Portugal está no pelotão da frente dos países que, no futuro próximo, podem ambicionar em tornar os cigarros obsoletos. Assim o crê Marcelo Nico, diretor geral da Tabaqueira, subsidiária da Philip Morris International (PMI). No ano em que a Tabaqueira celebra 95 anos da sua fundação, o 25.º aniversário da reprivatização pela PMI, além dos 60 anos da fábrica de Albarraque, chega também ao mercado nacional um novo sistema de tabaco aquecido que, no entender do gestor, é fundamental para acelerar o processo de transformação da empresa. E que vem reafirmar o seu posicionamento como um dos principais impulsionadores da eliminação dos cigarros. Colocando a sustentabilidade no “core” da sua estratégia de negócio, a PMI e, por inerência, a Tabaqueira têm vindo a promover alterações profundas na forma como operam, o que se traduz numa mudança do modelo de negócio, onde a inovação e a ciência se conjugam no desenvolvimento de produtos que permitem almejar um futuro “sem fumo”.
Grande Consumo – A Organização Mundial de Saúde afirma que, até 2025, haverá mais de mil milhões de fumadores no mundo e que o melhor é mesmo deixar de fumar. Para os que não o conseguem, a indústria tem alternativas sólidas e concretas, ao dia de hoje?
Marcelo Nico – Para que não haja dúvidas: sim. Os fumadores adultos, que por alguma razão não deixam de fumar, têm hoje à sua disposição melhores alternativas face aos cigarros tradicionais. Alternativas sólidas e concretas, como refere, porque são baseadas em evidência científica.
A Philip Morris International (PMI) já investiu, desde 2008, nove mil milhões de euros em ciência e em inovação tecnológica, fundamentais para o desenvolvimento de soluções sem combustão – sem fumo –, que permitam reduzir a nocividade relacionada com o consumo de produtos de tabaco e nicotina.
E o que nos dizem os ensaios clínicos que já desenvolvemos sobre estas alternativas desenvolvidas pela PMI? É que estas representam, de facto, um potencial de redução de nocividade face aos tradicionais cigarros. Não são isentas de risco, porque contêm nicotina, mas ao não queimarem tabaco, estas alternativas não libertam fumo e, por isso, reduzem significativamente a formação e exposição a constituintes químicos nocivos.
GC – Como é que uma empresa que tem na produção e comercialização de tabaco a sua atividade comercial consegue promover um “futuro sem fumo”? Que aspetos compõem essa visão?
MN – Está nas nossas mãos mudar o legado que queremos deixar para o futuro. E foi com essa motivação que, desde 2008, começámos a investir em investigação e desenvolvimento, no sentido de reduzirmos a nocividade dos produtos de tabaco. Em 2016, anunciámos publicamente a nossa nova visão: caminhar progressivamente rumo a um futuro sem fumo, ou seja, sem cigarros. Acreditamos que é possível substituir os cigarros por melhores alternativas, sem combustão, ao disponibilizarmos a todos os fumadores, que de outra forma continuariam a fumar, produtos alternativos, devidamente substanciados por evidência científica.
A inovação, a ciência e a tecnologia estão, hoje, no centro do nosso modelo de negócio. Temos, atualmente, no centro de I&D da PMI, na Suíça, mais de 900 investigadores das áreas das Ciências da Saúde e da Engenharia, que trabalham em prol do desenvolvimento de produtos sem fumo, substanciados cientificamente enquanto alternativas menos nocivas que os cigarros. É uma autêntica transformação e fomos nós que a iniciámos e estamos a liderá-la.
GC – A luta contra o tabagismo continua a ser o grande objetivo a atingir? Não é uma contradição face àquilo que é o “core business” da empresa?
MN – Não há qualquer contradição. Hoje, ninguém duvida de que fumar cigarros é uma das principais causas de doença e de morte evitáveis. Também na PMI não temos qualquer dúvida sobre esse facto e, por isso, defendemos que a melhor solução é nunca começar a fumar; ou, no caso dos fumadores, deixar de fumar completamente.
