Miguel Castro Neto
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Inteligência artificial e agricultura digital: Miguel Castro Neto aponta caminhos na Agroglobal

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A digitalização e a inovação tecnológica estão a redesenhar o sector agroalimentar, mas a transformação ainda enfrenta obstáculos significativos. A ideia foi defendida por Miguel Castro Neto, diretor da NOVA Information Management School (NOVA IMS), durante a Agroglobal, feira agrícola realizada no CNEMA, em Santarém, no âmbito de uma conferência organizada pela Confagri sobre “O futuro digital nas organizações do sector agroalimentar”.

Apesar dos avanços tecnológicos, o diretor da NOVA IMS considera que a agricultura continua a enfrentar dificuldades em tirar o máximo partido da digitalização. “O conceito de agricultura de precisão já existe há 40 anos, mas ainda trabalhamos com peças soltas de um puzzle que não encaixam. Falta a visão integrada, a capacidade de ver o big picture”, afirmou.

Embora existam já sensores, drones, imagens de satélite e softwares avançados no terreno, a sua aplicação prática permanece limitada. “Os dados existem, mas não estão organizados nem cruzados com a gestão operacional. Muitas vezes continuam em cadernos de campo ou em sistemas desatualizados”, lamentou.

Miguel Castro Neto destacou também a importância de aplicar conceitos de economia circular ao sector agrícola. “Hoje já encontramos tratores disponíveis não para compra, mas para aluguer por hora ou por mês. Esta lógica pode estender-se ao conhecimento: partilhar dados e informação em vez de os reter, transformando-os em valor coletivo”.

O desafio dos dados: recolher é fácil, governar é difícil

Na perspetiva do professor, o grande entrave da digitalização está na governação dos dados. “Temos extraordinárias capacidades de recolha e análise, mas não conseguimos transformar isso em valor. Precisamos de dados de mercado, de tendências globais, de resultados de investigação, e de bases de conhecimento estruturadas e partilhadas”, defendeu.

Nesse campo, destacou iniciativas como o Observatório Nacional da Produção Biológica, o Observatório Nacional da Desertificação, o RuralDados.pt e o Akis Portugal, um sistema de conhecimento e inovação da agricultura nacional que reúne todos os atores do sector agrícola e florestal em prol da modernização das zonas rurais e partilha de conhecimentos, inovação e digitalização na agricultura e nas zonas rurais. “São passos importantes, mas ainda insuficientes para o potencial que temos ao nosso alcance.”

Inteligência artificial: disrupção instantânea

Um dos pontos mais sublinhados foi o impacto da Inteligência Artificial Generativa, como o ChatGPT. “Esta tecnologia não teve curva de adoção. Foi uma linha vertical. De repente, todos passaram a usá-la. E pela primeira vez temos uma ferramenta conversacional, intuitiva e capaz de trabalhar com qualquer tipo de dados: texto, imagem, áudio ou vídeo”.

O investigador apresentou exemplos concretos de utilização da IA na agricultura: análise de imagens de campos para detetar padrões de produtividade, previsão de rendimentos agrícolas a partir de dados meteorológicos e até identificação de doenças em plantas a partir de fotografias.

Mas, a par das oportunidades, existem riscos. “Quando usamos ferramentas de IA sem controlo, corremos o perigo de expor informação sensível das organizações. Já houve casos de colaboradores que, ao testar copilotos de IA, revelaram dados internos como remunerações de administradores”, alertou.

Outro problema é o chamado “Dead Internet”, fenómeno em que uma parte crescente da informação online é produzida não por humanos, mas por algoritmos. “Se as bases de conhecimento não forem curadas, corremos o risco de ter respostas baseadas em conteúdos artificiais, pouco fiáveis e até enganadores”.

Na reta final, Miguel Castro Neto revelou que a NOVA IMS está envolvida em projetos como o Agonomia 4.0, que utiliza repositórios de conhecimento validados (como o AKRIS) para treinar chatbots especializados no sector agrícola. “O objetivo é claro: garantir que agricultores e empresários têm acesso a informação fidedigna, útil e contextualizada. Só assim conseguimos transformar a imensa capacidade tecnológica de hoje em valor real para toda a cadeia agroalimentar”, concluiu.

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