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No universo dos transportes rodoviários de mercadorias, muitas variáveis escapam ao controlo dos operadores: o tempo, o trânsito imprevisível, as oscilações do preço do combustível. No entanto, existe um fator silencioso e omnipresente que pode ser decisivo para a sustentabilidade financeira e ambiental das operações — o peso dos veículos. Num sector onde cada minuto e cada cêntimo contam, a tendência tem sido ignorar o impacto real de transportar umas toneladas a mais, mas os números mostram que esta decisão pode custar caro.
A discussão em torno do peso dos veículos ganhou novo fôlego com as recentes metas impostas pela União Europeia para a redução das emissões de CO₂. Até 2030, os fabricantes de camiões terão de cortar 45% das emissões dos seus veículos. Em 2040, esta fasquia sobe para impressionantes 90%. Estas metas não se aplicam apenas aos novos veículos: as frotas já em circulação também terão de melhorar a sua eficiência para se manterem conformes com a regulamentação.
Paralelamente, países como a Alemanha já começaram a aplicar um modelo de portagens diferenciadas, onde o valor pago por quilómetro depende da classe de emissões do veículo. Este sistema, em vigor desde 2023, ainda não mede o CO₂ real, nem o consumo efetivo, mas prepara o terreno para um futuro em que cada grama de carbono emitido será contabilizado. O objetivo é óbvio: incentivar os operadores a utilizar os veículos mais adequados para cada serviço e a adotar estilos de condução mais eficientes.
O resultado é que, para além das pressões ambientais, o operador sente agora um aperto financeiro cada vez maior, num contexto em que os preços dos combustíveis continuam a escalar. O peso do veículo deixa de ser apenas um tema de sustentabilidade e passa a ser uma questão de sobrevivência económica.

O impacto real do peso: o que dizem os dados?
Apesar do conhecimento generalizado de que o peso afeta o consumo, poucos operadores conseguem medir o impacto ao detalhe. É aqui que entram os dados reais, recolhidos por sistemas de telemática de empresas como a Eurowag, que monitorizam milhares de camiões em operação em toda a Europa.
Segundo Jaroslav Altmann, diretor de I&D da Eurowag, cada tonelada extra resulta, em média, num acréscimo de 0,25 litros no consumo de combustível por cada 100 km percorridos. À primeira vista, este valor pode parecer insignificante, mas multiplique-se por três toneladas e por centenas de milhares de quilómetros anuais, e o resultado é um aumento substancial de custos.
Altmann salienta: “mesmo pequenas diferenças no peso total traduzem-se em custos mais elevados a longo prazo. Em situações de tráfego intenso, uma diferença de algumas toneladas pode representar milhares de coroas por mês em custos adicionais, mesmo com uma condução exemplar”.
Os dados mostram ainda que o impacto do peso é especialmente notório em ambientes urbanos, onde os arranques e travagens constantes tornam cada quilo adicional mais penalizador para o consumo. Em autoestrada, a variação é menor, mas ainda assim relevante, sobretudo em trajetos longos com carga máxima.
As operações de “última milha”, as entregas em zonas de acesso condicionado e o tráfego de estaleiros urbanos tornam este tema ainda mais premente. O peso torna-se um fator-chave na equação da eficiência, afetando tanto as empresas de grande escala como os pequenos operadores.

Estratégias para diminuir o peso
Se o peso é um dos poucos fatores sob controlo direto do operador, o desafio é: como reduzi-lo sem comprometer a operação?
- Gestão do combustível: um depósito cheio de 600 litros pode adicionar meia tonelada ao peso total. Em percursos curtos e com regresso frequente à base, pode ser mais económico abastecer menos combustível por viagem, reduzindo o peso sem afetar a eficiência.
- Revisão do equipamento: muitos camiões transportam diariamente equipamentos pesados (macacos, suportes, dispositivos tecnológicos) que nem sempre são necessários para todas as rotas. Uma análise crítica do que é realmente indispensável pode fazer a diferença.
- Otimização da carga: em muitos casos, o volume da carga é priorizado em detrimento do peso — um erro comum, sobretudo em trajetos urbanos. Uma melhor distribuição e preparação da carga pode reduzir o esforço exigido ao veículo e, consequentemente, o consumo.
- Substituição de componentes: a escolha de materiais mais leves nas carroçarias e reboques — sem comprometer a segurança — pode representar a diferença de centenas de quilos.
- Perfis de peso por missão: algumas empresas já recorrem à criação de modelos simples que associam tipos de encomenda, rotas e veículos, facilitando a identificação de onde normalmente se concentram os maiores pesos e, assim, onde atuar.

Pequenas mudanças, grandes resultados
O mais interessante é que controlar o peso raramente exige grandes investimentos em tecnologia de ponta. Ajustes pontuais na planificação das cargas, uma revisão criteriosa do equipamento transportado ou uma simples alteração nos hábitos de abastecimento podem traduzir-se em ganhos reais e mensuráveis.
Jaroslav Altmann reforça: “os nossos dados mostram claramente que até pequenas variações no peso total afetam o consumo. Seja ao limitar o volume de combustível em trajetos curtos ou ao escolher materiais mais leves, o impacto no custo operacional é real e mensurável”.
No novo paradigma europeu, com portagens ligadas às emissões e custos de combustível em alta, o controlo do peso emerge como uma verdadeira alavanca competitiva. É, talvez, o único fator totalmente sob gestão direta do transportador — uma vantagem cada vez mais rara num mercado repleto de incertezas.
A mensagem para o sector é clara: cada quilo conta. Seja na escolha do veículo certo para cada missão, na revisão regular do equipamento embarcado, ou no simples planeamento da distribuição da carga, o caminho para a eficiência é feito de pequenas escolhas diárias.
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