“Queremos abrir o caminho das exportações à produção nacional, ao abrir novos mercados”

Bruno Pereira, administrador de Compras do LIDL Portugal
Bruno Pereira, administrador de Compras do LIDL Portugal

A pandemia de Covid-19 veio potenciar, ainda mais, a vontade de consumir nacional. Face à crise despoletada pelo novo coronavírus, cerram-se as fileiras em torno do que é nosso, de modo a proteger a economia e os postos de trabalho. Mas se esta é uma tendência que ganha uma renovada visibilidade do lado do consumo, a montante, existe já todo um trabalho consolidado e sustentado, de largos anos, de modo a oferecer o que de melhor se faz em Portugal. O bom momento que as exportações portuguesas viviam, designadamente as de produtos agroalimentares, no período pré-pandemia, deve-se, em larga medida, ao trabalho que está a ser feito por operadores como o Lidl que, tendo reconhecido a qualidade inequívoca do que é produzido no país, tem procurado agir como um facilitador da venda dos produtos nacionais nos vários mercados onde opera. Um trabalho que deixa Bruno Pereira, administrador de compras do Lidl Portugal, particularmente orgulhoso e satisfeito e que ganhou, até, um novo impulso com a pandemia, pela parceria com os fornecedores na busca de soluções de escoamento dos seus produtos, numa altura em que muitos dos seus habituais canais de venda se viram obrigados a fechar portas.

 

Não se pode dizer que tenha sido a pandemia a motivar o foco do Lidl Portugal nas exportações, porque essa aposta é de longa data e remonta, até mesmo, há 25 anos, quando o grupo retalhista alemão arrancou com as suas operações no mercado nacional. Certo é que, fortemente comprometido com o apoio à produção nacional, devido à pandemia, houve até uma certa aceleração de alguns processos de decisão e da introdução de novas referências. “Com a pandemia, a nossa preocupação foi manter todos os acordos, e até mesmo reforçá-los, para podermos chegar ainda mais longe no que diz respeito ao apoio à produção nacional. Algumas decisões e alguns negócios foram concluídos mais rapidamente. Houve, até, uma certa aceleração da introdução de algumas referências, com alguns atalhos para ajudar os nossos fornecedores a terem novos canais para poder escoar os produtos”, confirma Bruno Pereira, administrador de compras do Lidl Portugal.

Esta é, de resto, também, a missão do retalho organizado, a de promover oportunidades de negócio onde elas possam existir, confirma o responsável. “Se todos conseguirmos fazer negócios e estabelecer relações duradouras, todos temos a ganhar, desde o início ao final da cadeia de valor. A nossa preocupação é com o shopper, mas também é com os nossos parceiros, junto de quem temos uma grande responsabilidade”.

 

Aposta na qualidade

A qualidade da produção nacional não é uma novidade para o Lidl Portugal, que há muito se comprometeu a ter cada vez mais referências à venda nas suas lojas. “Temos um compromisso, já de alguns anos, em que a quase totalidade da nossa carne é de origem nacional, excetuando a picanha da América do Sul. Acreditamos que a nossa solução de venda de carne garante a melhor qualidade do produto, da origem até ao destino, na casa do consumidor. Também acreditamos na nossa responsabilidade social e ambiental. Vamos continuar a apostar em carne nacional, nesta lógica de qualidade consistente. Temos um conjunto de parceiros, na área da carne, que trabalham connosco há vários anos. Estamos muito orgulhosos do trabalho que temos desenvolvido em conjunto, num mercado que, há 10 anos, era praticamente inexistente, o da carne embalada”, reitera.

Também no que diz respeito às frutas e legumes, 60% a 70% da oferta disponível nas lojas do Lidl em Portugal são de origem nacional. “Não conseguimos ter tudo, durante todo o ano, mas o nosso compromisso é o de continuar a aumentar essa percentagem. Temos vindo a desenvolver um trabalho de base com um pequeno fornecedor de batatas biológicas, pelo que, neste momento, temos nas nossas lojas batatas biológicas 100% nacionais, trabalhadas em exclusivo para nós. Estamos também a fazer uma mudança significativa no que diz respeito ao fornecimento de tomate e a aumentar o abastecimento de produto nacional no nosso sortido. Em tudo o resto, onde conseguirmos ter fornecedores nacionais de qualidade, que cumpram com as nossas normas de certificação, com o abastecimento constante e dentro dos prazos, será também a nossa opção. Mais de 50% do nosso volume de compras é feito a produtores nacionais”, sublinha.

 

Loja-Lidl-Entrecampos_Padaria

 

Qualidade

Ora, a qualidade inequívoca da produção nacional começa também a conquistar os consumidores de outros mercados onde o Lidl está presente. Se, no início, há 25 anos, os volumes de exportação eram muito residuais, nos últimos anos, houve um claro incremento do relacionamento com os produtores nacionais. Atualmente, os artigos exportados, no âmbito ao apoio à produção nacional, traduzem-se numa variedade alargada de produtos, num total de 228 referências, que chegaram a 27 países europeus, o equivalente a 150 milhões de euros.

