A Unicre, em parceria com a Parcela Já, lançou uma solução que permite aos consumidores parcelarem os pagamentos de compras em loja, sem juros nem comissões. De acordo com Luís Gama, Chief Marketing Officer da Unicre, esta solução vem oferecer mais flexibilidade e conveniência aos clientes, bem como apoiar a digitalização dos pagamentos no comércio físico, pois permite aos comerciantes aumentarem as vendas e fidelizarem os clientes, sem custos adicionais. Acima de tudo, vem permitir que os comerciantes “aceitem sempre todos os meios de pagamento possíveis, para que nunca percam uma venda”, diz o responsável. Uma das grandes tendências do retalho, pela simplicidade e personalização dos pagamentos, a solução Buy Now, Pay Later é a aposta da Unicre para os próximos anos.
Grande Consumo – A Unicre lançou recentemente uma solução para possibilitar o parcelamento dos pagamentos de compras em loja, em parceria com a Parcela Já. Quais são os objetivos deste lançamento? Trata-se de mais uma ferramenta para apoiar a digitalização dos pagamentos?
Luís Gama – Este lançamento surge em linha com aquele que é o nosso propósito: criar experiências de pagamento que sejam realmente únicas e que aumentem valor para os nossos clientes e para o sector económico, em geral. A Reduniq tem, desde sempre, um papel relevante na economia, na forma como tem potenciado novo negócio e contribuído para a digitalização. Portanto, temos uma responsabilidade, em termos de relevância estrutural para a economia, para além de comercial, embora não escondamos que, obviamente, a nossa primeira preocupação é acrescentar valor aos nossos acionistas. Por isso, quando optamos por fazer um movimento tecnológico, temos de ter a certeza que o que estamos a fazer é muito sólido, porque não ser significa causar um impacto a dezenas de milhares de comerciantes e criar desconfiança.
A digitalização está cada vez mais acelerada e queremos contribuir muito para essa aceleração da digitalização da economia, acrescentar valor e rentabilidade aos nossos acionistas e contribuir para que os nossos comerciantes e os nossos clientes aumentem o negócio, que é o propósito fundamental deste produto.
GC – Era urgente trazer este tipo de soluções para as lojas físicas?
LG – Era também importante que a loja física pudesse ter uma panóplia mais ampla de meios de pagamento para os consumidores. Em muitos negócios, vemos um ou dois meios de pagamento e há imensos estudos a provar que isso limita imenso o consumo. Se entrar numa loja com uma nota de 50 euros, o que me interessa custar mais do que isso e não aceitarem cartão ou outro meio de pagamento que não seja o dinheiro, não vou fazer aquele consumo.
É fundamental que os negócios e os comerciantes aceitem o maior número possível de meios de pagamento. O nosso grande objetivo é garantir que os nossos clientes não perdem uma única venda e, se for possível, que até aumentem as vendas com soluções como esta. Sabemos perfeitamente desta necessidade de fracionar. É uma tendência e há vários indicadores e fontes que apontam para um crescimento de cerca de 25% ao ano. Há países onde é já uma prática normal e a compra é sempre feita com fracionamento. No nosso caso, o que vemos muitas vezes acontecer é haver dúvidas se é possível, ou não, fracionar o pagamento das compras. Com esta solução, deixa de ser uma incerteza e pode-se fracionar com qualquer cartão.
GC – Quais são os grandes aspetos distintivos desta solução, quer para os comerciantes, quer para os consumidores?
LG – É exatamente a possibilidade do comerciante tranquilamente poder dizer ao seu cliente “tenho uma solução para dividir o seu pagamento em duas ou em três vezes, ou em quatro, cinco ou seis parcelas, aquelas que der mais jeito”. Para o cliente, não tem qualquer custo adicional.
O comerciante paga um extra, que, basicamente, é o que nos permite cobrir o risco, que o comerciante não corre. O produto é vendido, o comerciante recebe o valor nesse mesmo dia e é a Unicre que assume a responsabilidade e o risco. Portanto, depois, é nossa competência, através desta nossa solução altamente flexível, conseguir fazer a cobrança ao cliente. Isto cria uma oportunidade para o vendedor, que não tem de estar preocupado se o cliente tem ou não dinheiro. Desde que o cliente tenha um meio de pagamento digital, passa o cartão de qualquer banco e fica resolvido.
Estava a faltar uma solução, até um pouco disruptiva do que têm sido outras abordagens, de ir para o mundo físico, porque é lá que acontece a maior parte das dificuldades. A vantagem de um parceiro nacional como a Reduniq, que vai fazer 50 anos em 2024, é conhecer muito bem a realidade. Independentemente das vantagens dos outros “players”, estamos no terreno, conhecemos as necessidades e estamos próximos dos nossos parceiros. Foi por isso que optámos por lançar esta solução.
GC – O “branding” Unicre ajuda a vender?
LG – Estas soluções precisam de uma característica importante, que é a credibilidade. Do nosso ponto de vista, é fundamental ter uma imagem de confiança, como é o caso da da Unicre, por toda a sua história e pela proximidade aos parceiros. Nos últimos tempos, temos usado, precisamente, isto como argumento competitivo relativamente a outros concorrentes que estão a entrar no mercado. Temos este aspeto fundamental de estar no terreno, de conhecer as pessoas, de falar o seu idioma, de sentir as suas dores. Portanto, esse aspeto é a chave do o próprio lançamento e colocação no mercado desta solução.
“Era também importante que a loja física pudesse ter uma panóplia mais ampla de meios de pagamento para os consumidores. Em muitos negócios, vemos um ou dois meios de pagamento e há imensos estudos a provar que isso limita imenso o consumo. Se entrar numa loja com uma nota de 50 euros, o que me interessa custar mais do que isso e não aceitarem cartão ou um outro meio de pagamento que não seja o dinheiro, não vou fazer aquele consumo”
GC – Consideram que o Buy Now, Pay Later é uma das grandes tendências do retalho, atualmente?
LG – O que sentimos, no terreno, é que há um grande entusiasmo em torno do Buy Now Pay Later. As tendências estão cá, segundo apontam os números dos últimos quatro anos. Penso que este tipo de solução foi ajudado pelo próprio momento, um período de maior inflação e de algum esforço adicional pedido às famílias, pelo que tem maior procura.
Olhamos também para outros países, onde se faz a compra fracionada há anos, e nalguns é a prática generalizada. É uma tendência que estamos a verificar noutros mercados, todos com um crescimento anual na ordem dos 20% a 25%. Portanto, a nossa grande aposta, para os próximos anos, enquanto produto, é o Buy Now, Pay Later.
GC – E que outras tendências podemos detetar? O que podemos esperar num horizonte a cinco anos?
LG – Fizemos um investimento muito grande no desenvolvimento desta solução, em parceria com a Parcela Já, não só do ponto de vista tecnológico, mas também em termos de equipamentos. Isto criou um espaço para outra grande tendência, que é a substituição dos terminais clássicos.
Uma das grandes tendências atuais é a digitalização dso pagamentos. Hoje, em Portugal, cerca de 59% dos pagamentos ainda é feito em dinheiro, portanto, sabemos que vai acelerar muito. Estamos todos empenhados nesse sentido, porque é mais conveniente para todos os participantes na economia digital.
Obviamente, o “contactless” vai continuar a aumentar e muito. Estamos nos 80%, mas ainda há muita limitação, pelo facto de só se poder fazer uma compra até um determinado montante. Nos noutros países, não há essa limitação, portanto, acreditamos que a tendência vai continuar a acentuar-se.
O fracionamento, ou o pagamento em prestações, também se vai acentuar pelas necessidades que já referimos e que se vão manter, em termos de inflação e responsabilidade financeira. Portanto, é um produto que também vai fomentar um maior consumo e que trará valor para o consumidor e para o comerciante. É uma solução fundamental para contribuir para o aumento de vendas e para a digitalização da economia.
GC – Que papel poderá desempenhar a inteligência artificial no desenho desse mesmo futuro? Que oportunidades se abrem e que novos desafios também se colocam?
