés, e uma subida de 20% nos preços em Essex só em 2024, para os 120 mil dólares por hectare.
Tendência global: menos produção, maior exclusividade
O consumo mundial de vinho caiu 12% desde o pico de 2007, mas a produção também desceu 20% no mesmo período. Este equilíbrio frágil está a forçar uma maior seletividade e diferenciação. Nas palavras de vários especialistas do sector, as vinhas mais pequenas, com identidade, storytelling e experiência integrada, estão a sobreviver melhor do que os produtores médios dependentes do volume.
Os mercados norte-americanos e australianos têm sentido os efeitos de tarifas comerciais e tensões políticas. A Austrália, por exemplo, viu as exportações de vinho para a China descerem de 1,4 mil milhões de dólares para praticamente zero entre 2019 e 2023, devido a disputas comerciais. Mesmo após o levantamento das tarifas em 2024, os preços das vinhas caíram até 50% em regiões como Riverland.
Nos Estados Unidos, a eventual implementação de novas tarifas pelo presidente Donald Trump pode impactar fortemente os produtores de vinho, especialmente os que dependem da exportação ou de mão de obra migrante.