Ingka Centres Mário Barros
Mário Barros, Centres Markets Manager da Ingka Centres para o sudoeste europeu
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“Não queremos ser apenas um complexo comercial. A nossa ambição é ser um verdadeiro local de encontro para toda a comunidade”

Entrevista a Mário Barros, cluster operations manager da Ingka Centres para o sudoeste da Europa

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A expansão do Designer Outlet Algarve marca um novo capítulo na presença da Ingka Centres em Portugal. Mário Barros, cluster operations manager da Ingka Centres para o sudoeste da Europa, revela como este reforço estratégico em Loulé reflete uma visão alargada do retalho – que vai além das compras – e aposta na criação de verdadeiros “locais de encontro” que combinam sustentabilidade, experiência e impacto comunitário. Em entrevista à Grande Consumo, Mário Barros destaca o crescimento do complexo, os desafios da sazonalidade, o papel do turismo e as metas ambiciosas para o futuro do retalho físico no país.

 

Grande Consumo – A expansão do Designer Outlet Algarve (DOA) é um marco para o complexo comercial da Ingka em Loulé. O que motivou este reforço de investimento numa região marcada por forte sazonalidade? E o que representa este crescimento para o grupo em Portugal?

Mário Barros – O Complexo comercial que temos em Loulé é verdadeiramente especial. Para além da participação que a Ingka tem no DOA, colocamos na mesma localização o MAR shopping Algarve, Centro Comercial full price. Esta combinação de dois projetos complementares de full price e outlet, a par da loja IKEA, permite-nos ter uma área de influência maior, e adaptar-nos melhor a sazonalidade do mercado. Somos mais relevantes para os nossos clientes locais e sazonais.

Esta pequena expansão significa para nós a validação de um modelo em que acreditávamos muito e que foi bem recebido tanto por clientes como pelos nossos lojistas. Queremos reinventar as nossas localizações e transformá-las em lugares de encontro e para isso necessitamos continuar a inovar e a encontrar soluções que se adequem ao que os nossos clientes necessitam. Neste caso as diferentes ofertas de retalho parecem-nos a solução ideal.

 

GC – O aumento da área bruta locável em 4.000 m² traduz-se num total de mais de 80 marcas no portefólio. Que critérios orientaram esta seleção e que papel têm as novas entradas, como a New Balance ou a Under Armour, no posicionamento do outlet?

MB – Na sua totalidade, o DOA terá uma Gross Leasable Area (GLA – Área Bruta Locável) de 18.000 m², o que, em conjunto com o MAR Shopping Algarve, resultará num complexo com mais de 84.000 m² de área locável. Isto faz com que o conjunto DOA mais MAR Shopping Algarve seja o maior destino de retalho no sul do pais. Ambicionamos conseguir ter uma oferta bastante ampla no que diz respeito aos segmentos com que trabalhamos e as categorias que queremos oferecer. A New Balance e a Under Armour, em conjunto com a Adidas, fazem do DOA um destino muito interessante no que diz respeito a marcas de desporto.

 

Designer Outlet Algarve
Designer Outlet Algarve

 

GC – Com uma taxa de ocupação próxima dos 100%, que desafios e oportunidades surgem ao nível da gestão do espaço e da rotação de marcas? Já há lista de espera ativa?

MB – Uma oportunidade é justamente o que nos trouxe aqui hoje: o reforço da oferta no DOA. Isso só é possível porque os nossos clientes aderiram à nossa proposta de valor, e os nossos parceiros veem neste local uma zona atrativa para implementar os seus conceitos. O principal desafio é continuar a identificar novas oportunidades e garantir que a oferta se mantém atrativa, tanto para os clientes atuais quanto para os futuros. Quanto às listas, trabalhamos com uma lista ativa, não apenas para preencher espaços, mas para melhorar continuamente a oferta e assegurar a melhor combinação possível de marcas no complexo.

 

GC – Está prevista a criação de cerca de 150 novos postos de trabalho. Qual será o perfil dos profissionais mais procurados e como estão a trabalhar com parceiros locais nesta vertente?

MB – Cada um dos nossos parceiros tem o seu próprio perfil de talento que procura contratar e desenvolver, de acordo com as necessidades específicas de cada negócio. Da nossa parte, temos vindo a colaborar com os lojistas desde antes da abertura do complexo, em 2017. Já em maio desse ano, lançámos a primeira edição da feira Emprego 360°, em parceria com o IEFP, um evento que realizamos anualmente. Esta iniciativa tem como objetivo criar oportunidades reais de crescimento para quem quer trabalhar connosco e fazer parte desta família.

A Emprego 360° é mais do que uma feira de recrutamento, é um espaço de encontro entre empregadores, formadores e candidatos, que promove o networking, a formação contínua e a inclusão social. Com esta iniciativa pretendemos reforçar o posicionamento do MAR Shopping Algarve e restante complexo como um centro com responsabilidade social ativa, que contribui para o desenvolvimento económico local, apoiando a formação contínua e promovendo a inclusão. É também uma forma de atrair visitantes e fortalecer parcerias estratégicas com entidades públicas e privadas, criando um impacto positivo e duradouro na comunidade.

 

GC – O DOA afirma-se como destino de compras para residentes e turistas. Mais de metade dos visitantes são estrangeiros. Que estratégias têm sido desenvolvidas para reforçar esta atratividade junto dos públicos internacionais?

MB – A chave tem estado em identificar os momentos certos em que os nossos potenciais clientes estão disponíveis, ou mais recetivos, para complementar a sua estadia no Algarve com uma visita descontraída de compras e lazer connosco. Não queremos, nem podemos, competir com tudo o que o Algarve tem de fantástico: as praias, a gastronomia, ou as pessoas. O nosso objetivo é fazer parte daquilo que torna o destino especial para quem nos visita. Por isso, comunicamos ativamente no Algarve, desde o aeroporto até parcerias com hotéis, mas também em Espanha, onde pretendemos atrair novos visitantes, convidando-os a descobrir Portugal, o Algarve e o DOA.

 

GC – Que fatores diferenciam o Designer Outlet Algarve face a outras ofertas semelhantes na região ou até mesmo na vizinha Andaluzia?

MB – Há dois fatores-chave: por um lado, a oferta comercial do DOA é particularmente relevante e atrativa para um outlet; por outro, o facto de integrarmos um complexo maior, juntamente com o MAR Shopping Algarve e a IKEA, o que acrescenta uma dimensão única. Graças a esta oferta variada e complementar, conseguimos proporcionar uma experiência que mais ninguém oferece, alargando significativamente a nossa zona de influência. O valor do tempo e da deslocação até ao complexo compensa claramente para quem nos visita.

 

Mário Barros Designer Outlet Algarve entrevista
Mário Barros, Cluster Operations Manager da Ingka Centres para o Sudoeste da Europa

GC – O complexo Ingka em Loulé, que agrega IKEA, MAR Shopping Algarve e DOA, é único no país. Como se articulam as sinergias entre os diferentes espaços e que benefícios daí resultam para o consumidor?

MB – Cada projeto tem uma equipa de gestão dedicada que trabalha para desenvolver a sua oferta com o objetivo de ser o mais relevante possível para o seu cliente alvo. Não obstante, dedicamos muito tempo em coordenar e identificar que campanhas podemos e devemos trabalhar em conjunto, bem como desenvolver uma oferta comercial que seja complementar e não concorrente.

Temos vários exemplos, a feira de emprego que referi anteriormente, mas também a Super Thursday. Na última quinta feira do mês existem descontos em grande parte do complexo. É um conceito que surgiu no DOA, mas que expandimos a todo o complexo.

De facto, temos feito um grande trabalho em articular sinergias, onde o principal beneficiado é o cliente. É um trabalho estratégico de grande rigor e articulação, liderado pelo José, Ana e Emannuel – responsáveis do DOA, MAR Shopping Algarve e IKEA, respetivamente. Obrigado a eles e às equipas que os acompanham!

 

GC – A área de lazer de 8.000 m² também se destaca neste ecossistema. Qual o seu peso na experiência de visita e fidelização dos clientes?

MB – Não queremos ser apenas um complexo comercial. A nossa ambição é que o conjunto formado pelo DOA, MAR Shopping Algarve e IKEA seja um verdadeiro local de encontro para toda a comunidade, incluindo a comunidade sazonal, que nos visita durante o verão. A área de lazer vem precisamente reforçar esta missão, oferecendo ainda mais possibilidades para que cada visita se transforme numa experiência completa, onde toda a família encontra algo para fazer, relaxar e aproveitar. Queremos ser um verdadeiro hub comunitário, um espaço público e aberto, onde as pessoas vivem, interagem, trabalham, socializam, comem, aprendem, descansam e se divertem, participando em diversas atividades culturais e recreativas.

 

GC – Sendo o turismo uma peça-chave no sul do país, que impacto concreto tem sentido o grupo na dinamização económica da região, nomeadamente na atração de investimento e na geração de emprego?

MB – O surgimento de projetos como o DOA e o MAR Shopping Algarve é, na verdade, uma consequência natural da crescente dinamização económica da região. Hoje, o Algarve conta com a presença das principais marcas nacionais e internacionais de retalho, resultado direto do investimento feito aqui e da confiança depositada na região. O caminho está traçado, as oportunidades estão aqui e o ecossistema está montado. O grande desafio continua a ser a sazonalidade. A chave estará em saber tirar partido das valências únicas da região, explorar as oportunidades que essa sazonalidade traz, mas também responder eficazmente aos seus desafios – como, por exemplo, a capacidade de gerir os picos de afluência.

 

GC – Como é que a expansão do DOA integra preocupações de sustentabilidade ambiental e responsabilidade social? Há metas definidas nesta área?

MB – Na Ingka Centres, acreditamos que os nossos espaços devem gerar valor real, não apenas económico, mas também social e ambiental. Queremos ter um impacto positivo nas pessoas, nas comunidades e no planeta. Para isso, procuramos sempre equilibrar o crescimento com responsabilidade, protegendo e revitalizando o ambiente enquanto criamos oportunidades para todos.

Estamos a acelerar a nossa jornada para sermos mais sustentáveis em tudo o que fazemos. Já definimos metas claras: até ao fim do ano, queremos que toda a eletricidade usada nos nossos edifícios seja 100% renovável, e até 2030, queremos atingir o mesmo para o aquecimento e a refrigeração. É uma ambição grande, mas acreditamos que é essencial para garantir que as necessidades de hoje não comprometam o futuro das próximas gerações.

 

Mário Barros Designer Outlet Algarve entrevista
Designer Outlet Algarve

 

GC – Muito se tem falado sobre a transformação dos centros comerciais e outlets para modelos híbridos, mais orientados para experiências do que apenas para o retalho. Essa é uma linha estratégica da Ingka Centres para o futuro?

MB – Sim, essa é claramente uma linha estratégica para nós. Acreditamos que os espaços comerciais devem evoluir para locais de encontro, locais semelhantes às antigas praças centrais das aldeias, vilas e cidades, um lugar onde o retalho se combina com lazer, cultura, restauração e serviços. Queremos criar espaços públicos e abertos, que acrescentem valor real à vida das pessoas e da comunidade, indo muito além da simples experiência de compra.

 

GC – Que outros projetos ou evoluções podemos esperar no complexo de Loulé? Estão em estudo novos investimentos ou transformações complementares?

MB – Em termos de retalho este projeto ainda é jovem. O Complexo abriu em outubro de 2017, mas o nosso compromisso é continuar a desenvolver os nossos ativos em conjunto com os nossos clientes e parceiros. Para já estamos muito contentes com a evolução que conseguimos implementar até agora.

 

GC – A Ingka Centres tem em Portugal três projetos de relevo – MAR Shopping Matosinhos, MAR Shopping Algarve e DOA. Há intenção de crescer noutros pontos do país com formatos semelhantes?

MB – Tal como em Loulé desenvolvemos um formato específico para atender as necessidades especificas que encontramos aqui, faremos o mesmo em qualquer outro ponto. Queremos distinguir-nos por desenvolver projetos que se adequam as comunidades donde nos inserimos, mais do que ter uma única formula.

 

GC – No seu papel de Cluster Operations Manager para o Sudoeste da Europa, como compara o desempenho e o impacto do projeto de Loulé com outras operações da Ingka Centres na região?

MB – A consolidação do projeto de Loulé, desde a sua abertura, tem sido muito consistente e encorajadora. Estamos satisfeitos com a sua evolução e, em particular, com a forma como a oferta comercial tem crescido desde o início. Isto reflete o impacto positivo que conseguimos gerar, tanto para os nossos parceiros de negócio como para os nossos clientes.

Nos restantes mercados, temos assistido, sobretudo desde o período do Covid, a um crescimento contínuo do número de visitantes e a um aumento das vendas. Apesar de reconhecermos que esses números estão também influenciados pelo contexto inflacionista, é muito positivo ver os clientes a regressarem, e em maior número.

Quanto ao impacto na região, é mais difícil estabelecer uma comparação direta. Mas o facto de sermos um projeto que gera, direta e indiretamente, mais de 2.000 postos de trabalho, que atrai marcas internacionais para Loulé e que procura ter um papel ativo na sustentabilidade e na responsabilidade social, dá-nos a confiança de que estamos a fazer as coisas bem.

Queremos ser vistos como um bom vizinho, alguém que colabora, participa e que também está presente para ajudar a enfrentar e superar os desafios locais.

 

Designer Outlet Algarve
Designer Outlet Algarve

 

GC – Finalmente, como vê o futuro do retalho físico em Portugal e que papel acredita que os espaços comerciais, como o DOA, devem desempenhar na revitalização económica e territorial?

MB – Mais do que o DOA, penso que o setor dos centros comerciais sempre teve um papel relevante na revitalização económica e territorial. O retalho, sempre esteve no centro das cidades ou na criação de novas centralidades permitindo o crescimento das mesmas de uma maneira mais estruturada, oferecendo serviços ou produtos mais perto do local onde são consumidos, retendo o valor gerado na região e criando emprego local.

Na nossa perspetiva, entendemos que o retalho está a mudar, sempre esteve. É por isso que propomos uma nova interpretação do conceito de centro ou espaço comercial: um verdadeiro Meeting Place, ou “local de encontro”. Queremos proporcionar um lugar único, público e aberto, um espaço onde todos podem, não só encontrar o que precisam, mas também onde se pode aprender, crescer, socializar, interagir, descansar, participar e divertir. Um ponto que vai além do consumo e que se afirma como parte ativa da vida em comunidade.

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Por Bárbara Sousa

I am a journalist and news editor with eight years of experience in
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