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A União Europeia está a ponderar suavizar a sua meta climática para 2040, mas enfrenta agora um alerta dos seus próprios conselheiros científicos. O European Scientific Advisory Board on Climate Change (ESABCC) adverte que qualquer recuo poderá comprometer os objetivos ambientais do bloco e desviar recursos cruciais para a transformação da sua economia.
A Comissão Europeia prevê propor, em julho, uma meta legalmente vinculativa de redução de 90% das emissões de gases com efeito de estufa até 2040, face aos níveis de 1990. Contudo, perante pressões políticas e receios de rejeição por parte de alguns Estados-membros, Bruxelas está a considerar alternativas, incluindo a definição de um objetivo mais baixo para as indústrias domésticas e o uso de créditos de carbono internacionais para colmatar a diferença.
Críticas
O ESABCC rejeita esta abordagem, sublinhando que “usar créditos de carbono internacionais para cumprir esta meta, mesmo que parcialmente, pode minar a criação de valor interno ao desviar recursos da transformação necessária da economia da União Europeia”. A crítica refere-se à possibilidade dos países comprarem créditos originados em projetos de redução de emissões fora da Europa — como iniciativas de reflorestação no Brasil — e contabilizá-los para atingir as metas europeias.
Embora a Comissão Europeia não tenha respondido diretamente às críticas, um porta-voz afirmou que “o conselho consultivo, fiel à sua missão de fornecer aconselhamento científico com total independência, relembra-nos hoje, no seu relatório, a necessidade urgente de uma ação climática ambiciosa e a importância de definir uma meta de redução de emissões para 2040”.
A União Europeia já tinha banido este tipo de créditos em 2013, após uma vaga de créditos baratos e de fraca eficácia ambiental ter causado uma queda abrupta do preço do carbono no mercado europeu.
Apesar das atuais dificuldades geopolíticas, das tarifas iminentes dos Estados Unidos e dos elevados preços da energia, o ESABCC mantém a sua recomendação de 2023: a meta deve situar-se entre os 90% e os 95% de redução líquida até 2040. Para atingir este patamar, será necessário um sector energético quase totalmente livre de emissões e uma profunda eletrificação de sectores industriais poluentes.
Benefícios económicos e de saúde
O conselho científico sublinha que a concretização desta meta traria múltiplos benefícios, como a redução de doenças relacionadas com a poluição, investimentos na modernização da indústria europeia e reforço da segurança energética, ao diminuir a dependência de combustíveis fósseis importados.
Este posicionamento insere-se num momento crucial para o Pacto Ecológico Europeu, num cenário onde as metas ambientais enfrentam crescente escrutínio político, mas também são vistas como vetores de competitividade e resiliência estratégica para o futuro da Europa.