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Relatório da GlobalData indica o possível impacto das tarifas anunciadas, a 2 de abril de 2025, pela administração dos EUA. Nessa data foi definia uma tarifa de 20% sobre as exportações da União Europeia (UE) para os EUA. Decisão que seguiu-se após a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de alumínio e aço para os EUA em 12 de março de 2025.
A GlobalData analisou as movimentações e afirma que estas políticas irão alterar significativamente as oportunidades de crescimento das empresas de maquinaria de processamento e de embalagem de alimentos que abastecem o mercado dos EUA. Segundo a empresa em causa as alterações nos formatos de embalagem utilizados para embalar produtos nos EUA e a alterações nos locais onde residem as oportunidades de automatização.
O relatório “Industry Insights: The impact of tariffs on consumer packaged goods” – “Industry Insights: O impacto das tarifas nos bens de consumo embalados” em português – a GlobalData revela quais os sectores relevantes para os bens de consumo embalados que são mais afetados pelas tarifas no âmbito de relações comerciais específicas e de que forma as empresas destes sectores serão afetadas. A par disso o documento também disponibiliza informações sobre as reações dos consumidores às mudanças no mercado causadas pela imposição de direitos aduaneiros.
“As tarifas dos EUA têm o potencial de alterar a procura de certos tipos de máquinas no mercado de bebidas dos EUA. Dada a dependência significativa dos EUA das importações de alumínio para satisfazer as necessidades internas, espera-se que uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio aumente o custo das latas de bebidas”, comenta Rory Gopsill, analista Sénior de Consumo da GlobalData.
O executivo acrescenta ainda que, “consequentemente, os fabricantes de refrigerantes podem considerar a transição para garrafas de plástico como resposta aos custos mais elevados associados às embalagens de metal, uma possibilidade reconhecida pelo presidente executivo da Coca-Cola durante uma chamada com investidores em fevereiro, após o anúncio da tarifa. Isto poderia resultar num aumento da procura de máquinas de moldagem por sopro utilizadas para produzir garrafas de plástico”.
Convém realçar que, no ano passado, foram vendidos, nos EUA, 126,2 mil milhões de refrigerantes. Bebidas essas que disponibilizadas em garrafas de plástico e 60,5 mil milhões foram embalados em latas de metal, de acordo com a base de dados Primary Packaging and Outers da GlobalData.
Estes números representam 60,0% e 28,8% do mercado de refrigerantes dos EUA, respetivamente. Segundo a GlobalData as tarifas dos EUA poderão restringir o crescimento das latas e promover o crescimento das garrafas de plástico rígido. Este facto, por sua vez, poderá ter repercussões na maquinaria utilizada na produção destes tipos de embalagens.
UE: fabricantes de máquinas afetados pelas tarifas aduaneiras
A GlobalData aponta que muitos dos maiores fabricantes de máquinas de embalagem e de transformação de alimentos são europeus. A Krones, a GEA e a Syntegon são todas empresas alemãs, enquanto a Sacmi, a Coesia, a IMA e o PFM Group são empresas italianas. Este forte ecossistema permitiu à UE exportar 3,4 mil milhões de dólares de máquinas de lavar e engarrafar, 1,6 mil milhões de dólares de máquinas industriais de preparação de alimentos e 1,1 mil milhões de dólares de impressoras industriais para os EUA em 2023, de acordo com o Observatório da Complexidade Económica. Só a Alemanha representou 24% das importações de máquinas industriais de preparação de alimentos dos EUA em 2023, de acordo com a mesma fonte. Um direito de 20% sobre estas exportações da UE para os EUA representa um grave problema para os fabricantes de máquinas da EU, indica a GlobalData.
“Outros elementos da atual agenda política dos EUA poderão também criar perturbações no mercado de maquinaria de embalagem e de transformação alimentar dos EUA. A administração Trump está também a preparar um projeto de lei de reconciliação orçamental com o objetivo de garantir entre 90 e 175 mil milhões de dólares de financiamento adicional para as agências de imigração e de aplicação das fronteiras antes do final do ano. Este financiamento aumentaria a capacidade do governo para efetuar rusgas comerciais e deter e deportar imigrantes sem documentos”, considera Rory Gopsill.
O executivo explica que “tais ações poderiam levar à escassez de mão de obra em várias indústrias que dependem fortemente de maquinaria de embalagem e de processamento de alimentos. Por exemplo, de acordo com o Conselho Americano de Imigração, cerca de 23% da força de trabalho na indústria de embalamento de carne dos EUA é composta por imigrantes não documentados, enquanto este número era de cerca de 62% no sector de processamento de marisco em 2017 (de acordo com a New American Economy). Além disso, de acordo com o Conselho Americano de Imigração, cerca de 5,5% dos empregados no sector dos transportes e armazenamento são também imigrantes indocumentados”.
Face a isto a Rory Gopsill considera que “se uma repressão à mão de obra imigrante criar vagas de mão de obra que as empresas não conseguem preencher, as empresas de processamento de alimentos e máquinas de embalagem podem ser obrigadas a acelerar os seus programas de inovação para fornecer ao mercado soluções de embalagem mais automatizadas”.