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Portugal está a caminho de falhar a meta europeia de reciclagem de embalagens definida para 2025, um cenário que levou o Electrão a lançar uma nova campanha nacional de sensibilização, intitulada “Atrasados ambientais”. Recorrendo ao humor como forma de choque de realidade, a iniciativa pretende expor o atraso do país nesta área e mobilizar os cidadãos para a separação correta de resíduos.
Os dados mais recentes da reciclagem de embalagens em Portugal revelam um progresso insuficiente face às exigências europeias. Em 2024, foram encaminhadas para reciclagem 477 mil toneladas de embalagens, o que correspondeu a uma taxa de retoma de 58,6%. Embora este valor tenha permitido cumprir a meta de 55% em vigor nesse ano, ficou aquém do novo patamar de 65% que passou a ser obrigatório a partir de 2025.
Em 2025, até ao final de novembro, as quantidades de embalagens enviadas para reciclagem rondaram as 493 mil toneladas. Mantendo-se este ritmo, a taxa de reciclagem deverá situar-se nos 61% no final do ano, o que confirma o incumprimento da meta europeia, apesar do reforço do investimento na recolha e na triagem.
O desafio torna-se ainda mais exigente quando se olha para o horizonte de 2030. Bruxelas estabelece uma meta mínima de 70% de reciclagem global de embalagens até ao final da década, o que implicará um esforço significativo e continuado por parte de Portugal para recuperar o atraso acumulado.
No contexto europeu, o país surge em 21.º lugar no ranking da taxa de reciclagem de embalagens, abaixo da média da União Europeia, segundo dados do Eurostat de 2023. Apesar de gerar níveis de resíduos de embalagens próximos da média comunitária, Portugal não consegue convertê-los em reciclagem ao ritmo exigido pelas novas metas.
Este atraso é agravado por fragilidades estruturais na gestão de resíduos urbanos. A taxa de reciclagem destes resíduos mantém-se em torno dos 30%, muito abaixo da média europeia, que ronda os 50%. Mais de metade dos resíduos urbanos continuam a ter como destino final o aterro, uma situação considerada crítica pelo Plano de Ação TERRA. Dos 35 aterros existentes no país, apenas 13 dispõem de mais de 20% de capacidade disponível, e vários poderão atingir o limite até 2027 se não forem adotadas medidas urgentes.
“Estamos com metas mais exigentes, mais embalagens a entrar no mercado, aterros perto do limite e um crescimento muito tímido das taxas de reciclagem. Em linguagem simples, estamos atrasados em relação à Europa e às obrigações que assumimos”, alerta Pedro Nazareth, CEO do Electrão, que acrescenta que “se não acelerarmos agora, não será apenas a meta de 2025 que fica em risco, mas todo o caminho até 2030”.
É neste contexto que surge a campanha “Atrasados ambientais”. Através de situações do quotidiano, exploradas em televisão, rádio, meios digitais e exteriores, o Electrão chama a atenção para comportamentos incorretos, como a deposição de embalagens no lixo indiferenciado, sublinhando que a soma destes gestos contribui para o atraso do país.
A campanha, desenvolvida pela agência O Escritório, com planeamento de meios da Nova Expressão, aposta num tom desconcertante e irónico para gerar desconforto saudável e provocar reflexão. “Se o facto de Portugal não estar no grupo da frente da reciclagem ferir um pouco o nosso orgulho, tanto melhor. É esse incómodo que queremos transformar num impulso para mudar comportamentos”, explica Pedro Nazareth.
Visualmente, a iniciativa introduz um novo verde elétrico, mais intenso, que reforça a urgência da mensagem e funciona como um sinal de alerta. O objetivo é claro: retirar Portugal do grupo dos “atrasados ambientais” e aproximá-lo dos países que lideram a reciclagem e a transição para uma economia mais circular.
Com esta campanha, o Electrão pretende não apenas alertar para o incumprimento iminente das metas europeias, mas também reforçar a ideia de que a reciclagem começa em casa e depende de escolhas individuais que, em conjunto, podem fazer a diferença no futuro ambiental do país.
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