A Black Friday deixou de ser apenas sobre oferecer descontos e passou a representar a forma como as empresas utilizam a IA, os dados e as plataformas robustas para transformar a complexidade operacional em crescimento lucrativo à escala global.
A Black Friday deixou de ser apenas um dia de promoções agressivas há muito tempo; hoje, é um laboratório onde a tecnologia, as operações e a psicologia do consumidor são testadas em larga escala. Os retalhistas que continuam a tratar a Black Friday como uma mera ação de marketing ficam para trás e são surpreendidos pela realidade operacional: pressão sobre o stock, arquiteturas que precisam de suportar picos massivos de tráfego, modelos omnicanal complexos e margens comprimidas por promoções.
Para mim, e para muitas das marcas com as quais trabalhamos na VTEX, a Black Friday é, acima de tudo, um desafio de sistemas e inteligência. Força as empresas a responder a perguntas fundamentais sobre a sua arquitetura de comércio: conseguem atender milhões de compradores sem interrupções? Conseguem converter o tráfego em encomendas lucrativas? Conseguem contabilizar o stock em lojas, armazéns e marketplaces em tempo real? E, cada vez mais: conseguem aplicar inteligência artificial para transformar o caos em vantagem competitiva?
Ciclos recentes
Os ciclos recentes da Black Friday mostram um padrão claro: as vendas continuam a crescer, mas o sucesso já não depende exclusivamente dos descontos. Os volumes globais atingiram níveis históricos e o desempenho durante os períodos de pico de vendas é o que agora diferencia os vencedores dos restantes.
Por trás destes números, vejo duas transformações estruturais recorrentes. A primeira é que a jornada do consumidor é hiper-assistida: os compradores utilizam ferramentas de IA, mecanismos de descoberta e recomendações personalizadas para encontrar ofertas mais rapidamente e com maior intenção.
Em segundo lugar, o comércio é verdadeiramente omnicanal; uma parcela significativa das encomendas tem origem online, mas é satisfeita na loja física, ou vice-versa, o que exige plataformas que apoiem fluxos híbridos nativos, e não integrações frágeis construídas sobre sistemas obsoletos.
Como é que a VTEX ajudou as marcas a vencerem nesta Black Friday? Concentramo-nos em três alavancas operacionais: primeiro, resiliência em escala: a nossa arquitetura componível e nativa da nuvem foi projetada para suportar alta concorrência e degradação controlada, mantendo os lojistas a operar mesmo sob tráfego recorde. Segundo, coordenação e unificação de dados: conectando stock, preços, promoções e logística em todos os canais para que as ofertas sejam precisas, lucrativas e acionáveis. Por último, comércio inteligente: incorporando IA nas decisões, desde a previsão da procura e preços dinâmicos, à personalização avançada e prevenção de fraudes, para aumentar a conversão e a margem, e não apenas o tráfego.
Recorde histórico
Globalmente, a Black Friday de 2024 atingiu um recorde histórico, com vendas online estimadas em 74,4 mil milhões de dólares, o que representa um crescimento anual de 5%. Este salto demonstra como o evento, que teve origem nos Estados Unidos, se tornou um fator-chave para o comércio digital em todo o mundo. Além disso, a adoção da inteligência artificial durante esta temporada foi crucial: assistentes virtuais, chatbots generativos e sistemas preditivos impulsionaram as taxas de conversão, maximizando o valor do tráfego e otimizando a experiência de compra.
Nos Estados Unidos, os consumidores gastaram 10,8 mil milhões de dólares em compras online apenas durante a Black Friday, o que representa um aumento de 10,2% em comparação com o ano anterior, segundo a Adobe.
Na América Latina, o crescimento do comércio eletrónico também é evidente em mercados-chave: países como o México, Brasil, Chile e Argentina apresentam um crescimento acelerado nas transações digitais durante a Black Friday, consolidando o evento como um fator estratégico para a expansão do comércio eletrónico na região.
Black Friday e Cyber Monday
Os resultados concretos são importantes. Durante o período entre a Black Friday e a Cyber Monday de 2024, os comerciantes que operavam na plataforma VTEX processaram milhões de encomendas e demonstraram um forte crescimento anual, impulsionado pela estabilidade da plataforma e pela coordenação eficaz das vendas. Estas não são métricas de vaidade; refletem uma realidade simples: quando a latência diminui, o abandono do carrinho diminui; e quando os preços e o stock estão sincronizados, as promoções deixam de corroer as margens. As marcas que investiram cedo na modernização da plataforma e em operações baseadas em IA conquistaram uma quota de mercado desproporcional durante o pico.
Limites e responsabilidades da inteligência artificial
Também precisamos de ser transparentes quanto aos limites e às responsabilidades da inteligência artificial. Os modelos generativos e preditivos aceleram a personalização e a descoberta, mas precisam de governança: qualidade e proveniência dos dados, além de limites éticos claros. A IA amplifica tanto as oportunidades como os enviesamentos; as marcas precisam de modelos transparentes, supervisão humana para decisões críticas (preços, fraude, atendimento ao cliente) e análises pós-evento que expliquem o que funcionou e porquê. Esta combinação da velocidade da máquina com o julgamento humano é o caminho mais fiável para um desempenho sustentável.
Futurologia
Olhando para o futuro, a Black Friday deixará de ser um evento único e tornar-se-á uma temporada de vendas prolongada, que começa mais cedo e termina mais tarde. As empresas que integrarem a IA em plataformas de comércio robustas, operarem com dados em tempo real e desenharem promoções com sensibilidade e uma boa margem de lucro serão as vencedoras. Para os executivos, a lição é clara: invistam agora em arquitetura e governança de dados, ou pagarão um preço mais alto no próximo pico. Para a indústria, a Black Friday é um espelho: reflete se as nossas infraestruturas digitais estão preparadas para a próxima onda de expectativas do consumidor impulsionadas pela IA.
Se a nossa ambição é tornarmo-nos uma das vozes que moldam o futuro do comércio global, devemos usar momentos como a Black Friday não apenas para celebrar as vendas, mas também para educar: publicando dados, explicando os principais fatores e partilhando modelos que outros possam adotar. É assim que impulsionamos o setor: transformando o desempenho em aprendizagem e a aprendizagem em prática escalável.



