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Os portugueses consumiram mais em 2024 e mostraram-se mais confiantes quanto ao futuro da economia, revelando uma crescente perceção de estabilidade financeira ao longo do último ano.
Esta é uma das principais conclusões do ConsumerSignals Annual Report 2024, o novo relatório da Deloitte que explora as tendências de comportamento do consumidor português com foco no ano de 2024. Este relatório insere-se no ConsumerSignals, um projeto global de grande impacto da Deloitte, que acompanha os padrões de despesa e comportamentos dos consumidores em diversos países.
Os dados do ConsumerSignals são recolhidos através de inquéritos a milhares de consumidores em 20 países, incluindo Portugal, e são atualizados mensalmente. Em Portugal, são inquiridos mensalmente mil consumidores em temas como bem-estar financeiro, padrões de consumo, poupança e intenções de despesa em áreas como alimentação, transportes ou saúde. A plataforma é interativa, de acesso aberto, e permite consultar indicadores, comparar mercados e explorar análises e artigos temáticos.
Para João Paulo Domingos, partner e líder da indústria de Consumer, “apesar de os indicadores do ConsumerSignals mostrarem uma recuperação dos níveis de consumo ao longo do ano passado, os portugueses tenderam a consumir de forma seletiva, dentro de um orçamento controlado. O contexto de instabilidade mundial, marcado por uma grande imprevisibilidade nos mercados e uma escalada da inflação, conduziu a uma maior consciência nos gastos das famílias, em larga medida pelo aumento generalizado dos preços em vários produtos básicos”.
Bem-estar financeiro
De acordo com esta plataforma, ao longo de 2024, registou-se uma melhoria na perceção da situação financeira por parte dos portugueses. Face ao ano anterior, os consumidores nacionais sentiram-se financeiramente mais estáveis, com um índice de bem-estar superior à média global.
Cerca de 37% afirmou esperar uma melhoria da sua situação financeira no próximo ano – mais três pontos percentuais do que em dezembro de 2023. Ainda assim, a preocupação com o futuro e a segurança financeira mantiveram-se elevadas, sendo os consumidores mais jovens (18-34 anos) os mais otimistas: 52% acreditava que a sua situação financeira irá melhorar, face a 46% no final de 2023.
De acordo com os dados recolhidos no ano de 2024, o Índice de Bem-estar Financeiro da plataforma aponta também para uma redução do número de portugueses que avaliam a sua situação financeira como pior do que no ano anterior, passando de 46% para 37%. Em linha com esta evolução, verificou-se uma menor preocupação com a inflação e um aumento da predisposição para o consumo, sinalizando um crescimento da confiança financeira. A percentagem de consumidores que afirmou ter conforto financeiro no final do mês subiu para 37%. Destaca-se ainda o aumento da proporção de portugueses que disse poder gastar em coisas que lhes trazem alegria – 39%, mais dois pontos percentuais do que em 2023.
Apesar dos sinais positivos, Portugal manteve-se entre os países europeus mais apreensivos quanto ao aumento dos preços, com mais de metade dos consumidores a manter o foco na gestão desse impacto.
Intenções de consumo
A intenção de consumo dos portugueses aumentou ao longo do ano, sobretudo em categorias não essenciais, com um crescimento de 24 pontos percentuais face a dezembro de 2023. Este aumento foi particularmente expressivo nos consumidores entre os 18 e os 34 anos, que registaram um crescimento de 37% na intenção de despesa e de 39% na intenção de poupança.
Quanto aos sectores onde os portugueses mais gastaram, a alocação de gastos foi mais diversificada. As intenções de despesa em categorias como lazer, entretenimento e viagens de recreio (+1%), restaurantes/take-away (+1%) e eletrónica e mobiliário (+1%) cresceram ligeiramente face ao ano anterior. Em contrapartida, as categorias de habitação (-4%) e supermercado (-3%) perderam peso relativo nos gastos das famílias.
Retalho e bens de consumo
Apesar da menor pressão económica sentida ao longo do ano, a frugalidade alimentar manteve-se como um hábito dos portugueses. As principais estratégias de poupança incluíram a redução do desperdício alimentar em casa – adotada por 52% dos consumidores, mais dez pontos percentuais do que no ano anterior – e a preferência por marcas próprias ou produtos mais económicos, mencionada por 45% dos inquiridos (mais 9 pontos percentuais face a 2023).
Mesmo num contexto de estabilização ou descida de alguns preços, a perceção de inflação manteve-se elevada ao longo de 2024. A maioria dos consumidores continuou a antecipar aumentos nos preços de bens essenciais no mês seguinte, nomeadamente nos combustíveis (71%), restauração (67%) e supermercado (67%). Embora as expectativas tenham oscilado entre estas categorias, os combustíveis destacaram-se ao longo do ano como o sector com maior perceção de inflação, com os picos mais acentuados registados no início e no final do ano.
Sector automóvel
No sector automóvel, há também dados a destacar: a intenção de compra de veículos diminuiu ligeiramente em todas as geografias analisadas, mas a descida foi mais acentuada em Portugal. 15% dos portugueses planeava comprar um carro nos seis meses seguintes, uma descida de dois pontos percentuais em relação ao ano anterior. A nível europeu, foram 18%.
Os dados indicam que a troca de carro se tornou, em 2024, cada vez mais ponderada e ajustada ao contexto financeiro, com fatores como a distância média diária de condução, a expectativa no aumento dos preços dos combustíveis e o número médio de dias por semana em que se desloca para o trabalho a surgirem como os que mais impactam a mobilidade dos portugueses.
A decisão de compra de um veículo em Portugal foi em grande medida marcada pela racionalidade financeira, com a troca a dever-se principalmente aos custos de manutenção elevados da viatura atual, algo particularmente expressivo entre adultos (35-54 anos) e seniores (55+ anos) – com 27% dos inquiridos a referir esta razão. Ao nível da adesão dos consumidores nacionais aos veículos elétricos, esta manteve-se baixa, travada por barreiras como o preço e a perceção de valor.
Turismo e transportes
O ConsumerSignals agrega ainda dados a respeito dos hábitos de viagens e turismo dos portugueses. Em 2024, os portugueses reajustaram as suas prioridades, reduzindo a preferência por estadias em hotéis e voos internacionais, ao invés dos consumidores europeus, que mostraram um ligeiro aumento no interesse por esta natureza de viagens.
Entre os segmentos de viagem ou lazer em que os portugueses indicaram ser mais provável investirem, encontrava-se o alojamento (43%) e as viagens de avião (34%). Entre os portugueses que previam investir em viagens num futuro próximo, a maioria preferia viajar para destinos mais distantes de casa, durante a época baixa. A maioria preferia também opções mais económicas, como companhias aéreas low cost.
No que diz respeito ao alojamento, as localizações mais centrais/atrativas, mas com um custo mais económico, foram uma prioridade, assim como poder aproveitar experiências no destino.