Sabemos, no entanto, pela realidade, que isso não acontece. Como referiu, e bem, na sua primeira pergunta, vão continuar a existir no mundo mais de mil milhões de fumadores, 1,5 milhões dos quais em Portugal. O que quer dizer que, apesar do forte investimento que se tem feito em políticas de prevenção e controlo do tabagismo nas últimas décadas, isso não é suficiente. É preciso fazer mais. E nós, na Tabaqueira e na PMI, podemos ajudar a inverter este cenário, mas, para isso, é preciso que seja considerada uma nova abordagem, mais pragmática e complementar, que ofereça, de facto, uma alternativa de menor nocividade aos cigarros, que são, de longe, a forma mais prejudicial de consumo de nicotina.
“Estabelecemos um objetivo muito ambicioso: até 2025, pelo menos, 40 milhões de fumadores adultos tenham mudado e adotado os nossos produtos sem fumo. Em Portugal, são já 400 mil os utilizadores do sistema de tabaco de aquecimento da PMI, o IQOS”
GC – Que soluções a Tabaqueira disponibiliza, ao dia de hoje, que permitem ir ao encontro dessa visão estratégica? A definição clássica de cigarro, como a temos conhecido, vai deixar de existir?
MN – Praticamente todo o nosso investimento em I&D, os tais nove mil milhões de euros desde 2008, e a maior parte do investimento em atividades comerciais destinam-se ao desenvolvimento e comercialização de produtos sem fumo. O progresso, aliás, está a ser muito rápido, pelo que estabelecemos um objetivo muito ambicioso: até 2025, pelo menos 40 milhões de fumadores adultos tenham mudado e adotado os nossos produtos sem fumo. Em Portugal, são já 400 mil os utilizadores do sistema de tabaco de aquecimento da PMI, o IQOS. Com vista a acelerar a transformação e a transição de fumadores adultos para estas alternativas sem combustão, procuramos inovar continuamente e melhorar as características dos nossos dispositivos. Assim, em Portugal, além de disponibilizarmos a gama mais avançada do IQOS, o Iluma, e que chegou recentemente ao nosso mercado em três variedades – o IQOS Iluma, IQOS Iluma Prime e o IQOS Iluma One -, comercializamos outras versões, como o IQOS 3, o IQOS 3 Duo ou o LiL Solid, lançado também este ano.
Ao termos um portfólio diverso de produtos de tabaco sem combustão, garantimos que respondemos, de forma mais completa, aos diferentes perfis e necessidades dos fumadores adultos, assegurando a sua conversão para melhores alternativas.
GC – E no dia em que se deixar de consumir cigarros, o que se segue? Ou essa é uma visão idílica e, por isso mesmo, difícil de atingir?
MN – Isso dependerá de um conjunto de variáveis, no qual se incluem, por exemplo, o grau de desenvolvimento dos mercados e o enquadramento regulatório em vigor em cada um deles. Acreditamos que, em muitos países, com o devido encorajamento por parte dos decisores e das autoridades reguladoras, essa poderá ser uma realidade possível, ainda que possa persistir algum nível de consumo de cigarros. Por exemplo, quando tomou posse, em 2021, o CEO da PMI, Jacek Olczak, instou o governo do Reino Unido a tomar as necessárias medidas para tornar o país livre de fumo, algo possível concretizar, pensamos, no espaço de uma década.
Acredito que Portugal também está no pelotão da frente dos países que, no futuro próximo, podem ambicionar tornar os cigarros obsoletos. Mas temos ainda muito trabalho pela frente.
GC – Mais do que proibir o consumo de cigarros, importa demostrar que existe um caminho alternativo e com foco no consumidor? Portugal poderá almejar ser um país livre de fumo?
MN – Existe um caminho alternativo, que é o de disponibilizar aos fumadores adultos acesso a informação fidedigna que lhes permita tomar decisões informadas sobre a sua saúde.
Portugal, pelo grau de conversão de fumadores adultos para as novas alternativas (por algum motivo, é sempre um dos primeiros mercados a adotar novos produtos alternativos da PMI), pode vir a assumir-se, sem dúvida, como um bom exemplo de um potencial “país sem fumo”.
