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REDWine prova que o CO₂ das adegas pode alimentar microalgas e abrir novas oportunidades para a indústria alimentar

A transição para modelos mais circulares na fileira agroalimentar acaba de ganhar um exemplo robusto com a conclusão do projeto europeu REDWine, que validou, em condições reais de operação, a viabilidade técnica e económica de utilizar o CO₂ libertado na fermentação do vinho tinto como recurso para o cultivo de microalgas. A iniciativa, em que a A4F Alga Fuel assume um papel de referência, marca um ponto de viragem no sector vitivinícola, demonstrando que o carbono gerado no processo enológico pode dar origem a produtos de valor acrescentado – alguns deles com aplicação direta na indústria alimentar.

A reunião final do projeto, acompanhada pela inauguração da unidade piloto instalada na Adega Cooperativa de Palmela, reuniu decisores políticos, entidades regionais e parceiros tecnológicos. A adega, que reúne 200 associados e gere mais de mil hectares de vinha, foi palco da apresentação dos resultados e da demonstração da tecnologia em operação.

Da vinha às algas: uma simbiose agroindustrial

O contributo da A4F Alga Fuel para o REDWine abre novas sinergias entre o sector industrial e a agricultura. Como explica Luís Costa, administrador da empresa, o projeto demonstra na prática como integrar duas cadeias de valor: “conseguimos utilizar o dióxido de carbono da fermentação do vinho tinto no cultivo de algas, que depois podem ser aplicadas como bioestimulantes na viticultura, fechando um circuito perfeito”.

A inovação estende-se também à gestão dos efluentes líquidos gerados durante a lavagem das cubas de fermentação. Aproveitar esta água – muitas vezes escassa nas regiões vitivinícolas – reduz a carga poluente e permite reutilização após o processo de cultivo das microalgas, reforçando a eficiência hídrica da adega.

Microalgas com potencial alimentar

A A4F instalou uma unidade de cultivo da microalga Chlorella, uma espécie amplamente utilizada nas indústrias alimentar e nutracêutica. A tecnologia validada no REDWine abre caminho à possibilidade de as adegas se tornarem, não apenas produtoras de vinho, mas também fornecedoras de CO₂ biogénico para aplicações industriais, incluindo o sector alimentar – uma proposta particularmente relevante num contexto de escassez e encarecimento do CO₂ de origem industrial.

Modelo de negócio replicável para adegas de diferentes dimensões

O projeto, coordenado pela AVIPE e financiado pelo programa Horizonte 2020, inclui análises de sustentabilidade, estudos técnico-económicos e um plano de negócios para replicação do modelo em adegas pequenas, médias e grandes. A unidade piloto de Palmela passa agora a funcionar como “montra tecnológica”, atraindo potenciais investidores e formando estudantes de biotecnologia e engenharia química.

Para Miguel Cachão, coordenador do REDWine, o legado da instalação é claro: “esta unidade pode demonstrar às adegas como capturar carbono biogénico e valorizar a biomassa de algas, abrindo uma nova fonte de riqueza num momento desafiante para o sector”.

Reconhecimento político e institucional

A visita inaugural contou com a presença do Ministro da Agricultura e Mar, que sublinhou a relevância estratégica do projeto para a adaptação climática: “precisamos destes projetos para combater os efeitos das alterações climáticas. O vinho faz parte da nossa economia, e é essencial que a investigação se traduza em soluções industriais”.

A presidente da Câmara de Palmela, Ana Teresa Vicente, destacou a importância da inovação no território, enquanto entidades regionais e nacionais do sector vitivinícola reforçaram o carácter pioneiro da iniciativa.

Consórcio europeu multidisciplinar

O REDWine envolveu 12 parceiros de seis países, representando áreas como biotecnologia, engenharia, filtração, I&D, agricultura e alimentos. Além da A4F e da AVIPE, participam entidades como o LEITAT (Espanha), ALGAMA Foods (França), Pervatech (Holanda), NOVIS (Alemanha), o Instituto Politécnico de Setúbal e o LNEG, entre outros.

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