Atuando como interlocutor e dando apoio em todas as etapas do processo, o Lidl já ajudou a exportar produtos como leguminosas, bacalhau, salgados, pão, piripiri, pera rocha, couve coração, entre muitos outros. No cabaz dos produtos exportados em 2019, destacam-se 20 mil toneladas de frutas e legumes para o mercado europeu, um número recorde. Nesta categoria incluem-se produtos como a pera rocha, couve coração e frutos vermelhos, entre outros, assim como a laranja do Algarve, cujo início da exportação para a Alemanha foi a grande novidade na categoria. A exportação do bacalhau de pesca sustentável teve, igualmente, uma performance bastante positiva, registando um aumento de 20% face a 2018, para países como a Bélgica, França, Holanda e Suíça.

“Não podemos esquecer todo o enorme salto qualitativo que a indústria agroalimentar portuguesa deu nos últimos nove anos. Temos assistido a uma evolução extraordinária na qualidade e na quantidade do ‘output’ da nossa indústria agroalimentar”

 

Um minucioso trabalho de casa

O tema das exportações começou a ganhar especial relevância em 2013. O reforço da aposta na exportação de frutas e legumes esteve também ligado, não na fase inicial, mas após, com o embargo russo às importações da União Europeia. “Também não podemos esquecer todo o enorme salto qualitativo que a indústria agroalimentar portuguesa deu nos últimos nove anos. Temos assistido a uma evolução extraordinária na qualidade e na quantidade do ‘output’ da nossa indústria agroalimentar”, sublinha Bruno Pereira. Paralelamente, nos últimos anos, Portugal também tem beneficiado do “boom” do turismo, o que faz com que os produtos nacionais sejam muito mais visíveis em toda a Europa, “porque não há melhor marketing do que a experimentação”.

Quem experimenta gosta e os números assim o comprovam. A pera rocha, que começou à venda, em 2014, em 100 lojas, agora está presente em mais de três mil pontos de venda na Alemanha. “Quando dizemos que exportámos, leia-se que ajudámos a exportar. Somos um mero facilitador das exportações e os contratos são realizados com as sucursais de cada um dos países. Por exemplo, se um produto vai para 10 países, terá um contrato com cada um deles. A nossa preocupação é, de facto, dar todo o apoio à nossa produção nacional para que, quando o produto chega ao local de decisão, que é a loja, tenha todas as condições para triunfar. Não basta ser bom, tem de ter o packaging certo, a publicidade certa”.

 

Citrinos do Algarve

Veja-se o caso dos citrinos do Algarve, cuja exportação para a Alemanha arrancou nos últimos meses. “Tudo começou com uma relação, de há já vários anos, com o Lidl Portugal e da adaptação aos nossos critérios de qualidade, que são bastante mais restritivos que os critérios legais, e às especificidades muito próprias em termos logísticos, de apresentação em loja, etc. Do nosso lado, iniciámos algumas ações de marketing interno, em que falámos com os nossos colegas dos outros países a promover a qualidade dos nossos citrinos. No caso da laranja, enviámos amostras dos produtos, trabalhámos com os produtores ao nível do packaging, uma vez que, se em Portugal estamos muito habituados a consumir produtos a granel, em vários mercados europeus, isso é associado a menor qualidade. Finalmente, no passado dia 4 de janeiro, eu e o meu colega administrador da área de frutas e legumes da sede, na Alemanha, estivemos a visitar laranjais no Algarve e a unidade de embalamento e tratamento das laranjas. Com base no que observámos, disponibilizámos alguns consultores internos para proceder a pequenas adaptações, de modo a tornar os nossos produtores mais eficientes – os ganhos que eles conseguirem são os nossos ganhos e transmitimo-los para o consumidor final – e iniciámos a exportação. Nas primeiras semanas, já tínhamos exportado cerca de 390 toneladas de citrinos do Algarve para o mercado alemão”, detalha.

“É importante que os produtores tenham consciência que, para a maior parte dos nossos produtos, se nos formos bater pelo preço, não temos qualquer hipótese. A escala de produção de laranjas de Espanha não tem nada a ver com a nossa, pelo que o preço não pode ser o campo de batalha. O que temos, sim, é fazer valer o nosso terroir único, o que resulta em laranjas com um teor de sumo superior às existentes em Espanha e mais doces, o que as torna diferenciadoras”

No ano fiscal passado, as exportações de frutas e legumes cresceram cerca de 33%. Entre março e abril deste ano, os dois primeiros meses do novo ano fiscal, já estavam a crescer 30% acima do período homólogo. O segredo está, de facto, na máxima qualidade ao melhor preço, garante Bruno Pereira. “O preço é sempre um tema, mas conta, sobretudo, a qualidade. É importante que os produtores tenham consciência que, para a maior parte dos nossos produtos, se nos formos bater pelo preço, não temos qualquer hipótese. A escala de produção de laranjas de Espanha não tem nada a ver com a nossa, pelo que o preço não pode ser o campo de batalha. O que temos, sim, é fazer valer o nosso terroir único, o que resulta em laranjas com um teor de sumo superior às existentes em Espanha e mais doces, o que as torna diferenciadoras face à oferta espanhola e do hemisfério Sul. Além disso, temos condições climatéricas únicas no Algarve que permitem ter uma campanha da laranja com uma duração muito superior à espanhola”, exemplifica.