LG – Há um ano e meio, não falávamos de inteligência artificial e, de repente, estamos a utilizar a tecnologia a um ritmo incrível, para fazer desde pequenos vídeos, artigos e sugestões de como lançar o nosso próximo produto. O assistente de inteligência artificial é hoje comumente utilizado em vários sectores.
Na Reduniq, usamos a inteligência artificial há vários anos. Desde logo, numa primeira fase, na gestão, em parceria com a área de sistemas, para antecipar e corrigir falhas automaticamente. Mas também em termos de fraude, por exemplo, é das primeiras áreas de utilização da inteligência artificial e já estamos há vários anos a tirar benefício destas soluções. Há cerca de dois anos, começámos a usar bastante na análise de risco, para perceber comportamentos e padrões sobre determinada opção de concessão de crédito e para aferir se tem mais probabilidade de trazer problemas para a instituição financeira.
GC – Quando falamos em conceitos como “contactless” e online, há sempre associada alguma ideia de risco. Que trabalho tem vindo a Unicre a desenvolver para contrariar esse tipo de ideias? Consideram que é necessário fazer um trabalho mais profundo junto os utilizadores, em termos de literacia financeira e digital?
LG – Para a Unicre, desde sempre, o tema da segurança foi uma das suas preocupações. Não necessariamente a segurança tecnológica, que é sempre aquela que, de imediato, nos lembramos, como a cibersegurança e os ciberataques, mas a todos os níveis, desde o terminal físico até à forma como trocamos informação.
Em termos concretos, e nos últimos anos em particular, fizemos um investimento muito grande, de muitos milhões de euros, em termos de tecnologia, para sermos certificados PCI DSS, que é algo que nos orgulha imenso. PCI DSS é um “framework” de segurança dos sistemas de pagamento internacionais, portanto, VISA, Mastercard, Amex, todos estes confluíram num equilíbrio de exigências de segurança que entidades como a Unicre devem cumprir. E nós, enquanto “acquirer” nacional, somos os únicos com esta certificação.
Foi um esforço enorme, que nos obrigou a fazer alterações de soluções tecnológicas e investimento em tecnologia, mas há quatro anos conseguimos obter esta certificação. E, mais difícil ainda, conseguimos a re-certificação. O ano seguinte é sempre mais complexo, porque este “framework” exige níveis cada vez maiores de defesa e de segurança, a todos os níveis, e há muitas organizações que, por vezes, não conseguem renovar. Esse tem sido um exemplo concreto de que a segurança, para nós, é fundamental.
Também com os nossos parceiros, os nossos principais comerciantes, trabalhamos nesse sentido e alguns deles têm também de ser certificados. Trabalhamos a par, ombro a ombro, para que tenham esse nível de segurança.
O outro aspeto é a nossa abordagem Zero Trust, ou seja, dentro da organização, temos uma metodologia nas áreas da segurança em que, basicamente, assumimos o seguinte: “não tenho confiança em ninguém, nem em mim próprio, nem no meu equipamento”. Tipicamente, os maiores problemas de segurança surgem dentro das organizações, portanto, esta tem sido a prática e metodologia que a Unicre tem utilizado para a garantir. Os nossos colaboradores têm formação nestas áreas, fazemos ações próprias de phishing e de ataque interno para tentar identificar comportamentos de risco. E comunicamos muito, interna e externamente, porque a comunicação acaba sempre por ser o aspeto que é mais valorizado pelos especialistas na defesa dos sistemas de segurança.
GC – Que novos projetos se encontra atualmente a Unicre a desenvolver? Podemos esperar o lançamento de novas soluções no mercado, brevemente?
LG – Há uma solução, que pode realmente ser transformadora no futuro dos pagamentos, que é a utilização de equipamentos móveis, portanto, de aplicações de pagamentos, sem a necessidade de ter um meio físico, ou seja, o que chamamos de soft-POS.
