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Relatório do ECNO alerta: edifícios precisam de cortar emissões para metade já esta década

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O European Climate Neutrality Observatory (ECNO) publicou um relatório em 2025 que identifica os edifícios como um dos principais entraves às metas de neutralidade carbónica da União Europeia. Entre 2018 e 2023, o sector reduziu apenas 16,5 milhões de toneladas de CO₂ por ano, quando seria necessário duplicar esse ritmo até 2030 para alinhar com os objetivos climáticos.

Segundo o estudo, a causa principal está no ritmo estagnado das renovações: apenas 1% dos edifícios são intervencionados anualmente e as renovações profundas não vão além de 0,2% a 0,3% do parque edificado. Ao mesmo tempo, as emissões incorporadas em materiais como cimento e tijolo aumentaram 18% em cinco anos, agravando o problema.

 

“Renovações digitais”

Para especialistas do sector energético, como a empresa Exergio, a Europa está a ignorar soluções já disponíveis. “as renovações profundas abrangem menos de 1% do parque edificado, o que dificilmente pode ser considerado progresso. Mesmo medidas simples, como substituir janelas ou caldeiras, têm vindo a abrandar. A Europa continua a esquecer as renovações digitais. Com otimização baseada em inteligência artificial, os edifícios poderiam já reduzir até 30% do consumo energético, sem esperar por grandes obras”, afirmou Donatas Karčiauskas, CEO da Exergio.

Estas soluções passam por sistemas de medição inteligente e sensores de ocupação, que permitem gerir em tempo real o consumo de energia. Combinados com algoritmos de IA, podem antecipar padrões de utilização, aquecer ou arrefecer espaços de forma eficiente e transferir consumo para horários de tarifa mais baixa.

 

Eletrificação e investimentos em atraso

O relatório do ECNO alerta ainda para a estagnação da eletrificação, outro pilar da transição climática. O objetivo europeu é subir de 21,3% em 2022 para 32% em 2030, mas a procura pelos equipamentos necessários “segue na direção errada”.

As vendas de bombas de calor caíram entre 2023 e 2024, com investimentos anuais na ordem dos 19 mil milhões de euros, muito abaixo dos 55 mil milhões necessários para instalar 30 milhões de unidades até ao final da década. Em paralelo, a infraestrutura de suporte – como contadores inteligentes e ferramentas de otimização – avança de forma demasiado lenta ou nem sequer é monitorizada.

 

Falta de capital e dependência de fósseis

A falta de financiamento é outro obstáculo de peso: só em 2023, o défice de investimento climático foi de 344 mil milhões de euros. Este atraso repercute-se no ritmo das renovações, na venda de bombas de calor, na procura por veículos elétricos e até no avanço da energia eólica.

Ao mesmo tempo, os subsídios aos combustíveis fósseis continuam a aumentar. Em 2024, a Europa gastou 400 mil milhões de euros em importações de petróleo e gás, cerca de 2% do PIB europeu. O impacto chega diretamente às famílias: segundo o estudo, 11% dos agregados da UE não conseguem pagar aquecimento, arrefecimento ou eletricidade suficientes.

 

“Sem edifícios, não há neutralidade climática”

Para Donatas Karčiauskas, a mensagem é clara: “o relatório deixa poucas dúvidas: sem enfrentar o sector dos edifícios, a UE não conseguirá entregar a neutralidade climática. As renovações digitais devem ser tratadas como parte integrante da transição, pois permitem cortar emissões de imediato, viabilizar a eletrificação e fornecer os dados de desempenho que os decisores políticos ainda não têm”.

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