Apesar da profunda recessão provocada pela pandemia de Covid-19, em 2020, não se produziu o previsível aumento das insolvências globais. A nível mundial, o número de falências empresariais teve uma redução de 14%, com reduções significativas em algumas das maiores economias europeias, como Espanha (-14%), Alemanha (-17%), França (-40%) ou Reino Unido (-27%).
Em Portugal, as insolvências diminuíram 5%. A Turquia e a Irlanda foram os únicos países de proximidade nos quais as insolvências aumentaram, em 2020. Na Turquia, as empresas enfrentaram condições de financiamento mais rigorosas e um apoio governamental limitado. Na Irlanda, o aumento foi de apenas 1%.
Dois fatores podem explicar a tendência de diminuição das insolvências. Em primeiro lugar, muitos países introduziram alterações na sua legislação para proteger as empresas da insolvência. Em segundo lugar, os governos de todo o mundo adotaram medidas de estímulo fiscal para diminuir os efeitos económicos adversos da pandemia e apoiar, em particular, as pequenas empresas.
Aumento das insolvências
Apesar do avanço dos programas de vacinação e da evolução positiva do crescimento, a Crédito y Caución prevê um aumento de 26% nas insolvências empresariais, a nível mundial, em 2021. Antecipa-se um aumento nas principais regiões e países, exceto na Turquia, onde as insolvências já cresceram em 2020. Os maiores aumentos são esperados na Austrália, França e Singapura. É esperado um aumento de 19% em Portugal, em 2021.
Estas previsões baseiam-se, principalmente, nas expectativas de eliminação gradual das medidas locais de apoio fiscal e na reabertura dos tribunais e reativação dos procedimentos de insolvência. Em consequência disso, muitas empresas, que no ano passado foram resgatadas pelas medidas mencionadas, em 2021, provavelmente vão declarar falência.
Os países que, este ano, vão apresentar o maior aumento percentual das insolvências serão, com toda a probabilidade, aqueles cujos valores foram inusitadamente baixos em 2020.
Níveis de insolvência em finais de 2021
Prevê-se que os níveis de insolvência em quase todos os países analisados, exceto na Alemanha, Grécia, Nova Zelândia e Roménia, sejam mais elevados no final de 2021 do que antes do surto da pandemia de Covid-19.
Espanha e os Países Baixos encontram-se entre os países para os quais se antecipa um maior aumento das insolvências, tomando em conjunto as previsões de 2020 e 2021. Isto deve-se a uma reação relativamente forte às flutuações do PIB tradicionalmente observadas nestes países.
“É esperado que três vetores moldem o desenvolvimento das insolvências mundiais em 2021: a intensidade e amplitude do crescimento económico deste ano, a eliminação gradual dos estímulos governamentais e de outros planos de apoio e as alterações temporárias na legislação sobre falências, que reduziram ou simplesmente atrasaram as apresentações à insolvência. O seu impacto combinado influenciará, em grande medida, os números reais das insolvências e o risco de crédito comercial em 2021 e 2022“, explica Theo Smid, economista sénior da Atradius.