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A Agentic AI (sistemas de inteligência artificial que operam de forma autónoma) tem potencial para gerar mais-valias significativas que poderão ascender a um total de 450 mil milhões de dólares até 2028. No entanto, apesar deste impulso promissor, apenas 2% das empresas conseguiu avançar com a implementação completa em larga escala da Agentic AI, e o nível de confiança nesta tecnologia diminuiu.
As empresas estão a descobrir que os agentes de IA geram maior impacto quando os seres humanos estão ativamente envolvidos nestes projetos. Quase três quartos dos gestores afirmam que os benefícios da supervisão humana superam os custos, e 90% consideram o envolvimento humano nos fluxos de trabalho impulsionados por IA como algo positivo ou neutro em termos de custo. Estas são algumas das principais conclusões do mais recente estudo do Research Institute da Capgemini intitulado “Rise of agentic AI: How trust is the key to human-AI collaboration,” que conclui que a confiança e a supervisão humanas são fatores decisivos na concretização do potencial da Agentic AI.
O estudo revela também que uma das maiores barreiras à materialização da oportunidade que pode gerar 450 mil milhões de dólares reside na diferença existente entre intenção e capacidade de concretização.
Tecnologia em rápido crescimento
Apesar do rápido e significativo crescimento que a Agentic AI regista atualmente, as empresas ainda estão nas fases iniciais da sua aplicação – i.e. no planeamento. Os dados recolhidos mostram que ainda que quase um quarto dos inquiridos já tenha lançado projetos-piloto, apenas uma pequena percentagem (14%) avançou para a implementação. Esta evolução gradual, contrasta com a ambição dos líderes empresariais, já que 93% acreditam que escalar a Agentic AI nos próximos 12 meses trará novas e mais vantagens competitivas para as suas empresas. No entanto, quase metade das organizações continua sem ter uma estratégia definida para a implementação desta tecnologia.
“O potencial económico da Agentic AI é significativo, mas a sua concretização exige mais do que só tecnologia. É preciso uma transformação estratégica e abrangente das organizações que inclui as pessoas, os processos e os sistemas”, explica Franck Greverie, Chief Portfolio & Technology Officer, Head of Global Business Lines e Executive Board Member do Grupo Capgemini, sublinhando que, “para serem bem-sucedidas neste novo contexto, as empresas deverão manter o foco nos resultados, mas repensar os seus processos com uma abordagem de ‘AI-first’. Gerar confiança na IA é essencial para assegurar esta transformação, garantindo que os sistemas e as respetivas aplicações da inteligência artificial se desenvolvem de forma responsável e que ética e segurança estão integradas neste processo desde o início. O que significa que as empresas também terão de se reorganizar para promoverem uma colaboração eficaz entre seres humanos e IA, criando as condições para que estes sistemas possam contribuir para melhorar a avaliação humana e o desempenho económico das empresas”.
Transparência
A confiança nos sistemas de IA totalmente autónomos (Agentic AI) registou uma quebra significativa no último ano, passando de 43% para os 27%. Quase dois em cada cinco dos inquiridos para o estudo adiantaram que os riscos envolvidos na implementação da Agentic AI são superiores aos benefícios que se poderão alcançar. Só 40% das empresas revelaram confiar nos sistemas de inteligência artificial para gerirem tarefas e processos de forma autónoma. A maioria desconfia desta tecnologia.
Contudo, o estudo revela que, à medida que as empresas avançam e passam da fase de exploração para a fase de implementação, a confiança nesta tecnologia aumenta substancialmente: 47% das empresas em fase de implementação confiam mais na Agentic AI do que a média, e por comparação com 37% das organizações que está nas fases exploratórias. Neste sentido, e como forma de impulsionar a adoção desta tecnologia em larga escala, as empresas privilegiam a transparência, a clareza na forma como os agentes de IA tomam decisões e a inclusão de salvaguardas éticas nestes processos.
Química entre seres humanos e IA
A verdadeira promessa da Agentic AI reside na sua enorme capacidade de enfrentar os principais desafios de negócio e de repensar a forma como o trabalho é realizado. Nos próximos 12 meses, mais de 60% das empresas preveem formar equipas que integrem seres humanos e agentes de IA, que irão funcionar como subordinados ou como potenciadores das aptidões humanas. Assim sendo, os agentes de IA vão deixar de ser simples ferramentas para passarem a participar ativamente nas equipas das empresas.
70% das empresas acredita que os agentes de IA vão exigir uma reestruturação organizacional, fazendo com que os líderes repensem as funções, as estruturas das equipas e os fluxos de trabalho. Por outro lado, as empresas têm vindo a constatar que os agentes de IA oferecem mais valor acrescentado quando os seres humanos estão envolvidos de forma contínua nos processos. Com a colaboração efetiva entre seres humanos e IA, as empresas preveem que o envolvimento humano em tarefas de alto valor acrescentado venha a aumentar em 65%; mais 53% no que diz respeito à criatividade; e que impulsionem em mais 49% o nível de satisfação dos colaboradores.
Agora é o momento de escalar
No valor de 450 mil milhões de dólares que os agentes de IA podem gerar até 2028, estão incluídos quer o aumento de receitas, quer a redução dos custos, impulsionados pela implementação de agentes parcial ou totalmente autónomos. A adoção em larga escala tem um potencial muito maior: as empresas com implementações em larga escala deverão vir a gerar em média um valor acrescentado de 382 milhões de dólares nos próximos três anos, enquanto que aquelas que não o fizerem ficarão por um valor médio de 76 milhões de dólares.
Prevê-se que num futuro próximo, a Agentic IA seja sobretudo adotada em larga escala no atendimento ao cliente, nas TI e nas vendas, expandindo-se posteriormente para as áreas de operações, I&D e marketing nos próximos três anos. No entanto, a maioria das implementações ainda está num estágio inicial no que diz respeito à autonomia. Atualmente, apenas 15% dos processos empresariais são parcial ou totalmente autónomos. Esta percentagem deverá aumentar para os 25% até 2028. Para já, a maioria dos agentes funciona como assistentes ou copilotos, apoiando tarefas de rotina em vez de gerir fluxos de trabalho complexos de forma independente.
A preparação para a IA continua a ser um desafio
Segundo o estudo, a maioria das organizações ainda não está preparada para escalar a Agentic AI de forma eficaz. Efetivamente, cerca de 80% das empresas não possuem uma infraestrutura de IA suficientemente madura e menos de uma em cada cinco está preparada para lidar com os dados.
As preocupações éticas – tais como a privacidade dos dados, o viés dos algoritmos e a falta de esclarecimentos, continuam a ser generalizadas. Ainda assim, são poucas as empresas que estão a tomar medidas concretas para ultrapassar esta situação. Por exemplo, a privacidade é a principal preocupação de 51% das empresas, mas apenas 34% afirmaram que estão a tomar medidas para reduzir os riscos neste contexto. Tal situação está intimamente relacionada com o facto de apenas metade dos inquiridos ter revelado que entende quais são as reais funcionalidades dos agentes de IA, e ainda menos serem capazes de identificar as áreas onde estes sistemas têm um desempenho superior ao oferecido pela automação tradicional.
O estudo recomenda que as empresas, para aproveitarem todo o potencial disponibilizado pelos agentes de IA, devem ultrapassar o entusiasmo inicial e trabalhar na reestruturação de processos, na reformulação dos modelos de negócio, na transformação das estruturas organizacionais e no equilíbrio entre a autonomia dos agentes e o envolvimento dos seres humanos.