Mas, para tal, os produtos de tabaco aquecido precisam de ser considerados uma terceira alternativa à prevenção e cessação tabágica. É preciso garantir o acesso a informação credível aos fumadores, relativa a estes novos produtos de risco modificado. É nesse sentido que temos apelado ao diálogo aberto, informado e transparente com as autoridades, por forma a que se consiga criar uma nova geração de políticas públicas que tenha em consideração os avanços tecnológicos e científicos que têm sido feitos na última década.
GC – Os riscos para a saúde são a grande temática em torno do consumo do tabaco. Fumar cigarros eletrónicos, seja em que sistema for, é uma opção segura para a saúde dos consumidores? A transição dos utilizadores de cigarros para alternativas sem fumo e combustão reduz risco de vida e saúde dos seus clientes? Existe hoje evidência científica suficiente que comprove isso mesmo?
MN – Em primeiro lugar, quero dar-lhe nota que o sistema de tabaco aquecido da PMI não é um cigarro eletrónico. É, sim, um sistema de aquecimento de tabaco, sem combustão. Este equívoco entre termos e conceitos é muito comum e advém, como referi agora mesmo, da falta de acesso a informação disponível sobre estas alternativas, o que só confunde os fumadores adultos e acaba por ter um efeito perverso, que é o da desinformação e consequente afastamento de potenciais utilizadores.
Relativamente ao teor da sua pergunta, só posso falar pela PMI e pelos seus produtos. Quando optámos pelo caminho da ciência, fizemo-lo de forma muito comprometida. E, por isso, a abordagem da PMI ao desenvolvimento destes novos produtos sem combustão é muito idêntica ao desenvolvimento de um medicamento e inclui, naturalmente, estudos de avaliação toxicológica (já ultrapassámos os 200) e estudos de avaliação clínica (já desenvolvemos 24). Estes estudos têm, de forma sistemática e consistente, demonstrado que o sistema IQOS produz, em média, menos 95% de substâncias químicas nocivas ou potencialmente nocivas, em comparação aos cigarros convencionais, ainda que não isento de risco. O que comprova que o aerossol do sistema de tabaco aquecido da PMI é fundamentalmente diferente e menos nocivo que o fumo gerado pela combustão dos cigarros, como a Agência Americana para a Segurança Alimentar e para o Medicamento (FDA) veio a reconhecer, depois de mais de três anos de avaliação técnico-científica. A FDA autorizou a comercialização do IQOS como um produto de tabaco de risco modificado, considerando-o apropriado para a promoção da saúde pública.
“Se houver o correto encorajamento regulatório por parte das autoridades de cada país, considerando a abordagem da redução de risco como um terceiro pilar complementar às tradicionais políticas de combate ao tabagismo, será possível caminhar muito rapidamente para um cenário em que os cigarros se tornarão obsoletos”
GC – Recentemente, Grégoire Verdeux, vice-presidente da PMI para os Assuntos Internacionais, considerou em entrevista a um meio nacional que “se houvesse vontade política, em 15 anos, deixava de haver tabaco no mundo”. Como se explica e defende esta perspetiva?
MN – De forma simples: se houver o correto encorajamento regulatório por parte das autoridades de cada país, considerando a abordagem da redução de risco como um terceiro pilar complementar às tradicionais políticas de combate ao tabagismo, será possível caminhar muito rapidamente para um cenário em que os cigarros se tornarão obsoletos.
GC – A indústria, como um todo, está hoje capacitada para terminar com a produção do tabaco, como sempre o conhecemos até ao dia de hoje? Se sim, em que eixo temporal?
MN – A PMI, como líder de mercado mundial, ao iniciar a sua própria transformação, naturalmente propagou a mudança a toda a indústria. Aliás, esta missão – a concretização de um futuro sem fumo – só é possível com o empenho e participação de todos. Agora, isso implica um grau de compromisso para com a transformação absolutamente inegociável e de longo prazo: estamos hoje orientados para um negócio sem fumo e que explora novos caminhos.
