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Cerca de 431 milhões de smartphones antigos, sem uso, mas com potencial para reciclagem estão guardados nas casas europeias. Embora demasiado obsoletos para serem recondicionados, estes aparelhos estão longe de não ter valor: contêm metais raros avaliados num total de cerca de 1,5 mil milhões de euros, indica o mais recente estudo da Fraunhofer Austria, encomendado pela refurbed.
A reintrodução destas matérias-primas no ciclo económico pode reduzir a dependência da UE de importações e dar um contributo decisivo para a economia circular.
1,5 mil milhões de euros em matérias-primas não utilizadas
De acordo com o estudo, estes 431 milhões de aparelhos poderiam ser facilmente reciclados pelos seus proprietários, dando um contributo importante para as metas da UE. Embora um único telemóvel contenha apenas alguns gramas de metais, o volume total resulta em quantidades impressionantes que aguardam recuperação.
Os números relativos a Portugal são também notáveis: nas casas dos portugueses encontram-se mais de 16 milhões de smartphones sem utilização, dos quais 11,1 milhões ainda podem ser reciclados. O valor material total destes aparelhos em Portugal é estimado pelo estudo em 39 milhões de euros (preços de fevereiro de 2025).
“A concentração de metais numa tonelada de lixo eletrónico pode ser superior à existente numa tonelada de terra com minério – extraída através de mineração convencional. A recuperação de metais em smartphones antigos pode valer a pena”, afirma Paul Rudorf, gestor de projetos na Fraunhofer Austria, a propósito dos resultados.
Produção de smartphones requer matérias-primas raras
A principal vantagem da recuperação é óbvia: a produção de novos aparelhos eletrónicos exige grandes quantidades de matérias-primas raras e finitas, o que coloca a UE numa posição de dependência estratégica.
Estas dividem-se em duas categorias preocupantes:
- As Matérias-Primas Críticas (MPC) – como o cobalto, o cobre ou o magnésio – são classificadas pela UE como críticas devido à sua elevada importância para a economia e ao risco de falhas no seu fornecimento.
- Os Materiais de Conflito (MC) – como o estanho, o tungsténio e o ouro – são frequentemente extraídos sob condições precárias em regiões instáveis, e a sua venda financia grupos armados e causa graves danos sociais e ambientais.
Taxa de reciclagem na Europa é de apenas 10%
Apesar das vantagens, apenas uma fração destes recursos é recuperada. Na Europa, a taxa de reciclagem de smartphones é de 10%, sendo que a maioria dos aparelhos é exportada ilegalmente ou simplesmente esquecida em casa. Esta situação intensifica a dependência da região num momento em que a própria União Europeia tem como meta que 25% das suas necessidades de matérias-primas, até 2030, sejam supridas pela reciclagem.
“Existem verdadeiros tesouros nas nossas gavetas: milhões de smartphones antigos que podem ser recondicionados para reutilização ou reciclados. Entregar os dispositivos não só ajuda o ambiente, como também dá uma segunda oportunidade a matérias-primas valiosas“, afirma Kilian Kaminski, cofundador da refurbed. “A política e a indústria devem criar incentivos claros e fazer investimentos para que mais aparelhos sejam recondicionados, as matérias-primas recuperadas e as alternativas sustentáveis promovidas. Para tal, necessitamos de melhores sistemas de retoma para aumentar as taxas de reciclagem; regras claras para que os produtos sejam mais fáceis de reparar e tenham maior longevidade; e mais investimento em tecnologias de reciclagem modernas. Desta forma, podemos reduzir coletivamente o lixo eletrónico, garantir recursos valiosos e dar um contributo decisivo para uma economia circular funcional em toda a Europa“.
Os números em detalhe
Com base num smartphone considerado médio, como o iPhone 12 (160 g de peso total, cerca de 43 g de metais incorporados), a Fraunhofer calculou as quantidades ou proporções de três matérias-primas críticas – cobalto, magnésio e paládio – e de três materiais de conflito – estanho, tungsténio e ouro.
Através da reciclagem dos 11,1 milhões de aparelhos antigos nos lares portugueses, poderiam ser reintroduzidas na economia nacional as seguintes quantidades de matérias-primas valiosas:
- Cobalto: 135 toneladas
- Magnésio: 3,3 toneladas
- Paládio: 0,033 toneladas
- Estanho: 11,1 toneladas
- Tungsténio: 1,1 toneladas
- Ouro: 0,2 toneladas
Extrapolando para 431 milhões de aparelhos antigos não utilizados na UE, que já não podem ser recondicionados, mas ainda podem ser reciclados, surgem as seguintes quantidades de valiosas matérias-primas incorporadas:
- Cobalto: 5.258 toneladas
- Magnésio: 129 toneladas
- Paládio: 1,3 toneladas
- Estanho: 431 toneladas
- Tungsténio: 43 toneladas
- Ouro: 8,6 toneladas
Reciclagem profissional de lixo eletrónico
Em Portugal, a gestão eficiente de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE), bem como de pilhas e baterias, é assegurada por entidades gestoras como a ERP Portugal (European Recycling Platform), no âmbito da Responsabilidade Alargada do Produtor.
Enquanto Sistema Integrado de Gestão de Resíduos (SIGR), a ERP Portugal desempenha um papel crucial na recolha, triagem e encaminhamento para reciclagem de REEE, onde se incluem os smartphones em fim de vida. Através da sua rede de pontos de recolha, da plataforma eureciclo.pt e de parcerias com mais de 900, a ERP Portugal facilita o processo de entrega destes resíduos.
Desta forma, a ERP Portugal garante através dos melhores métodos disponíveis de reciclagem, que os valiosos materiais contidos nestes dispositivos são reintroduzidos na economia circular e contribui significativamente para a redução da dependência de matérias-primas virgens e para a sustentabilidade ambiental do país.