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Clube do Grande Consumo

Armando Mateus, Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting International

O outono é a estação certa para metáforas políticas: as folhas caem, os discursos ganham tons de amarelo e castanho e as sondagens mudam de cor como as árvores no parque. No dia que escrevo este artigo, e à medida que o país se prepara para as eleições autárquicas, é inevitável pensar que, tal como nas prateleiras do supermercado, também na política há produtos de confiança, novidades com rótulos vistosos e algumas promoções que deixam o consumidor desconfiado.

Se os partidos fossem marcas, Portugal seria um hipermercado cheio de carrinhos a bater uns nos outros, entre corredores de promessas e caixas automáticas que nunca funcionam.

 

PS

Comecemos pelo PS, o eterno campeão de fidelização. Está em todo o lado, conhece bem o consumidor médio e aposta no equilíbrio entre conveniência e previsibilidade. É o género de marca que lança uma campanha “Poupe metade no próximo ciclo eleitoral” e consegue que o público volte sempre, mesmo quando o produto já perdeu alguma frescura. O espírito da casa mantém-se: confiança, continuidade e aquele conforto de quem, entre o arroz e as massas, prefere o que “a experiência de compra habitual”.

 

PSD

O PSD seria a marca rival, ligeiramente mais arrumada e de tons contrastantes, mas que insiste em parecer próxima do povo. Adora slogans curtos, fala de poupança e aposta num tom familiar e próximo de quem promete “boas contas e bons preços”. A marca tenta gerir o espaço entre a nostalgia dos antigos folhetos e a urgência de reconquistar clientes perdidos para rótulos mais barulhentos. É aquela marca que até pode liderar as vendas, mas agora disputa a atenção com novidades mais picantes e embalagens mais agressivas.

 

Chega

E por falar em agressividade, o Chega seria a insígnia das campanhas ousadas, cheia de cor, sons e frases que se ouvem até no parque de estacionamento, uma cadeia nascida no pós-guerra e em rápido crescimento por toda a Europa. É rápido, eficiente e vende a ideia de que o consumidor inteligente compra “fora do sistema”. Às vezes, o que conta não é o sabor, mas o choque visual. O problema é que nem sempre o produto resiste ao teste do tempo — embora ninguém negue que dá conversa à caixa e não quer maus pagadores nas lojas.

 

Iniciativa Liberal

A Iniciativa Liberal (IL) seria a marca recente que chegou com corredores limpos, iluminação branca e preços bem alinhados. O desafio é manter o estilo minimalista e a promessa de eficiência. O cliente típico da IL é racional, faz contas e gosta de sentir que está a escolher com liberdade. Sai da loja com poucos produtos, mas todos em embalagem própria.

 

Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda (BE) é mais uma Loja do Cidadão do que um supermercado ou hipermercado: tem balcões temáticos, é difícil de encontrar o que quer que seja, embarca em botes rumo a causas popularuchas e que tragam “gostos”. Mantém o espírito de proximidade, mas enfrenta a dificuldade de convencer o consumidor de que os seus produtos alternativos ainda têm lugar num mercado saturado. O catálogo é coerente na incoerência, o design apelativo para o TikTok — só falta o impulso da compra.

 

PCP/CDU

O PCP/CDU é o clássico supermercado de bairro, de letreiro antigo, onde os clientes se conhecem pelo nome. Teimosamente fiel à origem, não cede às modas nem às promoções importadas. Mas, ultimamente, as luzes do letreiro começam a falhar. As antigas lojas da rede foram sendo absorvidas por uma grande cadeia e o velho emblema com tons vermelhos vai desaparecendo das esquinas. Ainda assim, há quem entre todos os dias para comprar o pão e a memória.

 

Livre

O Livre seria a loja de produtos biológicos e de comércio justo. O espaço fala pausadamente, as prateleiras têm citações de filósofos e tudo cheira a sustentabilidade democrática. É agradável, com música ambiente e bons princípios — embora o público, em tempos de inflação, nem sempre esteja disposto a pagar mais por ideais com certificação ecológica.

 

PAN

O PAN ocupa a secção vegetariana da mesma galeria: discreta, cuidada, com clientela fiel. É uma marca ética, coerente e tranquila, que preenche bem o nicho, mas ainda luta para transformar curiosidade em hábito. É comprada mais por convicção do que por impulso.

 

CDS-PP

O CDS-PP, por sua vez, lembra aquele antigo armazém elegante e em tons ocres que já teve grandes clientes e anúncios nas revistas, mas que hoje sobrevive entre memórias e campanhas de saldos. A loja resiste com estoicismo, mantendo o mesmo cheiro a cera e madeira encerada de outros tempos.

No fundo, cada partido tem o seu corredor, o seu público e a sua estratégia de marketing. Há os que apostam em fidelização, os que vivem de campanhas relâmpago e os que resistem à modernização. A política portuguesa é, cada vez mais, uma experiência de consumo: o eleitor entra, compara rótulos, vê as ofertas e, no fim, escolhe o que parece mais fresco.

Mas o problema das marcas é que, por mais que mudem de embalagem, continuam a vender o mesmo produto. E, por mais que o consumidor se irrite, acaba sempre por voltar — até porque ninguém gosta de chegar a casa e perceber que esqueceu de comprar governo.

 

O eleitor continua a ser o mesmo

Na altura em que este artigo for lido, já as urnas fecharam e as autárquicas são já passado, veremos quais as marcas que ganharam espaço na montra. Talvez o PS recupere o corredor central, o PSD perca alguns metros de exposição e o Chega conquiste mais prateleiras locais. Talvez o BE e o PCP se mantenham nas secções especializadas e a IL se apresente como marca “em reestruturação”. Ou talvez surja, lá ao fundo, uma nova etiqueta com design moderno e promessa de autenticidade.

Porque, no grande hipermercado da política portuguesa, o cliente — isto é, o eleitor — continua a ser o mesmo: queixoso, exigente, mas fiel à velha máxima nacional — “muda-se o rótulo, mas o sabor é o mesmo”.

Este artigo foi publicado na edição N.º 95 da Grande Consumo

24 Outubro 2025
Armando Mateus, Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting International
Armando Mateus
Chief Experience Officer da TouchPoint Consulting

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