Nos últimos dois anos, a PMI tem vindo a investir e a reforçar as suas competências nas áreas do bem-estar e dos cuidados de saúde, explorando a experiência acumulada, nos últimos anos, em aerossolização e terapias respiratórias. Estamos a desbravar novos territórios e a construir um novo legado: em 2025, temos como objetivo atingir, pelo menos, mil milhões de dólares em receitas provenientes de produtos que nada têm a ver com tabaco e nicotina.
GC – Por outro lado, o comércio ilícito de tabaco é uma questão preocupante no nosso país? Ou não tão lesiva aos fabricantes e à atividade económica como noutros países? São as restrições levantadas que promovem as atividades paralelas?
MN – O comércio ilícito de tabaco é uma das principais preocupações do sector. Atingiu, em 2021, 7% do consumo total de cigarros em Portugal e representou uma perda de receitas fiscais de mais de 110 milhões de euros para o Estado português. Para lá, naturalmente, dos danos provocados a todos os agentes, incluindo empresas de pequena e média dimensão, que participam na cadeia de valor e que são obviamente lesados pelo comércio ilícito.
Os Estados tendem a ver os aumentos fiscais como barreiras ao início do consumo de cigarros e como pressão para a cessação tabágica. Mas a verdade é que tal estratégia, na prática, não parece alcançar o efeito dissuasor esperado. Isso é muito visível em França, por exemplo, onde existem os impostos mais elevados sobre produtos de tabaco: o número de fumadores tem-se mantido inalterado, ao longo das últimas duas décadas, enquanto o recurso ao mercado negro não tem parado de aumentar. O comércio ilícito já representa 30% do consumo total de cigarros. A carga fiscal é brutal e, no entanto, não parece ter o efeito pretendido, pelo contrário.
GC – O Orçamento de Estado para 2023 traz uma nova atualização, agravando a fiscalidade aplicada aos produtos de tabaco e nicotina. A atual taxação fiscal dos produtos tabágicos, estimada em torno dos 80%, é excessiva?
MN – Num contexto económico marcado pela elevada inflação, que naturalmente impacta no poder de compra dos consumidores, é importante que se verifiquem aumentos moderados nos impostos especiais sobre o consumo que incidem sobre os produtos de tabaco, em particular, no caso dos novos produtos de tabaco, como é o tabaco aquecido, relativamente ao qual Portugal é já o segundo país europeu com o valor mais elevado de impostos, em euros por quilograma, entre os países que criaram uma categoria dedicada para este produto.
Na medida em os produtos de tabaco sem combustão se encontram cientificamente substanciados como sendo uma melhor alternativa comparativamente aos cigarros, acreditamos que aumentos moderados que preservem a diferenciação fiscal entre estes produtos sem fumo e os produtos combustíveis, como os cigarros, são instrumentos importantes no combate ao comércio ilícito de produtos de tabaco e permitirão garantir, em simultâneo, a preservação das receitas fiscais.
GC – Quantos utilizadores tem hoje a marca IQOS, a nível nacional? A sua rede de distribuição tem sido um dos trunfos para a sua rápida propagação nos hábitos de consumo? Procuram alargar essa mesma rede?
MN – Atualmente, são cerca de 400 mil os utilizadores de IQOS em Portugal. Naturalmente que o contacto direto com os consumidores permite ultrapassar as barreiras de comunicação que existem e fornecer-lhes informação fidedigna e credível sobre os novos produtos sem combustão, cientificamente substanciados. Este foi, de facto, um ano de crescimento da nossa rede comercial, com a abertura de seis novos pontos de venda, incluindo duas boutiques IQOS. Contamos, atualmente, com 22 lojas próprias.
GC – O atual portfólio detido e explorado deixa-o satisfeito? A IQOS já atingiu todo o seu potencial de crescimento, em Portugal? Ou, após a grande novidade, o sistema Iluma e os sticks Terea, outros lançamentos estão no “pipeline” de inovação? A inovação é uma constante na Tabaqueira?
