Portugal precisa de reciclar mais embalagens para conseguir cumprir as metas relativas à gestão de resíduos urbanos. “Sem resolver a questão das embalagens, será impossível cumprir as metas de reciclagem e a meta de desvio de aterro, para onde só poderemos enviar 10%. Não podemos esquecer que continuamos a enterrar ainda mais de metade dos resíduos urbanos”, sublinha o CEO do Electrão, Pedro Nazareth.
A problemática das embalagens, que acarreta um elevado impacto ambiental, é o tema da Semana Europeia da Prevenção de Resíduos, assinalada de 18 a 26 de novembro e a que o Electrão volta a associar-se.
Há mais de duas décadas que Portugal investe na reciclagem, mas os resultados continuam aquém do esperado e a tecnologia ainda não consegue resolver tudo. No ano passado, os valores de reciclagem e preparação para reutilização fixaram-se em 33%, revelando que há ainda um longo caminho a percorrer para alcançar as tão ambiciosas metas indicadas nas diretivas comunitárias: 55% em 2025, 60% em 2030 e 65% em 2035.
Se olharmos para os dados deste ano, nos primeiros dez meses foram recolhidas, seletivamente, 420.754 toneladas de embalagens, o que representa um aumento de apenas 1% face ao mesmo período do ano anterior, segundo os dados do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos Urbanos de Embalagens.
Detalhando os valores quanto ao tipo de resíduos, entre janeiro e outubro, os portugueses encaminharam para reciclagem 124.042 toneladas de papel/cartão e 80.345 toneladas de plástico, o que corresponde a um crescimento de 3% e 5%, respetivamente. Já o vidro encaminhado para reciclagem atingiu as 186.409 toneladas, registando-se um decréscimo de 2% face ao mesmo período de 2022.
Pedro Nazareth lembra que “o país só poderá ambicionar cumprir as metas de reciclagem de resíduos urbanos se o fluxo das embalagens aumentar significativamente a taxa de reciclagem”. Para o CEO do Electrão, “os cidadãos e as empresas têm de ser intervenientes ativos na hora de prevenir a produção de resíduos, separar e enviar para reciclagem”.
Embalagens representam metade do lixo marinho
As embalagens ajudam a conter, proteger, transportar e apresentar os produtos. Estão presentes em todas as etapas da cadeia de valor, do produtor ao consumidor, mas pressupõem um enorme impacto ambiental, já que as embalagens usadas que não são recolhidas e encaminhadas para reciclagem contribuem para a poluição do solo e representam já cerca de metade do lixo marinho.
A produção de embalagens aumentou mais de 20% nos últimos 10 anos na União Europeia, especialmente as embalagens de utilização única. Prevê-se que, até 2030, aumente mais 19%. A pandemia de Covid-19 pode ter acentuado ainda mais esta tendência, devido ao aumento das vendas online e da entrega de alimentos preparados ao domicílio. Dados da Comissão Europeia revelam que, em 2020, cada cidadão da União Europeia produziu, em média, 177 quilos de resíduos de embalagens e que, globalmente, atingiram-se 79,3 milhões de toneladas de resíduos de embalagens.
As embalagens usadas consomem grande parte dos recursos virgens. Na União Europeia, 40% dos plásticos e 50% do papel usados destinam-se a embalagens.
“É urgente apostar na prevenção de resíduos de embalagens, uma vez que só com a reciclagem não se consegue travar o problema. A reutilização de embalagens aumentou, na última década, segundo dados da Comissão Europeia, mas é preciso reforçar esta medida, fundamental para a estratégia de prevenção“, diz o Electrão, em comunicado.