Quando o cliente é um algoritmo: o novo desafio do retalho

Guilherme Machado, Industry Director NTT DATA Portugal

Durante décadas, o retalho foi desenhado para seduzir as pessoas, com vitrines apelativas, campanhas emocionais e experiências sensoriais. Mas esse paradigma está a mudar. Agora, existe um novo “cliente” sem olhos, nem emoções, mas que é inteligente, silencioso, incansável e lógico.

Os agentes autónomos – algoritmos que pesquisam, comparam e recomendam – já influenciam profundamente o processo de compra. Mesmo quando não finalizam a transação, moldam o que o consumidor vê, considera e escolhe. E isso tem implicações diretas para quem opera no canal alimentar e não alimentar.

 

A mudança já começou

Em Portugal, a transição é discreta, mas real. O crescimento do e-commerce, a adoção de ferramentas de inteligência artificial (IA) e os hábitos das gerações mais jovens mostram que o comportamento de compra está a evoluir. Segundo previsões da McKinsey e da Gartner, até 2028, 15% das decisões rotineiras de negócio será tomado por agentes autónomos. Não se trata de substituir o consumidor humano, mas de mediar a sua relação com as marcas.

No retalho, isso significa que produtos mal descritos, sem especificações técnicas claras ou imagens consistentes, podem ser ignorados por estes agentes. E se um produto não for compreendido por um sistema inteligente, é como se não existisse.

 

Comunicação para pessoas e máquinas

Estamos a entrar numa era em que a comunicação tem de ter um propósito duplo: emocional para humanos, lógica para máquinas. A ficha de produto torna-se assim uma ferramenta de vendas. O SEO já não serve apenas para motores de busca, mas também para modelos conversacionais, através do que se designa por GEO (Generative Engine Optimization). O conteúdo tem de ser legível por pessoas e processável por algoritmos.

 

Isto significa que as plataformas digitais têm de responder não só às perguntas dos clientes, mas também às interrogações de agentes inteligentes. E a resposta tem de ser clara, estruturada e em tempo real. Porque estes novos “clientes” não esperam – se não entendem, passam ao próximo.

 

O papel da tecnologia na competitividade

A chegada dos OpenAI Agents, em julho de 2025, com capacidade para interagir com websites e realizar compras, marca um ponto de viragem. O retalho global está a adaptar-se. E Portugal não pode ficar para trás.

A transformação digital, que passa pela interseção entre tecnologia e negócio, exige que as organizações se preparem para este novo cenário. Da estruturação de dados à arquitetura de sistemas interoperáveis, passando pela integração com agentes digitais, estas soluções são hoje um fator de competitividade, não apenas uma inovação futura.

 

É altura de agir

O retalho está a mudar. E quem esperar mais três ou cinco anos para agir arrisca-se a ficar fora da prateleira digital. A transformação real não é disruptiva, é progressiva. E, por isso, mais perigosa: quando damos por ela, já estamos atrasados.

Este artigo foi publicado na edição N.º 95 da Grande Consumo

Guilherme Machado, Industry Director NTT DATA Portugal
Guilherme Machado
Industry Director NTT DATA Portugal

Pedro Barros Lourenço, CEO & founder Consumers Trust

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