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Em 2024, o sector cervejeiro português consumiu 114 mil toneladas de cevada, das quais cerca de 14% foi fornecido por agricultores portugueses. Também no caso do lúpulo, existe uma dependência do sector para a produção externa. No total, as empresas portuguesas produtoras de cerveja consumiram 55 toneladas de ácidos alfa de lúpulo, sendo que apenas 15% teve origem em produções nacionais.
Estes dados foram partilhados por Rui Lopes Ferreira, presidente da Cervejeiros de Portugal, por ocasião da Assembleia Geral dos Cervejeiros de Portugal, que teve lugar no passado dia 10 de abril, num evento promovido com o objetivo de fomentar um diálogo entre o sector cervejeiro português, o poder político e a sociedade civil.
O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, que encerrou o evento, concordou que os níveis de armazenamento cerealífero português têm de aumentar. “Estamos entre os países europeus com menor taxa de aprovisionamento de cereais, que hoje se cifra em 19%, quando em 1990 era de 50% das necessidades de consumo”.
Por forma a contrariar esses dados ,foi assinado no dia 9 de abril, um memorando de entendimento entre várias associações de produção, agrícolas, alimentares, distribuição,e ainda a Cervejeiros de Portugal e o +CEREAIS, com a ambição de criar uma organização interprofissional na área dos cereais, como forma de valorizar a produção nacional em todos os elos da cadeia.
“Caso houvesse uma maior garantia de produção por parte do sector agrícola nacional, bem como uma política fiscal que trate o sector cervejeiro de forma mais justa, o cenário seria diferente. Desde há muito tempo que sentimos um tratamento desigual em termos fiscais, em comparação a outro tipo de bebidas alcoólicas. Uma situação totalmente injustificada”, comentou Rui Lopes Ferreira.
Nesse sentido, o sector defende um diálogo interno com o Governo, por forma a existir um quadro fiscal que não discrimine negativamente a cerveja, e desafia os decisores a tomar medidas concretas no que respeita ao aumento de produção de cevada.
Comparação com a Europa
Portugal é o único país europeu no qual o mercado cervejeiro já recuperou os níveis de venda pré-pandemia. Esta dado foi partilhado por Julia Leferman, secretária-geral da Brewers of Europe, na mesma assembleia geral durante a segunda parte pública deste evento, promovido com o objetivo de fomentar um diálogo entre o sector cervejeiro português, o poder político e a sociedade civil.
De acordo com a secretária-geral da associação europeia, apesar do consumo per capita português se fixar nos 60 litros por ano (contra os 128 litros da República Checa, que lidera a tabela), Portugal é o país da Europa que lidera o consumo fora de casa, com 67%.
Atualmente, estima-se que o sector cervejeiro português seja representado por cerca de 120 empresas produtoras de cerveja, que, juntas, representam 1,53% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (2,6 mil milhões de euros).
Também o sector cervejeiro europeu gera um impacto económico considerável, com 40 mil milhões de euros em receitas fiscais e 52 mil milhões de euros em valor acrescentado. Quanto à empregabilidade em Portugal, o sector gera cerca de 98 mil empregos (dois milhões a nível europeu) e, embora a sua produtividade seja duas vezes superior à média nacional, os níveis poderiam ser superiores.
O evento da assembleia geral da Cervejeiros de Portugal contou ainda com um painel de discussão composto pelo economista e investigador João Duarte, a professora catedrática Conceição Calhau, a advogada e ex-presidente do GRACE, Margarida Couto, e a grã-mestre da Confraria da Cerveja, Teresa Apolónia, que debateram a cerveja sob os prismas da economia, saúde e bem-estar, sustentabilidade e cultura cervejeira.



