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Segundo os primeiros resultados do inquérito pan-europeu às Condições de Trabalho de 2024, divulgado pelo Eurofound, os trabalhadores da Europa continuam a dar prioridade à segurança, à confiança e ao bem-estar no trabalho, relegando o salário para segundo plano. Este estudo, que entrevistou mais de 36.000 profissionais de 35 países, traça um retrato abrangente da vida laboral no continente, revelando uma tendência geral de melhoria na qualidade do emprego, mas também expondo perspetivas divergentes perante as mudanças tecnológicas e desafios persistentes de saúde.
Apesar do avanço tecnológico, apenas 12% dos trabalhadores relatam utilizar ferramentas de inteligência artificial generativa nas suas funções, com diferenças acentuadas entre países. Nos países nórdicos e na Suíça, mais de 20% dos profissionais já recorrem a estas ferramentas, enquanto em Portugal, Itália, Grécia e vários países dos Balcãs, esse número não ultrapassa os 5%. A tecnologia, segundo o relatório, tende a criar mais tarefas do que elimina e incentiva a maior interação entre colegas.
O modelo híbrido de trabalho consolidou-se como uma realidade permanente: 9% dos trabalhadores combinam tarefas presenciais e remotas, e 16% optam ocasionalmente pelo teletrabalho. Este cenário sublinha a flexibilidade crescente nos ambientes laborais europeus.
Aumenta a preocupação com o bem-estar
O bem-estar subjetivo dos trabalhadores europeus mantém uma progressão lenta, mas positiva, com uma média de 69,4 pontos em 2024 (numa escala de 0 a 100), face aos 68,7 registados em 2015. No entanto, por detrás destes números, persistem preocupações de saúde: o trabalho sedentário aumentou, com 40% dos profissionais sentados durante períodos prolongados, e a exposição ao calor é significativa em setores como agricultura (68%), construção (52%), indústria e transportes (33%).
As questões musculoesqueléticas continuam a ser o problema de saúde mais prevalente, com uma diferença de género notória: as mulheres reportam mais frequentemente dores de cabeça e ansiedade. Nos sectores dos transportes, saúde, agricultura e indústria, até um terço dos trabalhadores afirma sofrer impactos negativos na saúde devido ao trabalho.
A energia e entusiasmo dos trabalhadores, indicadores do seu envolvimento, registaram uma ligeira descida desde 2015. O número de profissionais que desempenham tarefas monótonas cresceu de 40% (em 1995) para 48%. A motivação varia substancialmente entre países: na Irlanda, 80% dos profissionais sentem-se motivados pela sua organização, enquanto na Dinamarca, Países Baixos e Áustria esse valor ronda os 78%. Em contrapartida, menos de metade dos trabalhadores na Chéquia, Grécia e Chipre afirma sentir-se motivada.
Segurança e confiança ganham destaque
Contrariando a crença comum de que o salário é o fator mais importante, o estudo mostra que a segurança para a saúde mental e física, bem como um ambiente de confiança, são os aspetos mais valorizados pela maioria dos trabalhadores europeus. Embora o salário e os benefícios mantenham relevância, verifica-se uma clara divisão por género e faixa etária: homens entre os 16 e os 54 anos tendem a priorizar o salário, enquanto as mulheres da mesma faixa valorizam sobretudo um ambiente seguro.
A trajetória rumo à igualdade de género nas empresas permanece lenta. O estudo revela que um ambiente de trabalho verdadeiramente equilibrado em termos de género continua a ser exceção e que pouco progresso foi feito nos últimos 25 anos, especialmente ao nível da gestão.
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