MN – Todos os consumidores têm perfis diferentes, pelo que é necessário garantir que conseguem aceder a dispositivos diferenciados e que vão ao encontro das suas necessidades. Por isso, a inovação não para e continuamos empenhados no desenvolvimento de melhores alternativas, sem fumo e substanciadas em ciência.
O IQOS Iluma é um produto altamente inovador e que representa o maior salto tecnológico da marca, desde o seu lançamento mundial, em 2014. Pelas suas características, permite uma melhor experiência, sem fumo, sem necessidade de limpeza e com menos cheiro, além de disponibilizar funções mais intuitivas. Consideramos, pois, que garantirá uma aceleração na transformação que preconizamos, rumo a futuro sem fumo.
GC – O facto de Portugal ter sido o sexto mercado dentro do Grupo PMI a acolher este lançamento é representativo dessa mesma importância, não obstante a reduzida dimensão económica e demográfica do mercado doméstico?
MN – Sem dúvida. Mais do que a dimensão do mercado, importa a maturidade dos consumidores (fumadores adultos) e a sua capacidade de adaptação às melhorias introduzidas pela inovação tecnológica e científica. Nesse sentido, Portugal destaca-se. Foi o quarto mercado a receber o IQOS, a nível mundial, e, agora, o sexto a comercializar o IQOS Iluma. É por isso que estou tão otimista quanto ao facto de Portugal se conseguir posicionar no grupo pioneiro de países que têm capacidade de se assumir como “países sem fumo”.
GC – Qual o peso desta área de negócio para a faturação da Tabaqueira? É o grande “driver” de crescimento da empresa, no presente e futuro? Qual a meta a atingir em termos de importância na faturação? Esse mesmo número tem data para acontecer?
MN – Podemos falar de resultados e previsões globais e, neste momento, os produtos de tabaco aquecido já representam mais de um terço das receitas da PMI. O objetivo é que, em 2025, representem pelo menos metade das receitas líquidas do grupo.
GC – Em 2022, a fábrica da Tabaqueira comemora o seu 60.º aniversário, evidenciando uma clara modernização. Qual o montante já aplicado em 25 anos de privatização e o que é que a aplicação do mesmo já permitiu a esta unidade produtiva?
MN – Se temos hoje um dos principais e mais modernos centros de produção da PMI, tal se deve claramente ao robusto investimento financeiro que o grupo tem feito no mercado português. Desde 1997, ano da reprivatização da Tabaqueira, a PMI já investiu cerca de 390 milhões de euros na nossa operação, em média, 15 milhões de euros por ano. Sem dúvida que a maior fatia desse valor tem sido aplicada na nossa fábrica, que, desde então, mais do que duplicou a sua capacidade produtiva, com foco na sustentabilidade e na eficiência energética.
A redução da pegada ambiental da nossa operação assumiu-se como um dos grandes desígnios da Tabaqueira, na última década, com a nossa unidade fabril, em Albarraque, no concelho de Sintra, a ser alvo de diversas iniciativas, enquadradas no Programa Energético e Ambiental da Tabaqueira. Assim, entre 2010 e 2021, resultado dos investimentos que temos feito, reduzimos em 74% as emissões de CO2, o consumo de energia sofreu uma redução de 44% e o de água de 42%. Adicionalmente, valorizamos energeticamente mais de 99% dos resíduos gerados pela nossa atividade.
Competitividade e eficiência produtiva e energética são as nossas prioridades em termos de investimento.
“Os Estados tendem a ver os aumentos fiscais como barreiras ao início do consumo de cigarros e como pressão para a cessação tabágica. Mas a verdade é que tal estratégia, na prática, não parece alcançar o efeito dissuasor esperado. Isso é muito visível em França, por exemplo, onde existem os impostos mais elevados sobre produtos de tabaco: o número de fumadores tem-se mantido inalterado, ao longo das últimas duas décadas, enquanto o recurso ao mercado negro não tem parado de aumentar. O comércio ilícito já representa 30% do consumo total de cigarros”
GC – Qual o peso da exportação nas vendas da Tabaqueira? Em 1997, ano da reprivatização, era apenas 3%. A Tabaqueira é hoje uma empresa mais virada para os mercados externos? Para quantos países exporta ao todo?
