Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto a evolução das cadeias de abastecimento na indústria de bens de consumo e se há algo que se tornou evidente é que a forma como gerimos a logística (com os seus dados e rastreabilidade) já não pode ser a mesma. O mundo não para de evoluir e as cadeias de abastecimento precisam de acompanhar o ritmo destas mudanças.
Durante muito tempo, tratámos a cadeia de abastecimento como um “mal necessário”: algo que tinha de funcionar, algo que raramente era visto como uma fonte de inovação ou vantagem competitiva. Hoje, esta visão está desatualizada. A rastreabilidade inteligente, suportada por tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), blockchain e Inteligência Artificial (IA), está a transformar completamente o setor. Quem não acompanhar esta transformação, corre o risco de ficar para trás.
Compreender os dados com vista à ação
É um facto que, quando os dados são bem utilizados, podem transformar completamente a forma como uma empresa opera. Já não se trata apenas de saber onde está um produto ou quando vai chegar. Trata-se de antecipar problemas ou reagir eficientemente a estes, otimizar recursos ou reduzir desperdícios, entre outros, graças a uma tomada de decisões baseada em factos e não em suposições.
Tenho visto empresas que, ao adotarem soluções de rastreabilidade inteligente, conseguem reduzir os custos logísticos em mais de 20%, melhorar a precisão das suas previsões de procura e até mitigar o impacto de avarias e problemas de última milha, aumentando com isso a satisfação dos clientes. Não estamos a falar apenas de gigantes globais, mas de exemplos concretos em Portugal, em empresas que decidiram investir em tecnologia, formação e mudança cultural.
Mas também vejo o outro lado: organizações que continuam presas a sistemas obsoletos, a processos manuais e a uma visão limitada da sua cadeia de valor. O mais preocupante é que, muitas vezes, não é por falta de recursos, mas por falta de visão estratégica. A resistência à mudança, o medo do desconhecido e a falta de alinhamento interno continuam a ser os maiores obstáculos à modernização das empresas.
Rastreabilidade inteligente não é um luxo, mas uma necessidade
A verdade é que a rastreabilidade inteligente não é um luxo, é uma necessidade. Num mundo onde os consumidores exigem transparência, os reguladores impõem normas cada vez mais rigorosas e a concorrência é feroz, não há espaço para ineficiências. A cadeia de abastecimento deixou de ser um bastidor invisível para se tornar num palco central da competitividade empresarial.
Mais do que tecnologia, esta transformação exige uma mudança de mentalidade. É preciso ver os dados como um ativo estratégico, investir em competências analíticas e criar uma cultura de melhoria contínua. É preciso envolver as equipas, ouvir os parceiros e, acima de tudo, ter a coragem de experimentar, falhar e aprender.
Acredito profundamente que as empresas portuguesas têm tudo para liderar esta mudança. Temos talento, temos criatividade e temos uma capacidade de adaptação que já demonstrámos em muitos outros contextos. Mas temos de agir. Porque o futuro da indústria de bens de consumo será digital, transparente e orientado por dados. Quem não se preparar, ficará inevitavelmente para trás.