 

Loja-Lidl-Vila-Franca-de-Xira_Sumo-de-Laranja

 

Alargamento do portfólio

O Lidl Portugal viu as exportações de produtos nacionais aumentarem ligeiramente (pouco mais de 1%), no último ano fiscal, face aos 148 milhões de euros exportados no homólogo. Números que saem prejudicados face às estimativas iniciais, em função do excesso de produção generalizada de azeite na Europa, durante na última campanha. “Trabalhamos num mercado em que o preço de algumas matérias-primas é bastante volátil. Se retirarmos o azeite da equação, tivemos um crescimento de dois dígitos”, garante Bruno Pereira. “Estamos muito satisfeitos com o que se passa nas frutas e legumes e com os vinhos, de que, em 2019, exportámos três milhões de garrafas de vinho tranquilo, para 15 países, e mais quatro milhões de garrafas de vinho do Porto”.

“Presentes em mais de 30 países, somos a cadeia número um de distribuição alimentar na Europa e queremos abrir o caminho das exportações à produção nacional a novos mercados”

O vinho é também um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, há algum tempo, pelo Lidl Portugal e que tem visto os números multiplicarem nos últimos dois a três anos, num reconhecimento da sua relação preço/qualidade. A vontade é replicar este trabalho e os seus resultados no universo dos queijos, não obstante haver a consciência de que ainda existe aqui um longo caminho a percorrer, em termos de visibilidade internacional, se comparado com França, Itália ou mesmo com Espanha. “Temos algumas dificuldades em termos de escala”, partilha o responsável. “Um dos segredos do sucesso das frutas e legumes são, precisamente, as nossas parcerias, nomeadamente com a Portugal Fresh. Falta em Portugal esse espírito de maior cooperação e de encontro de sinergias, designadamente nos queijos. Esperamos, no futuro, vir a colher os frutos de todo o trabalho que estamos a fazer. Já fizemos algumas exportações pontuais de queijo açoriano e acreditamos que, com a relação de preço/qualidade que os nossos queijos têm, haja uma maior constância no fornecimento”.

Loja-Lidl-Frutas-e-Legumes

Compromisso

Dando continuidade ao seu compromisso com o país e com os fornecedores portugueses, cumprindo o duplo objetivo de impulsionar a economia e a produção nacionais, o Lidl vai continuar a apostar em levar o que de melhor se faz em Portugal para os vários mercados onde opera. “Presentes em mais de 30 países, somos a cadeia número um de distribuição alimentar na Europa e queremos abrir o caminho das exportações à produção nacional a novos mercados”, reforça. Para já, o foco é mesmo a Europa, não havendo, de momento, produtos portugueses presentes nas prateleiras das lojas Lidl nos Estados Unidos da América. “Fizemos alguns testes com dois ou três produtos, no ano passado, mas a aceitação dos clientes não foi particularmente positiva, pelo que, neste momento, não temos nenhum produto de origem nacional à venda no mercado norte-americano. Estamos a fazer algum trabalho para voltar a ter”, garante.

A Alemanha continua a ser o principal mercado de destino dos produtos exportados com ação direta do Lidl Portugal, a que se juntam França, Suíça, Luxemburgo, Espanha e Reino Unido, com destaque para os vinhos portugueses. Dinamarca, Irlanda ou Polónia são também países onde existem produtos portugueses em permanência.

O crescimento das exportações de produtos nacionais para a esfera internacional do Lidl será, sempre, por via de novas categorias e reforço dos volumes nos já exportados, fazendo, assim, valer características organoléticas únicas e diferenciadoras. “Fico muito satisfeito por manter crescimentos acima de dois dígitos, no que diz respeito à exportação. O facto dos consumidores de outros mercados já confiarem comprar frutas e legumes portugueses é das melhores validações do trabalho que fazemos, em conjunto com os nossos parceiros”, conclui.

Entrecampos_wine section

Antonio Lopes Dias, diretor executivo da ANIPLA. © Nuno Fox

“Garantir alimentos suficientes para 10 biliões de habitantes amanhã será a grande corrida para todo o planeta”

Mercadona

“O que queremos é criar um projeto de longo prazo, de crescimento partilhado e sustentável”