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Em Portugal, com uma população de 10,7 milhões, estima-se que, até 2025, mais de 1 milhão de pessoas usarão smartwatches (relógios inteligentes). No entanto, apesar do seu apelo generalizado, uma questão importante permanece: estes dispositivos são realmente seguros no que se refere à nossa privacidade?
A empresa de cibersegurança Surfshark analisou as aplicações complementares aos dispositivos inteligentes mais populares para verificar quais respeitam a sua privacidade e quais podem recolher mais dados do que o esperado. As conclusões são surpreendentes.
“Ao comparar o número médio de tipos de dados que as aplicações complementares de óculos, anéis e relógios inteligentes recolhem, a categoria de relógios inteligentes lidera. Em média, as aplicações complementares de relógios inteligentes recolhem 11 tipos diferentes de dados entre 35. Os óculos inteligentes, em média, recolhem 9 tipos de dados, e os anéis inteligentes, 6. Embora a recolha de dados seja essencial para a funcionalidade destes produtos wearables, ela também abre as portas para publicidade direcionada. Isso envolve a exibição de anúncios de terceiros dentro da aplicação ou o compartilhamento de dados com parceiros que gerem estes anúncios”, diz Luís Costa, líder de investigação da Surfshark.
Recolha de dados
Na categoria dos óculos inteligentes, apenas a Meta AI e a Solos AirGo indicam que alguns dados dos utilizadores podem ser utilizados para publicidade de terceiros. A Solos AirGo indica que um tipo de dados é utilizado para este fim. Em contrapartida, a Meta AI declara 24 tipos únicos, abrangendo uma vasta gama de categorias, incluindo localização, contactos, informações financeiras, conteúdo do utilizador, histórico de pesquisa ou navegação, entre outros.
Na categoria de anéis inteligentes, a Ultrahuman especifica que utiliza dados do utilizador para publicidade de terceiros. Isso inclui endereços de e-mail, IDs de utilizador ou dispositivo, interações com produtos e dados publicitários. Curiosamente, na categoria de relógios inteligentes, a CMF Watch e a CASIO WATCHES podem até utilizar dados para fins de rastreamento, com a CMF Watch a recolher endereços de e-mail e a CASIO WATCHES a recolher dados categorizados como outros dados de utilização.
De acordo com L. Costa, as pessoas devem preocupar-se com o motivo pelo qual as aplicações recolhem dados dos seus utilizadores, pois as práticas de recolha de dados destacam como esses dispositivos podem facilmente transformar-se em ferramentas de vigilância. Como muitas pessoas costumam usar vários dispositivos simultaneamente, tal como o anel Oura, o smartwatch da Apple e, possivelmente, até mesmo os óculos inteligentes Ray-Ban Meta, os riscos no que toca à privacidade podem aumentar significativamente. Além disso, a crescente integração da inteligência artificial levanta preocupações sobre a segurança de dados pessoais sensíveis, particularmente dados biométricos imutáveis, assim como o potencial para o seu uso indevido.
Privacidade
“O conselho essencial para as pessoas que não conseguem viver sem um dispositivo inteligente é verificar e ler sempre as políticas de privacidade. É fundamental garantir que os utilizadores estejam totalmente informados sobre quem pode aceder aos seus dados e para quais fins, no sentido de evitar riscos como violações de cibersegurança, uso indevido de dados e violações de consentimento. Embora o volume de dados recolhidos seja vasto, uma grande parte deles pode ser processada sem o conhecimento ou controlo explícito dos utilizadores, incluindo potencialmente a utilização por terceiros“, afirma L. Costa.
L. Costa acrescenta ainda que os documentos de política de privacidade são frequentemente difíceis de compreender, levando à “fadiga da privacidade”: os consumidores sentem-se sobrecarregados com divulgações frequentes e longas e acabam por se desligar.
Esta questão foi destacada noutro artigo de investigação recente sobre privacidade em tecnologias vestíveis para consumidores, publicado na prestigiada revista de alto impacto Springer Nature, que observou que a política de privacidade mais longa que analisaram tinha 12.125 palavras e a mais curta tinha 4.408 palavras.