Os dados do Eurostat dão que pensar. Em 2022, 27% da população da União Europeia com mais de 16 anos apresentava alguma forma de incapacidade. Equivale a 101 milhões de pessoas, ou seja, um em cada quatro adultos na União Europeia. As pessoas por detrás destes números enfrentam desafios diários para aceder a espaços públicos, transporte e serviços, mas também em algo tão simples como comprar uma peça de roupa adaptada às suas necessidades. É a pensar nelas que a Primark assumiu o compromisso de tornar a moda adaptada mais acessível. A sua primeira coleção de moda adaptada para pessoas com necessidades especiais já está nas lojas, mas também estes espaços, assim como todo o negócio, serão repensados no âmbito da sua jornada de inclusão. Nelson Ribeiro, Head of Sales da Primark Portugal, não tem dúvidas do papel que as marcas desempenham na construção de uma sociedade mais inclusiva e a cadeia de moda irlandesa quer desempenhar o seu e liderar pelo exemplo.
Em Portugal, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos a 2021, data do último Censos, estima-se que existam cerca de 1,3 milhões de pessoas com algum tipo de incapacidade, mais de 10% da população, o que inclui pessoas com mobilidade reduzida. Se a isso juntarmos as estimativas de organizações que trabalham com questões de acessibilidade e deficiência, eleva-se para 1,7 milhões.
Estes números abrangem uma variedade de condições que podem afetar a mobilidade, como deficiências físicas, problemas de saúde crónicos, lesões ou idade avançada. E tendem a piorar. Convém não esquecer que o envelhecimento da população é uma tendência crescente, prevendo-se que, em 2050, mais de 40% da população dos países da OCDE tenha mais de 60 anos. São dados que, inequivocamente, reforçam a importância de repensar o conceito de acessibilidade na sociedade, não só no sentido da eliminação de barreiras físicas, mas sobretudo em termos de garantir oportunidades equitativas para todos.
As pessoas por detrás destes números enfrentam desafios diários para aceder a espaços públicos, transporte e serviços, mas também em algo tão simples como comprar uma peça de roupa adaptada às suas necessidades e que seja acessível. Acessível em termos da possibilidade de ser facilmente encontrada, muitas vezes só online, assim como do ponto de vista económico, frequentemente representando um encargo financeiro considerável. Trata-se, em última instância, da essência do conceito de acessibilidade, que é amplo e assente na promoção da igualdade de acesso, envolvendo a criação de um ambiente que é inclusivo e que também permite a participação plena de todas as pessoas, independentemente das suas capacidades físicas, cognitivas, sensoriais, da idade ou de circunstâncias temporárias que as possam afetar. E todos sabemos o papel que o vestuário representa na autoexpressão da personalidade de cada um e na confiança que pode significar vestir algo confortável e bonito.
E é precisamente isto que a Primark quer facilitar. No início deste ano, lançou a sua primeira coleção de moda adaptada, ao mesmo tempo que anunciou o compromisso de impulsionar mudanças no seu negócio e nas suas lojas. “A Primark tem por objetivo tornar a moda e produtos essenciais acessíveis a todos e decidiu agora introduzir no mercado artigos mais adaptados a pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida e aplicar um design inclusivo a mais gamas de produtos. A nova coleção de quatro peças, que está disponível em lojas selecionadas, foi revelada em simultâneo com os nossos planos para promover mudanças no nosso negócio e lojas, com o objetivo de ser mais acessível para os colaboradores e clientes com necessidades especiais ou mobilidade reduzida”, introduz Nelson Ribeiro, Head of Sales da Primark Portugal.
