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Metade dos portugueses afirma ter perdido poder de compra no último ano. Uma proporção que ultrapassa a média global (43%) e que está a moldar hábitos de consumo mais prudentes, racionais e centrados no essencial. As conclusões são do estudo “Purchasing Power 2025”, divulgado pela Havas Media Network, que retrata um consumidor nacional altamente pressionado pela inflação e resistente a comprometer despesas consideradas vitais.
A inflação é apontada como o principal obstáculo ao poder de compra por 84% dos portugueses, um valor que ajuda a explicar a forte proteção do chamado “trio sagrado”: alimentação, habitação e saúde. Segundo o estudo, 69% dos consumidores em Portugal recusam cortar gastos nestas categorias, um comportamento mais conservador do que o observado nos outros 11 mercados analisados.
Menos crédito, mais prudência
A cautela financeira dos portugueses destaca-se também no recurso a soluções de financiamento. Enquanto globalmente quase dois em cada dez consumidores dizem recorrer a crédito ou modalidades de pagamento prolongadas, em Portugal apenas um em cada dez o faz.
Quando a pressão orçamental obriga a ajustar despesas, a estratégia dominante continua a ser procurar alternativas mais baratas ou promoções (46%). Mas o dado que mais diferencia Portugal é o peso da desistência: 30% dos consumidores preferem abdicar totalmente da compra – muito acima dos 21% registados na média global.
Mesmo quando avançam com a compra, os portugueses revelam um processo extremamente racional: comparam preços entre lojas físicas e online, avaliam materiais e procuram garantias de durabilidade, num escrutínio permanente da relação qualidade-preço.
Um consumidor “duplo”: rápido no quotidiano, metódico nas compras importantes
O estudo identifica um consumidor português com comportamentos distintos conforme a natureza da compra. No dia a dia, toma decisões rápidas sobre bens essenciais, mas nas compras de maior valor é dos mais ponderados entre os países analisados.
Nas viagens, por exemplo, 41% demoram uma semana ou mais a decidir, contra apenas 12% no panorama global. Ao definir o que considera um “preço justo”, 55% baseiam-se em experiências pessoais passadas – outro indicador de prudência e memória económica que se destaca claramente da média internacional (41%).
A preferência por contacto direto também é evidente: 60% dos portugueses preferem lojas físicas, porque valorizam experimentar produtos e receber apoio presencial.
Marcas próprias: as grandes vencedoras
A pressão económica reforçou o papel das marcas próprias, que em Portugal atingem níveis de adesão muito superiores aos registados noutros países.
Nos produtos domésticos, 55% dos consumidores escolhem marcas próprias (face a 32% globalmente). Nos alimentos congelados, a diferença repete-se: 50% em Portugal contra 32% na média internacional.
A confiança acompanha a utilização: 89% dos consumidores portugueses consideram que a qualidade das marcas próprias é equivalente à das marcas tradicionais, um valor que supera claramente o observado nos restantes mercados.
Consumo mais racional e prioridades redefinidas
O estudo conclui que Portugal está a entrar num ciclo económico marcado por maior prudência, racionalidade e sensibilidade ao preço. Esta postura defensiva – combinando desconfiança em ferramentas financeiras complexas, forte escrutínio da relação preço-qualidade e priorização dos bens essenciais – coloca novos desafios a retalhistas, marcas e decisores públicos.
Metodologia
O Purchasing Power 2025 baseia-se em 9.017 entrevistas realizadas em 12 países entre 10 e 16 de julho de 2025. Em Portugal, foram inquiridas 501 pessoas, representativas da população nacional segundo género, idade, categoria socioprofissional e região. O estudo foi conduzido por metodologia CAWI (Computer Assisted Web Interview).
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