Oiça este artigo aqui:
Um inquérito europeu recente revela que a maioria dos cidadãos portugueses considera os impostos demasiado elevados e defende mudanças na forma como o sistema fiscal é aplicado. O estudo Flash Eurobarómetro 562 – Atitudes dos Cidadãos em relação à Tributação, realizado entre 9 e 17 de abril de 2025, incluiu mais de mil entrevistas em Portugal e mostra uma perceção clara: a carga fiscal é sentida como pesada e mal distribuída.
Impostos sobre salários no topo das preocupações
Quando questionados sobre quais os impostos que deveriam ser reduzidos em primeiro lugar, os portugueses destacaram de forma significativa os impostos sobre salários, seguindo-se o IVA e a tributação sobre habitação. Esta prioridade é consistente com a tendência europeia, onde o peso dos rendimentos do trabalho continua a ser um dos temas mais sensíveis.
Apesar do descontentamento, existe também consciência de que a fiscalidade é essencial para financiar serviços públicos. Uma parte dos inquiridos admite aceitar impostos mais elevados se isso significar melhorar áreas como saúde, educação e infraestruturas.
Luta contra fraude e evasão fiscal como prioridade
No plano europeu, os portugueses querem ver Bruxelas a intervir de forma mais firme no combate à evasão e fraude fiscal. Para além disso, consideram essencial evitar a dupla tributação entre países da União e encontrar mecanismos de resolução de conflitos fiscais transfronteiriços. Em Portugal, esta preocupação é ainda mais evidente: 67% dos inquiridos apontam a luta contra a evasão como prioridade da ação comunitária, face a 48% da média europeia.
Apoio a impostos sobre grandes fortunas e multinacionais
Outro dado relevante do estudo é a forte aceitação da tributação sobre grandes fortunas e multinacionais. Mais de 60% dos portugueses apoiam a introdução de um imposto mínimo sobre a riqueza dos mais ricos (o top 0,001% da população), com o objetivo de garantir um contributo justo para os cofres públicos.
Do mesmo modo, existe um amplo consenso quanto à necessidade de multinacionais pagarem impostos mínimos em todos os países onde operam, como forma de travar a fuga de capitais e assegurar maior equidade fiscal. Esta visão é partilhada por 72% dos cidadãos nacionais, bem acima da média europeia (59%).
Fiscalidade ambiental e transportes
No domínio da sustentabilidade, os portugueses mostram-se igualmente favoráveis à utilização da fiscalidade como instrumento de mudança. A maioria apoia a aplicação de impostos sobre produtos prejudiciais ao ambiente, como plásticos descartáveis e energias poluentes.
No setor dos transportes, os inquiridos defendem que o transporte aéreo deve ser tributado ao mesmo nível que o automóvel ou ferroviário, eliminando as atuais isenções sobre combustível e IVA que beneficiam as companhias aéreas.
Entre a carga fiscal e a justiça social
As conclusões do Eurobarómetro revelam um dilema central no debate português: os cidadãos sentem o peso dos impostos, mas ao mesmo tempo querem um sistema mais justo e redistributivo, capaz de financiar serviços públicos de qualidade sem penalizar excessivamente o rendimento do trabalho.
A discussão sobre a reforma fiscal em Portugal ganha, assim, novos dados de base europeia: a maioria dos cidadãos não pede apenas menos impostos, pede sobretudo um sistema mais equilibrado, transparente e justo.
Fonte: Flash Eurobarómetro 562 – Atitudes dos clientes perante os impostos
(Trabalho de campo: de 9 a 17 de abril de 2025, 25 805 entrevistas online com cidadãos da UE, com 15 anos ou mais,nos 27 Estados-Membros da UE)
Siga-nos no: