De acordo com um inquérito de âmbito europeu, mais de metade dos cidadãos da União Europeia participa já, de forma ativa, na transição energética. O mesmo estudo revela ainda que existem grandes diferenças entre países e que os obstáculos existentes não permitem um impacto mais significativo.
As questões energéticas dividem os cidadãos europeus: cerca de 60% participa já, de uma forma ativa, na transição energética, mas os restantes estão a ser negligenciados. Este facto é revelado por um inquérito supranacional efetuado em toda a União Europeia, no âmbito do projeto de investigação GRETA (Green Energy Transition Actions) do programa Horizonte 2020.
“É possível fazer muito mais juntando os negligenciados e os já sensibilizados, mas não através de uma abordagem ‘business as usual’. É necessário que os decisores políticos promovam, apoiem e criem condições financeiras que levem à criação de quadros regulamentares e alterações de mentalidades no sentido da transição energética. O estudo mostra, igualmente, uma necessidade imperiosa de criação de programas orientados para soluções digitais, através de plataformas que envolvam comunidades digitais de energia e constituam um espaço que reconheça e acolha as contribuições individuais para a transição energética”, afirma Ajesh Kumar, investigador júnior na Universidade LUT, na Finlândia.
8 perfis
Com base na investigação, envolvendo cerca de 10 mil participantes de 16 países, foram identificados oito perfis distintos entre os cidadãos da União, com base nas suas atitudes e comportamentos relativos à transição energética. Os perfis diferem entre si na forma como participam de forma ativa na transição energética, nas suas atitudes, motivações e recursos relativamente a iniciativas relacionadas com energia sustentável. Os oito perfis abrangem o espectro dos menos aos mais ativos: indiferentes, céticos, condicionados, imaturos, motivados, altos investidores, decididos, conhecedores.
O estudo mostra que 58% dos cidadãos da União Europeia – pessoas que fazem parte dos quatro últimos perfis mencionados – é designado pelos investigadores GRETA como ativo ou empenhado. Ou seja, já participa na transição energética, por exemplo, através de poupanças básicas na sua atividade diária, investindo em tecnologias de energia verde ou manifestando-se por soluções mais verdes. Por exemplo, um em cada cinco cidadãos pode ser descrito como decidido e conhecedor, um grupo disponível para experimentar novas tecnologias energéticas.
“A boa notícia é que muitos deles estão já a fazer algo de concreto no sentido da transição, como, por exemplo, optarem por energia verde ou utilizarem aplicações energeticamente eficientes. No entanto, a nossa investigação evidencia a existência de grandes entraves a ações que permitiriam um maior impacto, como seria o caso da criação de comunidades energéticas ou o investimento em novas formas limpas de energia”, afirma Ajesh Kumar.
Cidadãos consideram que Governos devem assumir a transição energética
Com base no estudo GRETA, mais de 60% dos cidadãos da União Europeia concorda que a transição energética é uma tarefa conjunta, para a qual todos devem contribuir. No entanto, as oportunidades de participação não são iguais para todos.
Com efeito, cerca de 40% pode ser classificado como indiferente, cético, condicionado ou imaturo. Estes cidadãos dificilmente aumentarão o seu envolvimento sem um apoio mais sustentado. A título de exemplo, um quinto dos cidadãos pertence ao grupo dos limitados, que têm consciência das questões energéticas, mas delegam na ciência a tarefa de as resolver. Podem ter interesse na poupança de energia, mas não possuem recursos para investirem por si mesmos.
Com base nos estudos de caso GRETA e na investigação efetuada em vários países, os maiores entraves ao envolvimento dos cidadãos são os constrangimentos financeiros, a falta de conhecimentos e a atitude individualista de que “não vale a pena”. Muitas pessoas continuam a considerar que compete aos respetivos Governos a tarefa de liderarem políticas relativas a eficiência e conservação energéticas.
Legislação permitiu a Portugal aumentar o envolvimento dos cidadãos
Os dados mostram igualmente que existem diferenças entre países. Dos 16 países estudados, Portugal é o que apresenta mais entusiastas pela transição energética, cerca de 50% da população. É também o país com menos indiferentes, aqueles sem qualquer tipo de preocupação com as questões do clima. Em comparação, as maiores taxas de indiferentes, céticos e sem disponibilidade para ações relativas ao clima encontram-se na Dinamarca (30%), Alemanha (26%) e Chéquia (26%).
“O Governo português introduziu, em 2019, modificações ao regime de autoconsumo de eletricidade renovável. Conseguiu, desta forma, apoiar a criação de comunidades de energia renovável, autoconsumo de energia individual e coletiva, bem como a troca direta. Trata-se de um bom exemplo de implementação por parte de um Estado-membro de um quadro regulamentar derivado da Diretiva de Energia Renovável da União Europeia de 2018”, afirma a professora assistente na Universidade LUT, Annika Wolff.