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Tempestade perfeita na vitivinicultura: vindima de 2024 marca viragem negra no sector português

Produtores enfrentam crise profunda e futuro incerto para a próxima campanha

Foto Shutterstock

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A vindima de 2024 ficará para a história como uma das mais sombrias e desafiantes da vitivinicultura portuguesa. O cenário negro que se abateu sobre o sector não só prejudicou gravemente os viticultores, como também lançou uma sombra de incerteza sobre o futuro da produção nacional de vinho. O alarme é dado pela ANCEVE.

Ao contrário de anos anteriores, em que a colheita era motivo de celebração e esperança, este ano muitos viticultores optaram por deixar as uvas nas vinhas. A decisão foi tomada em desespero: impediram-se de colher por não terem compradores interessados ou porque os preços oferecidos eram tão baixos que apenas agravariam o prejuízo resultante de um ano inteiro de investimento e trabalho árduo nas vinhas.

O impacto desta crise foi tal que a tradicional coesão do sector desfez-se. O ambiente tornou-se mais crispado e menos solidário, com produtores, comerciantes e exportadores a ponderarem sair da atividade, vender as empresas ou, simplesmente, abandonar a vitivinicultura. Para muitos, tornou-se uma atividade insustentável e manifestamente deficitária, invertendo décadas de esforço e dedicação.

 

Perspetivas para 2025: um futuro ainda mais dramático

Apesar da dureza da vindima de 2024, os sinais vindos do mercado apontam para que 2025 possa ser ainda mais dramático. Viticultores estão já a receber notificações de compradores tradicionais, indicando que este ano não adquirirão as uvas, antecipando um cenário ainda mais desolador do que o vivido no último ano. O sentimento de desamparo alastra-se entre os profissionais do sector, que olham para o futuro com crescente apreensão.

 

Instituto da Vinha e do Vinho em crise

A instabilidade institucional agrava o panorama. O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), órgão central para a fileira vitivinícola, encontra-se num estado de indefinição e paralisia. A exoneração verbal do Conselho Directivo, ocorrida em janeiro passado, permanece sem formalização por parte da tutela, seis meses depois. Esta situação deixa o sector sem liderança clara e sem respostas em tempo de crise, agravando os efeitos já de si devastadores de uma conjuntura internacional adversa.

Importa salientar que a decisão de exoneração do Conselho Directivo do IVV não foi discutida com os representantes do sector, que também desconhecem os critérios para a eventual escolha de uma nova equipa. Esta falta de transparência e comunicação aumenta a desconfiança e a insegurança num dos momentos mais delicados da história recente da vitivinicultura nacional.

 

Esportações

No início do ano, as exportações vinham a crescer, alimentando alguma esperança de recuperação. Contudo, a conjuntura internacional rapidamente mudou de rumo. A política tarifária de Donald Trump, aliada ao consumo mundial de vinho em queda e à proliferação de campanhas anti-vinho, provocou uma inversão abrupta na tendência de crescimento. A instabilidade global e a incerteza nos mercados internacionais vieram agravar ainda mais a situação de fragilidade do sector vinícola português.

A ANCEVE – Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas, que assinala este ano o seu 50º aniversário, tomou a iniciativa de solicitar uma reunião urgente com a Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas. O objetivo é debater a crise em curso, as perspetivas dramáticas para a vindima que se aproxima e, sobretudo, exigir a implementação de medidas concretas e eficazes para salvar o sector.

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