“Estamos a colaborar com especialistas para aprendermos e desafiarmo-nos a ir mais longe de forma mais rápida, originando um maior impacto. Isto é mais do que uma gama nova para nós, é o início de uma caminhada no sentido de podermos apoiar os nossos clientes e colaboradores com necessidades especiais ou mobilidade reduzida”
As primeiras quatro peças desta coleção já podem ser encontradas em duas lojas em Portugal, mais concretamente no Norte Shopping, no Porto, e no Ubbo, na Amadora, os espaços selecionados para estrear este conceito no mercado nacional. Mas Nelson Ribeiro confirma que está a ser analisada a expansão para mais espaços, no futuro. A própria gama, para já centrada na lingerie, também irá crescer. “Esta primeira coleção de moda adaptada é a primeira de muitas”, sublinha. “Estamos a colaborar com especialistas para aprendermos e desafiarmo-nos a ir mais longe de forma mais rápida, originando um maior impacto. Isto é mais do que uma gama nova para nós, é o início de uma caminhada no sentido de podermos apoiar os nossos clientes e colaboradores com necessidades especiais ou mobilidade reduzida”.
As roupas adaptadas são mais práticas e confortáveis, com pequenas adaptações, como fechos fáceis, magnéticos e discretos, materiais como o velcro e tecidos macios, mas nem por isso deixam de ser modelos bonitos e femininos. A Primark também teve a preocupação de disponibilizar tamanhos que se adaptassem a todos os corpos, estando a lingerie disponível do tamanho 2XS ao 2XL. “O desenvolvimento deste produto demorou dois anos e, durante o processo, fomos consultando mulheres que já usam, ou gostariam de usar, roupa interior adaptada, promovendo ‘focus groups’ com clientes e colegas”, detalha Nelson Ribeiro.
A acessibilidade, em termos de preço, foi outra das premissas na conceção desta coleção. “A Primark foi fundada com o propósito de tornar a moda mais acessível a todos os níveis, incluindo o preço, e isso significa representar e responder às necessidades diferentes de todos os nossos clientes. Por isso, temos orgulho em disponibilizar produtos especializados nas lojas Primark a preços acessíveis, entre os 10 e os 12 euros, adaptados às necessidades dos nossos clientes, e que normalmente são mais caros e estão disponíveis apenas online. Trata-se de parecer e sentir-se bem, todos os dias, com produtos de excelente qualidade e a preços acessíveis”.
Uma Primark também mais acessível
Shani Dhanda é uma das especialistas em acessibilidade que têm vindo a trabalhar com a Primark nesta jornada de inclusão, com base no que tem sido a sua própria experiência, enquanto consumidora com necessidades especiais. “As pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida deparam-se com custos de vida muito mais elevados e as opções de vestuário disponíveis são, muitas vezes, limitadas e caras. Eu experiencio muitas vezes a frustração de não encontrar roupas que sirvam no meu corpo, onde destaco as barreiras sistémicas profundamente enraizadas na nossa sociedade. As marcas desempenham um papel importante na eliminação destas barreiras que impactam profundamente a vida diária das pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida. É por isso que estou muito satisfeita por ver a dedicação da Primark à inclusão e acessibilidade. A sua abordagem abrangente e holística está preparada para responder às diversas barreiras que os seus clientes, mas também os seus colaboradores, têm de enfrentar”, testemunha.
Para assinalar este lançamento, que é global, a Primark conduziu um estudo no Reino Unido, em parceria com o Research Institute for Disabled Consumers, sobre a experiência de compra das pessoas com necessidades especiais e sobre a moda adaptada. As conclusões foram reveladoras: três em cada cinco destes shoppers, cerca de 62%, têm dificuldades em encontrar peças de roupa que os façam sentir felizes e confortáveis, derivado da sua condição. E, apesar de três em cada quatro, ou 77%, considerar a moda adaptada essencial, ou que melhora significativamente a sua qualidade de vida, apenas 25% usa peças de roupa adaptadas. A acessibilidade, em termos de disponibilidade e de preço, são grandes barreiras para as pessoas com necessidades especiais e mais de um terço (36%) considera que a moda adaptada é muito cara. 24% opta por comprar peças de roupa não adaptadas e alterá-las para corresponderem às suas necessidades. Caso a moda adaptada fosse oferecida pelos retalhistas “mainstream”, três em cada cinco pessoas teriam mais probabilidade de a comprar.