MN – Em 2021, atingimos o nosso recorde, exportando 86% da nossa produção, o equivalente a 719 milhões de euros. Acreditamos que, fechadas as contas de 2022, vamos observar, de novo, um crescimento sustentado das vendas ao exterior, cimentando a nossa posição como um dos principais grupos exportadores nacionais.
O investimento da PMI na operação portuguesa permitiu-nos alimentar o nosso pendor exportador e, hoje, vendemos para mais de 20 países.
GC – Qual a importância da operação nacional dentro do grupo PMI? Qual a relevância da Tabaqueira para o grupo?
MN – Como referido, somos uma das mais modernas e avançadas unidades industriais da PMI, a nível global. Temos batido recordes sucessivos de produção e respondemos, de forma ágil e altamente profissional, a todos os desafios lançados pela nossa casa-mãe.
Ao mesmo tempo, a PMI tem selecionado o nosso mercado para a localização de alguns dos mais importantes centros de excelência globais, que prestam serviços aos mais diversos mercados e que têm sido um importante motor de criação de emprego. É em Portugal que se localiza departamento de Leaf, o departamento de Corporate Audit, o Platform Engineering Hub e o departamento de Planning, Budgeting and Financial Reporting. Por exemplo, o Leaf dá apoio às boas práticas agrícolas em mais de uma dezena de países produtores de tabaco da Europa, Médio-Oriente e África, enquanto o IT Hub desenvolve aplicações de software que dão suporte a várias áreas do grupo.
Nesse sentido, é um mercado fundamental para concretização da transformação do grupo. Pelo que é essencial garantir que continuamos, enquanto mercado e operação, a ter todas as condições para manter a nossa força produtiva.
GC – Sustentabilidade é um eixo de ação transversal a qualquer negócio. Que metas visa atingir o Roteiro da Tabaqueira recentemente apresentado? O mundo em profunda mudança em que vivemos faz com que os “milestones” na gestão das empresas tenham de ser revistos em ciclos cada vez mais curtos? Ou não é o caso?
MN – A mudança é hoje contínua e implica a capacidade de antecipação e agilidade de resposta por parte das organizações. Na PMI, estamos atentos às megatendências, dos desafios climáticos ao combate às desigualdades sociais e económicas, do avanço tecnológico às necessidades de bem-estar, entre outras, e é por isso que estamos na liderança da mudança de paradigma da nossa indústria. Os processos de gestão e de decisão têm de estar imbuídos da vontade permanente em responder à mudança e, sempre que possível, em antecipá-la.
O Roteiro 2025 da Tabaqueira é, precisamente, uma ferramenta de gestão com vista à mudança. De forma concreta, permite-nos medir o nosso progresso rumo aos objetivos de sustentabilidade que estabelecemos e que podem ser revistos, naturalmente, de acordo com as tendências e acontecimentos que possam ocorrer.
O nosso roteiro visa especificamente responder aos impactos sociais e ambientais dos nossos produtos e da nossa operação. Ao nível do produto, comercializar e apostar na substituição de cigarros por alternativas cientificamente substanciadas, sem fumo e sem combustão, com o aumento da sua representatividade e do número total de utilizadores; reduzir o desperdício pós-consumo e prevenir o lixo através da implementação abrangente de programas de prevenção da eliminação indevida de resíduos de filtros; e adotar princípios de ecodesign e de circularidade em todos os dispositivos associados aos produtos livres de fumo. Já ao nível da operação, fomentar uma diversidade cultural que promova a equidade e a inclusão, proporcionando acesso à aprendizagem ao longo da vida a todos os nossos trabalhadores e melhorar a representação de género na gestão a nível local; e alcançar a neutralidade carbónica nas nossas operações e acelerar a nossa descarbonização em direção a “net zero” em toda a nossa cadeia de valor.
