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As famílias portuguesas estão a mostrar maior prudência nas suas decisões de consumo, com destaque para o adiamento de compras importantes como automóveis e eletrodomésticos. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), a confiança dos consumidores estabilizou em junho, mas mantém-se em níveis negativos, refletindo um ambiente de incerteza e contenção financeira.
De acordo com o inquérito mensal de conjuntura, o indicador de confiança das famílias manteve-se em -16 pontos, o mesmo valor de maio. Apesar de ter havido uma recuperação face ao abalo provocado pelas tarifas “recíprocas” dos Estados Unidos em abril, o cenário continua a ser de pessimismo. A estabilização resulta de uma ligeira melhoria na perceção da situação financeira dos agregados e das expectativas económicas futuras, mas insuficiente para alterar o panorama geral.
Compras futuras
O indicador relativo à realização futura de compras importantes agravou-se, passando de -28,8 para -30,4 pontos. Este é o valor mais baixo desde junho de 2024, o que demonstra uma clara retração nas intenções de adquirir bens duradouros.
Este comportamento é influenciado por uma forte desaceleração no crescimento dos rendimentos reais das famílias, que passaram de 2% no final de 2023 para apenas 0,5% até março de 2025.
Com menor margem de manobra financeira e maior incerteza sobre o futuro, os consumidores estão a focar-se em bens essenciais e a reforçar o esforço de poupança. A taxa de poupança manteve-se elevada no primeiro trimestre do ano, descendo apenas ligeiramente de 12,5% para 12,4%.
Esta tendência de cautela não é exclusiva de Portugal. Os inquéritos de conjuntura da União Europeia mostram que vários países enfrentam o mesmo cenário, com destaque para Luxemburgo, Grécia, França e Alemanha. A redução do consumo privado, especialmente de bens duradouros, poderá ter implicações diretas no crescimento económico, uma vez que representa uma fatia importante do Produto Interno Bruto (PIB).