Oiça este artigo aqui:
Segundo oito fontes do sector, torrefatores como a Lavazza, a Illy, a Nestlé e a JDE Peet’s, fabricante da Douwe Egberts, estão atualmente em conversações com os retalhistas sobre a repercussão dos custos resultantes da quase duplicação dos preços do café arábica no último ano.
Os preços do café arábica em bruto (KCc2) aumentaram devido a quatro épocas sucessivas de défice, uma vez que as condições climatéricas adversas dificultam a produção em quantidade suficiente para satisfazer a procura dos consumidores, reporta a Reuters.
Com os torrefatores a pressionarem para aumentar os preços e os supermercados a resistirem, adiando a assinatura de novos acordos de fornecimento, alguns pontos de venda ficaram sem stock de café. Um dos casos mais mediáticos ocorreu na cadeia de supermercados holandesa Albert Heijn, a maior do país, que ficou sem produtos como Douwe Egberts e Senseo. Os produtos regressaram às prateleiras a 20 de março, mas a preços mais elevados, segundo um porta-voz da Albert Heijn, após a conclusão das negociações com a JDE Peet’s.
Pressão sobre os preços globais
Um dos maiores torrefatores de café do mundo, a JDE Peet’s, que já alertou para uma diminuição dos lucros devido ao aumento dos custos do café, afirmou que o impasse nos Países Baixos e na Alemanha resultou na ausência de alguns dos seus produtos nas prateleiras. No entanto, revelou ter concluído já 90% das suas negociações de preços a nível mundial.
Os preços globais do café arábica, normalmente utilizado em misturas torradas e moídas, subiram mais de 20% este ano, após um aumento de 70% em 2024. A situação agravou-se com a seca severa no Brasil, responsável por quase metade da produção mundial de arábica.
Os aumentos são ainda mais acentuados nos países cujas moedas se desvalorizaram em relação ao dólar, como o próprio Brasil, que é simultaneamente o segundo maior consumidor mundial de café e o seu principal produtor.
Segundo documentos enviados a clientes e consultados pela Reuters, a 3 Corações, uma das maiores torrefatoras brasileiras, aumentou os preços do café torrado e moído em 14,3% a 1 de março, depois de subidas de 11% em janeiro e 10% em dezembro.
A associação brasileira de torrefatores (ABIC) explica que, em moeda local, o preço do grão aumentou 170% no ano passado. Como consequência, os preços nas prateleiras das lojas no Brasil subiram 40%, com novos aumentos já a serem aplicados este mês.
Consumo em queda nas principais regiões
De acordo com dados da Nielsen compilados para a Reuters, o volume de café torrado e moído vendido na América do Norte e na Europa, as maiores regiões consumidoras, caiu 3,8% no último ano, mesmo com uma subida média de preços de 4,6%.
Prevê-se que os aumentos em 2025 sejam mais acentuados, o que deverá intensificar a quebra no volume de vendas.
A J.M. Smucker, fabricante do café Folgers e fornecedora de grandes cadeias como Walmart e Target, antecipa uma nova quebra de volumes no seu exercício fiscal que se inicia em maio, devido a mais um aumento de preços. Segundo o diretor financeiro, Tucker Marshall, a empresa já aumentou os preços em junho e outubro passados e voltará a fazê-lo.
A J.M. Smucker detém ainda as marcas Dunkin e Café Bustelo, também sujeitas a reajustes de preço.