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O excedente comercial de bens da União Europeia face aos Estados Unidos voltou a recuar no terceiro trimestre de 2025, refletindo um abrandamento significativo das exportações após um início de ano marcado por forte antecipação de encomendas. Segundo dados do Eurostat, entre julho e setembro, o saldo positivo entre as duas economias atingiu 40,8 mil milhões de euros, uma quebra de 13,3% face ao trimestre anterior e quase metade (-49,7%) do valor registado nos primeiros três meses do ano.
O primeiro trimestre de 2025 destacou-se precisamente por um aumento expressivo das exportações europeias para o mercado norte-americano, impulsionado pela possibilidade de imposição de novas tarifas por parte dos Estados Unidos. Este fator levou muitas empresas europeias a anteciparem expedições, originando um pico temporário no volume exportado.
Quedas acentuadas nos excedentes de produtos químicos e maquinaria
Os dados divulgados revelam que, no terceiro trimestre, a UE manteve um saldo comercial positivo com os EUA nos setores de produtos químicos e conexos, máquinas e veículos, outros bens manufaturados, bem como alimentos e bebidas. Apesar disso, verificou-se uma evolução negativa em várias destas categorias.
O excedente no comércio de produtos químicos, que tinha atingido 54,1 mil milhões de euros no primeiro trimestre, reduziu-se para 24,7 mil milhões no segundo trimestre e voltou a cair para 23,0 mil milhões no terceiro. Esta trajetória descendente reflete normalização da procura, mas também ajustamentos das empresas após o efeito de antecipação provocado pelos potenciais tarifários norte-americanos.
Em contraste, a UE continuou a registar défices expressivos em energia, matérias-primas e outros bens, categorias fortemente influenciadas pela dependência europeia de importações, sobretudo após 2022.
Importações de energia dos EUA continuam elevadas desde a guerra na Ucrânia
Desde o início de 2021, as importações europeias provenientes dos Estados Unidos seguiram um padrão semelhante ao das compras ao resto do mundo até meados de 2022. No entanto, o contexto geopolítico alterou-se significativamente após a invasão russa da Ucrânia, levando a União Europeia a reforçar de forma expressiva a aquisição de produtos energéticos norte-americanos, incluindo gás natural liquefeito (GNL).
Como resultado, as importações provenientes dos EUA cresceram acima das de outras origens e mantiveram-se, desde então, em níveis comparativamente mais elevados. Este fator contribuiu para reduzir a margem de saldo positivo da balança comercial europeia ao longo de 2023, 2024 e 2025.
Um relacionamento comercial robusto, mas sensível ao contexto global
Apesar da diminuição do superavit, o comércio bilateral entre a UE e os Estados Unidos continua a ser uma das parcerias económicas mais relevantes do mundo, tanto pela dimensão dos mercados como pela densidade das cadeias de valor partilhadas. Ainda assim, os dados agora divulgados mostram que este equilíbrio é altamente sensível a elementos conjunturais, como medidas tarifárias, tensões geopolíticas e oscilações na procura industrial.
A evolução dos próximos trimestres dependerá, entre outros fatores, das decisões em matéria comercial por parte da Administração norte-americana, da recuperação económica global e da trajetória dos preços da energia, que continuam a influenciar de forma determinante a balança comercial europeia.
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