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O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Álvaro Mendonça e Moura, deixou um aviso claro durante a sua intervenção num debate promovido, na Agroglobal, pelo UNAC, subordinado ao tema “Sem rentabilidade não há floresta”: a floresta portuguesa só poderá ter futuro se for tratada como uma atividade económica viável. “Sem retorno económico não há incentivo à boa gestão. Não é só não há incentivo à boa gestão, não há gestão. Não há gestão, há abandono”, afirmou.
O dirigente sublinhou que 80% da floresta nacional se localiza em territórios de baixa densidade, o que a torna um elemento central para a coesão territorial. “Não nos venham falar de coesão territorial sem falar em floresta. É impossível”, reforçou, acrescentando que o abandono das áreas florestais compromete não apenas o desenvolvimento do interior, mas também os objetivos ambientais e climáticos do país.
Apesar de o setor apresentar um saldo comercial positivo – que em 2024 superou os 3 mil milhões de euros, impulsionado pelo papel, cartão e cortiça –, os produtores queixam-se da falta de remuneração justa. Segundo dados citados por Álvaro Mendonça e Moura, o preço da cortiça caiu de 42,5 euros em 2023 para 34,3 euros em 2024, enquanto os custos de extração aumentaram. “É impossível convencer as novas gerações a investir na floresta se isso significar perder dinheiro”, lamentou.
Impossível cumprir as metas europeias
O presidente da CAP destacou ainda que Portugal não conseguirá cumprir as metas europeias de neutralidade carbónica e restauro da natureza sem o envolvimento ativo dos produtores florestais. A União Europeia exige que até 2030 os Estados-membros restaurem pelo menos 30% dos habitats degradados, mas no caso português, apenas 2% da floresta é pública. “Não há nenhuma possibilidade de Portugal cumprir as metas europeias se não houver envolvimento dos produtores florestais portugueses. O resto são discursos”, criticou.
Álvaro Mendonça e Moura chamou também a atenção para a valorização social e ambiental das áreas florestais, vistas pela sociedade como espaços de lazer e preservação. Contudo, alertou que esse usufruto não pode ser dissociado da necessidade de garantir rentabilidade aos proprietários. “Os serviços de ecossistema têm de ser pagos de forma justa e apelativa para o produtor florestal”, defendeu.
O responsável reiterou a importância de políticas consistentes e estáveis que incentivem a boa gestão e a resiliência das florestas, recordando o Plano de Intervenção para a Floresta 2025-2050. “Não tenho críticas ao plano, tal como não tenho críticas ao novo aeroporto de Lisboa. A minha crítica é simples: não existe. Só acredito quando vir as máquinas no terreno”, ironizou.
A mensagem foi clara: sem medidas concretas que garantam rentabilidade e envolvimento dos produtores, a floresta portuguesa continuará vulnerável ao abandono, aos incêndios e ao incumprimento das metas ambientais. “Sem rentabilidade, não há sustentabilidade”, concluiu.
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