Hoje, temos uma aplicação, e em breve teremos uma segunda, que os nossos comerciantes – ou mesmo quem não o é – podem fazer o download para o seu smartphone, para já só em Android e a partir do segundo semestre do próximo ano também na família Apple. Através dessa aplicação, podem aceitar pagamentos em qualquer smartphone. Isto, como devem imaginar, vai maximizar a capacidade de uma organização de aceitar pagamentos. Qualquer elemento que vai fazer uma entrega pode, em vez de levar o smartphone mais um POS para o pagamento, receber no mesmo telemóvel onde, por exemplo, está a aplicação que faz a validação da entrega.
Vamos lançar, no próximo ano, uma outra solução para nos permitir, em termos de internacionalização, acompanhar alguns dos nossos clientes no exterior, que vai ter um aspeto fundamental, que é a possibilidade de fazer a integração através de SDK. Portanto, componentes tecnológicas que permitem integrar o meio de pagamento com o que essa organização ou esse comércio usa para fazer as suas vendas ou prestar os seus serviços. Em termos de inovação de tecnologia, diria que, no próximo ano, vamos estar muito focados em fazer bem, que é algo que nos distingue. Com foco em que esta solução de Buy Now Pay later evolua muito, em termos de funcionalidades, e esteja disponível no canal online.
“Olhamos também para outros países, onde se faz a compra fracionada há anos, e nalguns é a prática generalizada. É uma tendência que estamos a verificar noutros mercados, todos com um crescimento anual na ordem dos 20% a 25%. Portanto, a nossa grande aposta, para os próximos anos, enquanto produto, é o produto Buy Now, Pay Later”
GC – A Unicre ocupa uma posição privilegiada enquanto observadora do mercado, do consumo e dos consumidores, nomeadamente através do Reduniq Insights. Quais são os grandes desafios que poderemos esperar para 2024?
LG – Os dados são fundamentais para o desenvolvimento e para a maximização de todos os negócios. A nossa grande aposta é que esta informação seja cruzada, ou seja, colocando várias “layers” de informação.
A nossa grande aposta é passar também diversificar a nossa oferta com serviços de valor acrescentado. Hoje, vivemos num mundo onde a competição é muito superior e o tempo em que estávamos só focados na transação e na compra deixou de ser rentável. Portanto, algo que temos de fazer é construir e enriquecer esta oferta.
Recentemente, através de ações de “crowdfunding”, pudemos levar a um segmento dos nossos comerciantes a possibilidade de acederem a opções de crédito muito mais atrativas financeiramente, até porque há, do outro lado, um conjunto de entidades que estão dispostas a financiar esses investimentos.
Mas o online é a grande aposta. Sentimos o crescimento da digitalização, com taxas de crescimento superiores na área do e-commerce, e aqui trabalhamos com várias entidades. Temos várias opções para que os nossos clientes, seja diretamente ou através de integradores, possam avançar para soluções de pagamento no mundo online que aceitem sempre todos os meios de pagamento possíveis, para que nunca percam uma venda. Ou seja, a possibilidade de fazer omnicanalidade, isto é, de um cliente iniciar a transação num meio e concluir noutro.
E, obviamente, a informação estar disponível em tempo real. No mundo digital, isto é muito mais relevante, ou seja, é preciso ter informação e “insights” em tempo real para se poder agir. Se, num determinado momento, há um comportamento de consumo no meu site, que me está a dar uma informação valiosa, tenho de ser capaz de usar essa informação em meu benefício.
GC – Como decorreu o presente exercício para a Unicre e que grandes ambições tem para o próximo?
LG – A tendência parece ser de alguma estabilidade, mas estamos a ser muito cautelosos na preparação do orçamento do próximo ano e sentimos, em termos de análise de risco, que a pressão está aí. A procura por soluções de otimização de crédito continua a ser uma das grandes tendências do mercado e dos nossos clientes.
Portanto, diria que vamos manter esta tendência, seja a pressão inflacionista ou a estabilidade, a nossa opção é sempre ser bastante cautelosos. O aspeto que mais nos vai diferenciar, e permitir ter uma vantagem competitiva e conseguir levar valor para os nossos clientes, é ter estas soluções de crédito imediato, com benefício para todos. Quando assim é, há tendência para ter muito mais sucesso.
Este artigo foi publicado originalmente na edição N.º 84 da Grande Consumo