“Tendo em conta o que tem sido feito até à data, como trabalhar com pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida ao longo das suas campanhas, disponibilizando pontos de venda acessíveis e provadores para pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida, a Primark está empenhada em promover mudanças em toda a sua área de loja e está a trabalhar com especialistas em acessibilidade e inclusão de pessoas com necessidades especiais para rever políticas, processos e canais que melhorem a cultura de acessibilidade em toda a empresa”
O estudo também apurou que a experiência de ir às compras é geralmente difícil e desafiadora para as pessoas com necessidades especiais, com 55% a dizer que evita ir às lojas devido a este mesmo motivo, sublinhando uma necessidade urgente de mudança em todo o sector.
Ora, com a nova coleção de lingerie adaptada, a Primark vai também transformar as suas lojas e operações para conseguir disponibilizar um melhor serviço e uma experiência mais inclusiva a clientes e colaboradores com necessidades especiais ou mobilidade reduzida. Nesse sentido, para além de Shani Dhanda, a Primark está a trabalhar com a Purple Tuesday, uma organização global para pessoas com necessidades especiais, e com o Business Disability Forum, uma organização empresarial líder na inclusão de pessoas com necessidades especiais. “Tendo em conta o que tem sido feito até à data, como trabalhar com pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida ao longo das suas campanhas, disponibilizando pontos de venda acessíveis e provadores para pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida, a Primark está empenhada em promover mudanças em toda a sua área de loja e está a trabalhar com especialistas em acessibilidade e inclusão de pessoas com necessidades especiais para rever políticas, processos e canais que melhorem a cultura de acessibilidade em toda a empresa. Estamos comprometidos em criar nas nossas lojas um ambiente mais acessível para os nossos clientes e colaboradores”, assegura Nelson Ribeiro.
Futuras possibilidades
Apesar de estar numa fase muito inicial – o lançamento foi em meados de janeiro e, para já, a coleção apenas está disponível em duas lojas Primark -, o feedback tem sido positivo. “Até ao momento, a recetividade por parte dos consumidores portugueses é positiva, alguns clientes têm-nos perguntado pela coleção, especialmente em lojas não selecionadas para a campanha. O nosso objetivo é medir e recolher o feedback dos nossos clientes para avaliar futuras possibilidades”.
E nas futuras possibilidades enquadra-se também, quem sabe, fazer algo semelhante para o público infantil e para o masculino. “Com este primeiro passo, optámos por lançar uma coleção de lingerie, mas estamos empenhados em ir mais longe e em ver como podemos expandir ainda mais e introduzir mais artigos adaptados e aplicar design inclusivo a mais gamas de produtos”.
É entendimento da Primark que cabe às marcas um papel importante na eliminação de barreiras que impactam a vida diária. Esta gama é a mais recente no âmbito do seu compromisso em apoiar e capacitar as mulheres, ao tornar produtos especializados e inovadores inclusivos e acessíveis ao maior número possível de clientes. A gama Supporting Women for Life da Primark inclui cuecas menstruais, uma gama para a menopausa e soutiens pós-cirúrgicos. “À medida que fomos crescendo, as nossas gamas expandiram-se e temos orgulho em trazer produtos especializados, normalmente mais caros e disponíveis apenas online, e oferecê-los a preços acessíveis nas lojas. Estamos satisfeitos por ter uma maior opção de escolha nas lojas para pessoas com necessidades especiais e é por isso que estamos empenhados em fazer mais e ir mais longe, e de forma mais rápida, no que diz respeito à oferta de produtos mais adaptados e aplicar um design inclusivo a mais gamas de produtos”, conclui Nelson Ribeiro.
Este artigo foi publicado na edição N.º 85 da Grande Consumo.