Oiça este artigo aqui:
A sustentabilidade ambiental já não é apenas um discurso aspiracional no sector têxtil e do vestuário (STV) português. É, cada vez mais, um eixo estruturante da gestão e da competitividade. Essa é a principal conclusão do terceiro Relatório de Sustentabilidade desenvolvido no âmbito do projeto be@t – Bioeconomia no Têxtil e Vestuário, apoiado pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e coordenado pelo CITEVE.
O documento revela um sector em clara evolução: mais empresas envolvidas, mais indicadores reportados e uma maturidade crescente na leitura estratégica dos dados ESG (ambientais, sociais e de governança). Em números, o relatório destaca um aumento de 13% nas certificações ambientais, que atingem agora 2.526, num universo que representa apenas uma parte do sector – sinal de que o impacto real será ainda mais expressivo.
Mais do que uma soma de métricas, o relatório espelha uma mudança estrutural. Ao longo dos últimos anos, as empresas do STV têm reforçado práticas responsáveis em toda a cadeia de valor, integrando a sustentabilidade como fator crítico de posicionamento e não apenas como ferramenta de comunicação. “Mais empresas a reportar, mais métricas, mais transparência e mais maturidade. A sustentabilidade deixou de ser um instrumento comercial para passar a ser infraestrutura essencial de competitividade”, sublinha Braz Costa, diretor-geral do CITEVE.
Nesta terceira edição, participaram 105 empresas – mais 36% face ao primeiro ano de reporte – representando mais de 15.800 postos de trabalho. Os dados mostram melhorias consistentes em áreas-chave, como a eficiência energética. Apesar de mais empresas reportarem o consumo total de combustíveis, registou-se uma redução global de cerca de 6%, sinal de ganhos reais na gestão de energia.
Também a incorporação de materiais sustentáveis continua a crescer: mais de 11% dos materiais utilizados são reciclados, um aumento de 3%, enquanto cerca de 25% têm origem orgânica ou biológica, refletindo uma subida de 4%. Na área da química segura, 68% das empresas afirmam ter reduzido o consumo de produtos químicos, e 79% investiram na substituição por alternativas menos nocivas, valores que representam progressos claros face a 2023.
Este avanço acontece num contexto económico desafiante. Em 2024, as exportações do sector atingiram 5.576 milhões de euros, uma quebra de 3% face ao ano anterior, penalizadas pela instabilidade geopolítica e pela retração da procura internacional. Ainda assim, os indicadores de sustentabilidade mantiveram uma trajetória positiva, reforçando a ideia de que a transição verde é também uma estratégia de resiliência industrial.
O relatório sublinha ainda o papel crescente da bioeconomia como pilar do futuro do sector, permitindo reduzir dependências externas, valorizar recursos locais e alinhar a indústria portuguesa com as exigências das marcas globais e da regulação europeia. Desenvolvido com base nas normas da Global Reporting Initiative (GRI) e já com alinhamento inicial com os European Sustainability Reporting Standards (ESRS), o documento confirma que o sector têxtil e do vestuário em Portugal não se limita a reagir ao contexto internacional: posiciona-se, de forma estratégica, para liderar a transição sustentável.
Siga-nos no:




