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Cinco anos após o Brexit, a União Europeia e o Reino Unido assinaram um acordo comercial que visa restaurar a relação entre os vizinhos europeus. Trata-se de um importante ponto de partida para futuras negociações com o objetivo de aumentar a confiança das empresas e atrair novos investimentos para ambos os mercados.
Um estudo recente da Crédito y Caución analisa o impacto do acordo que, nesta fase inicial, tem mais valor simbólico do que económico. Para já, representa um progresso tangível em vários domínios, especialmente nas exportações de animais e alimentos. A criação de um Espaço Sanitário e Fitossanitário (Sanitary and Phytosanitary (SPS) Area, na sigla em inglês) irá agilizar as operações com o exterior e reduzir os custos para ambas as partes, reduzindo os procedimentos administrativos e controlos na grande maioria dos movimentos de animais, produtos de origem animal, plantas e produtos vegetais.
Trata-se de um desenvolvimento significativo, uma vez que as exportações de alimentos e bebidas do Reino Unido para a União Europeia ascenderam a 14 mil milhões de libras em 2023. “Um espaço SPS comum eliminaria completamente alguns controlos de rotina sobre produtos de origem animal e vegetal e reduziria outros“, diz James Napier, analista sénior da Atradius no Reino Unido. Em contrapartida, o Reino Unido terá de cumprir as futuras normas alimentares da União Europeia.
O acordo sobre medidas sanitárias e fitossanitárias foi bem acolhido pelos produtores de alimentos e supermercados do Reino Unido, mas o seu impacto económico global será reduzido. As exportações de alimentos para a União Europeia representam apenas 4% do total das exportações britânicas de mercadorias e apenas 0,6% do PIB do Reino Unido.
Defesa
Além destes sectores, a aproximação entre os dois mercados é igualmente relevante em termos de defesa, uma vez que o Reino Unido tem um sector altamente desenvolvido e uma capacidade significativa de fabrico de armamento. A Europa como um todo está a tentar rearmar-se face à agressão russa, pelo que é previsível que as empresas britânicas sejam integradas nos planos de aquisição da União Europeia.
Embora os detalhes ainda não tenham sido finalizados, as empresas britânicas do sector de defesa provavelmente terão acesso ao Fundo Europeu de Ação de Segurança (SAFE), um fundo comum de 150 mil milhões de euros disponível para os Estados-membros.
Christian Bürger, editor chefe da Atradius, afirma que “ambos os lados reconheceram que fortalecer a defesa europeia contra a Rússia sem a participação britânica não seria sensato. A construção de um sistema de segurança europeu credível requer não só mais dinheiro, mas também o envolvimento de uma das maiores potências militares da Europa Ocidental“, acrescenta.