“Somos uma das mais modernas e avançadas unidades industriais da PMI, a nível global. Temos batido recordes sucessivos de produção e respondemos, de forma ágil e altamente profissional, a todos os desafios lançados pela nossa casa-mãe. Ao mesmo tempo, a PMI tem selecionado o nosso mercado para a localização de alguns dos mais importantes centros de excelência globais, que prestam serviços aos mais diversos mercados e que têm sido um importante motor de criação de emprego”
GC – A sustentabilidade é mesmo o maior motor de desenvolvimento da indústria moderna? Independentemente da área de negócio onde se atue?
MN – É mesmo! Quem diria que o principal impulso para a eliminação dos cigarros viria da própria indústria tabaqueira? E, agora, aqui estamos, num caminho que não tem volta. E isso acontece porque houve uma companhia que decidiu que a sustentabilidade deveria ser assumida como o “coração” da sua estratégia de negócio, o que levou a alterações profundas na forma como operamos na PMI, tendo em vista a redução da nossa pegada ambiental e a construção de um ambiente de trabalho inclusivo e que esbata as desigualdades. Mas, sobretudo, levou a uma mudança do nosso modelo de negócio, apostando na inovação e na ciência para o desenvolvimento de melhores produtos.
GC – Tecnologia, ciência e inovação, com foco no consumidor, continuarão a guiar o futuro desta indústria e da atividade da Tabaqueira, em concreto? Nesse sentido, a aposta na criação e proteção de patentes é um ativo a potenciar?
MN – O número de patentes da PMI, relativas a produtos sem combustão, chegou às 1.770, no ano passado, o que traduz bem as prioridades do nosso grupo e o robusto investimento que estamos a fazer em inovação tecnológica e conhecimento científico em prol do desenvolvimento de melhores alternativas, de menor nocividade, face aos cigarros tradicionais.
A nova orientação que tomámos permitiu-nos adquirir um conhecimento único relativamente à tecnologia de aerossolização e que pode ser aplicado em novas áreas terapêuticas e, como tal, faz sentido que, neste caminho, criemos propostas de valor que, no médio e longo prazo, se materializem em novas fontes de negócio, com uma dinâmica própria. Cabe às empresas encontrarem o seu caminho e garantirem a sua longevidade, acrescentando valor à economia.
GC – Neste ano que agora se despede, 2022, a Tabaqueira celebra 95 anos da sua fundação, o 25.º aniversário da reprivatização pela PMI, além dos 60 anos da fábrica de Albarraque. Além destas diversas efemérides, seguramente com significado, 2022 é apenas mais um ano de mudança para a empresa? A mudança é a maior certeza que se tem hoje na gestão empresarial?
MN – A mudança é, sem dúvida, o nosso maior desafio. Sobretudo quando, no caso da Tabaqueira, estamos a falar de uma empresa com quase um século de vida e que está tão presente na economia nacional. Gerir a mudança, em sintonia com aquele que é nosso papel de estabilidade enquanto empresa relevante para a economia, é fundamental.
Somos uma empresa praticamente centenária e, por isso, com elos de ligação muito fortes à economia nacional. Somos um grande exportador, um importante empregador – atualmente, temos cerca de 1.300 trabalhadores -, gerador de riqueza e de investimento, importante contribuinte para o Estado, mas, sobretudo, somos responsáveis por uma cadeia produtiva da qual dependem muitas dezenas de outras empresas nacionais, de pequena, média e grande dimensão. Por ano, fazemos cerca de 100 milhões de compras a parceiros nacionais. Num estudo independente que promovemos recentemente, com o objetivo de medir o impacto da atividade da Tabaqueira em Portugal, percebemos que impactamos direta e indiretamente um universo de mais de 41 mil pessoas.
Pela nossa “pegada económica”, que nos posiciona como uma empresa muito relevante para a economia nacional, temos a responsabilidade de garantir que a nossa operação mantém, no futuro, a força que tem hoje. Para isso, há que assegurar que concretizamos esta transformação, garantindo que a nossa fábrica, tão importante para as exportações nacionais, tem todas as condições para manter a sua centralidade no universo PMI, convertendo-se de acordo com aquele que é nosso desígnio: construir um futuro sem fumo. Nos próximos 95 anos, queremos continuar a fazer história.